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A cobertura de gelo marinho na Antártida neste verão atingiu o menor nível desde que tiveram início as medições por satélite em 1979. Foi o segundo ano seguido com recorde de mínimo anual de gelo marinho no continente, o que faz com que cientistas se indaguem se é período anômalo ou uma nova tendência pelas mudanças climáticas.

Cobertura de gelo marinho ao redor do continente antártico atingiu o menor valor anual desde que se iniciaram as medições em 1979 e cientistas ainda não sabem se o dado reflete uma tendência | JOHAN ORDONEZ/AFP/METSUL METEOROLOGIA

Cientistas do NSIDC (Centro Nacional de Gelo e Neve dos Estados Unidos) destacaram que este último dado é preliminar, pois ainda pode ocorrer um novo degelo no fim da estação, e disseram que irão publicar um número definitivo sobre a extensão do gelo na Antártida no começo de março.

O degelo marinho expõe as plataformas de gelo mais espessas, que sustentam a cobertura gelada do solo antártico a ondas e temperaturas mais altas, embora não tenha impacto perceptível no nível do mar, porque o gelo já está no oceano.

No entanto, a plataforma de gelo, uma geleira espessa de água doce que recobre a Antártida, é objeto de atenção especial de parte dos cientistas, pois contém água suficiente para provocar, se derreter, um aumento catastrófico do nível dos oceanos.

Em 21 de fevereiro de 2023, o gelo marinho na Antártica atingiu uma extensão mínima anual de 1,79 milhão de quilômetros quadrados, estabelecendo mínimo recorde no registro de satélites iniciado em 1979. O mínimo deste ano é de 1,05 milhão de quilômetros quadrados abaixo da extensão mínima média da Antártida de 1981 a 2010.

Está ainda 136.000 quilômetros quadrados abaixo do recorde anterior de 25 de fevereiro de 2022. Quase todo o gelo restante está no mar de Weddell, com manchas isoladas ao longo das costas da princesa Astrid e da princesa Ragnild, e regiões do Leste de Wilkes Land e da baía de Pine Island.

A extensão mínima da Antártida foi alcançada três dias antes da data mediana de 1981 a 2010 de 24 de fevereiro. O intervalo interquartil para a data do mínimo da Antártida é de 20 a 27 de fevereiro.

Este ano marca um segundo recorde consecutivo de baixa na extensão do gelo do mar antártico. Nos últimos anos, 2017 e 2018 também atingiram níveis muito baixos, os terceiro e quarto menores, respectivamente.

Com essa série de anos de gelo marinho abaixo do normal no verão, é natural especular se há agora uma tendência de queda. No entanto, uma tendência calculada em um período de tempo tão curto não é especialmente significativa. Os anos de 2013 a 2015 registraram extensões mínimas quase recordes.

No geral, a tendência de queda na extensão mínima anual do gelo marinho da Antártida calculada sobre o registro completo do satélite é de 2.800 quilômetros quadrados por ano, ou 1,0% por década em relação à média de 1981 a 2010.

Esta tendência não é estatisticamente significativa. Isso contrasta fortemente com o Ártico, no Norte do planeta, onde a tendência no mínimo de gelo marinho é maior em magnitude e tem forte significância estatística.

“A resposta da Antártida às mudanças climáticas tem sido diferente da do Ártico”, afirmou Ted Scambos, pesquisador do Instituto Cooperativo para o Estudo em Ciências Ambientais (Cires). “A tendência à diminuição do gelo marinho pode ser um sinal de que o aquecimento global está, finalmente, afetando o gelo flutuante no entorno da Antártida, mas será preciso esperar vários anos para termos certeza disso”, acrescentou.

O ciclo antártico sofre grandes variações anuais durante seus verões de degelo e invernos de congelamento, e o continente não experimentou o rápido degelo das quatro últimas décadas registrado nas plataformas de gelo da Groenlândia e do Ártico devido ao aquecimento global.

Mas a alta taxa de degelo desde 2016 gera temores de que esteja se consolidando uma tendência de declínio importante. O degelo marinho é problemático, porque ajuda a acelerar o aquecimento global. Quando o gelo marinho – que reflete de volta para o espaço até 90% da energia solar – é substituído por um mar escuro e descongelado, a água absorve, ao contrário, um percentual similar de calor do sol.