As geleiras suíças perderam a metade de seu volume desde 1931, segundo um estudo publicado nesta segunda-feira por cientistas que reconstituíram pela primeira vez o fenômeno no século 20. O degelo dos Alpes, que os especialistas atribuem ao aquecimento global, está sendo rigorosamente monitorado desde o início dos anos 2000.

Os pesquisadores, contudo, não sabiam muito sobre sua evolução nas décadas anteriores, pois somente algumas geleiras eram acompanhadas de perto. Para compreender melhor sua evolução, pesquisadores da Escola Politécnica Federal de Zurique (EPFZ) e do Instituto Federal de Pesquisa em Florestas, Neve e Paisagem (WSL) fizeram a reconstituição da topografia do conjunto de geleiras suíças que existia em 1931.

Combinação de duas fotografias mostra o Glaciar Rhone, perto de Gletsch, com uma parte coberta com espuma isolante para evitar que derreta devido ao aquecimento global em 14 de julho de 2015 (acima) e o mesmo local em 8 de julho de 2022 (abaixo). | FABRICE COFFRINI/AFP/METSUL METEROLOGIA

“Com base nas reconstruções e comparando com os dados dos anos 2000, os pesquisadores concluíram que o volume das geleiras se reduziu à metade entre 1931 e 2016”, indicaram a EPFZ e o WSL em nota. O estudo, publicado na revista científica La Cryosphère, indica que os especialistas recorreram à imagens de arquivo (21.700 fotografias tiradas entre 1916 e 1947) que cobriam 86% da superfície glaciar suíça;

Os cientistas fizeram ainda uso de técnica que facilita determinar a natureza, forma e posição de um objeto graças a imagens. “Se conhecemos a topografia da superfície de uma geleira em dois momentos diferentes, podemos calcular a diferença de volume de gelo”, declarou o autor principal do estudo, Erik Schytt Mannerfelt, em nota.

O glaciar Fiescher, do qual só restaram algumas pequenas marcas brancas em 2021, fazia parte de uma enorme massa de gelo em 1928. Segundo os cientistas, as geleiras não retrocederam de maneira contínua no último século e inclusive tiveram crescimento de suas massas nos anos 1920 e 1980.

“Nossa comparação entre os anos 1931 e 2019 mostra claramente que houve um importante retrocesso glaciar durante este período”, indicou um dos autores do estudo, Daniel Farinotti, professor de glaciologia na EPFZ e no WSL.

Se as geleias suíças perderam 50% de seu volume entre 1931 e 2016, levaram apenas seis anos – entre 2016 e 2022 – para perder 12%, de acordo com a rede suíça de pesquisa de geleiras GLAMOS. Para Farinotti, a evidência é irrefutável: “O recuo das geleiras está se acelerando”, disse.