Fumaça vinda da região amazônica cobriu grande parte do Sul do Brasil nesta sexta-feira e até trouxe redução de visibilidade em algumas cidades do Noroeste gaúcho e do Paraná, onde a concentração de material particulado era maior na atmosfera. A fumaça atingiu ainda parte do estado de São Paulo e foi densa com visibilidade reduzida em parte do Centro-Oeste, como em pontos do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul.

Corredor de fumaça muito densa da Amazônia ao Sul do Brasil | NOAA

O corredor de fumaça foi trazido para o Sul por uma grande corrente de jato em baixos níveis, um corredor de vento a cerca de 1.500 metros de altitude, que se originava no Sul da Amazônia e descia até o território gaúcho. Foi este corredor de vento quente e seco, carregado de fumaça, que fez com que o dia fosse quente no Rio Grande do Sul com máximas acima de 33ºC na área metropolitana de Porto Alegre.

Normalmente, nesta época do ano, estes corredores de fumaça alcançam o Sul do Brasil. Isso se dá quando as correntes de vento passam a ser de Norte, especialmente horas da chegada de uma frente fria, como era o caso de hoje. Às vezes, a fumaça da Amazônia desce até mais ao Sul e alcança a região de Buenos Aires e mais raramente o Norte da Patagônia.

Diferentemente da região amazônica, onde a fumaça atua mais perto da superfície e traz piora da qualidade do ar com problemas respiratórios para a população local, no Sul do Brasil está na maioria das vezes em suspensão na atmosfera e seus efeitos se percebem pelo tom mais acinzentado do céu com um aspecto fosco e ainda por cores realçadas do sol ao amanhecer e no fim da tarde.  Hoje, porém, em algumas cidades do Sul do Brasil a fumaça estava em níveis mais baixos e podia ser percebida com aspecto de nevoeiro e com odor de fuligem.

O efeito da fumaça foi perceptível no Rio Grande do Sul em grande número de cidades da Metade Norte, onde o tempo esteve mais aberto nesta sexta. Assim como em diversos pontos dos estados catarinense e paranaense. Vários pontos que deveriam estar com céu azul pelo ar seco e quente pré-frontal mal conseguiam enxergar o sol, tamanha era a quantidade de fumaça no ar.

Em Porto Alegre, semelhante ao que ocorreu em 19 de agosto de 2019 na cidade de São Paulo, a fumaça acentuou a redução da visibilidade trazida pelas nuvens carregadas na chegada da frente fria e anoiteceu mais cedo na capital gaúcha com escuridão em pleno horário das 16h. Aa nuvens carregadas naturalmente já escureceriam o céu, mas a redução da luminosidade acabou sendo maior pela fumaça que horas antes quase não permitiria se enxergar o sol.

É sabido que a presença de fumaça na atmosfera inibe maior aquecimento assim que poderia ter aquecido ainda mais no Rio Grande do Sul hoje não fosse a presença do material particulado trazido pelas correntes de vento do quadrante Norte. Não será surpresa que, com a chuva depositando a fuligem presente na atmosfera, piscinas ou baldes que receberam água da chuva hoje aparecem escuros neste sábado. A atmosfera, porém, vai ficar livre de fumaça neste sábado na maior parte do Sul do país com o domínio do ar frio vindo de Sul.

O caminho da fumaça

Imagens de sensores de aerossóis confirmam que muita fumaça cobria parte do Sul do Brasil hoje. Em algumas áreas, as nuvens impediam o registro dos aerossóis pelo satélite. A pedido da MetSul, a divisão de aerossóis da NOAA, a agência climática norte-americana, gerou imagem dos sensores ABI de aerossóis de profundidade ótica do satélite GOES-16 entre 10h e 13h de hoje.

O marrom na imagem de satélite mostra uma alta densidade de aerossóis, o que se verifica quando há muita fumaça. Mesmo áreas que aparecem em cinza no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, pela presença de nuvens que impede o registro dos aerossóis, havia fumaça nesta sexta.

A imagem deixa evidente que o corredor de fumaça que alcançou o Sul do Brasil veio principalmente de fogo na Amazônia do Brasil e de países vizinhos e que possivelmente foi reforçada no caminho por fumaça de queimadas no Centro-Oeste (Sul da Amazônia, Cerrado e Pantanal).

Mais de 20 mil focos neste mês na Amazônia

Setembro de muito fogo na Amazônia O número de focos de calor na Amazônia brasileira, nos primeiros oito dias do mês, chegou a 20.261, o que é superior à metade da média histórica (1998-2021) de setembro inteiro que é de 32.110. Os dias 2, 3 e 4 deste mês registraram mais de 3 mil focos diários.

A Amazônia não tinha um começo de setembro com tanto fogo desde 2007. Os piores anos de queimadas na região se deram entre 2002 e 2007. Em 2002, agosto terminou com 43.484 focos. Em 2003, 34.765. Já em 2004, 43.320. Em 2005, o recorde da série histórica do mês com 63.764. Em 2006, 34.208. E, por fim, 2007 com 46.385 focos de calor em agosto. Em 2011, o menor número em agosto com 8.002 focos.

O número de focos de calor somente nos primeiros oito dias deste mês no Amazonas de 4.415 supera em muito a média histórica de setembro de 2.768. O mês se encaminha para ser o pior setembro de fogo já registrado no Amazonas, batendo por enorme margem o recorde mensal de setembro de 2015 com 5.004.

No Acre, dos dias 1 a 8 setembro, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, 3.572 focos de calor. O valor supera a média do mês histórica do mês todo de 3.224. O Pará, nos primeiros oito dias do mês, teve 6.112 focos, marca acima da metade da média mensal de 9.103. Em Rondônia, os primeiros sete dias do mês anotaram 2.960 focos e a média histórica mensal é de 6.974.