Centenas de milhares de pessoas deixaram as costas de Mianmar e Bangladesh neste sábado, horas antes da chegada do ciclone mais poderoso na região em mais de uma década e que estava na Baía de Bengala. O ciclone Mocha se intensificou e estava com ventos de até 240 km/h.

Uma garota em tuk tuk durante a evacuação em Sittwe, no estado de Rakhine, em Mianmar, neste sábado, antes da chegada do ciclone Mocha. Espera-se que o ciclone Mocha atinja a costa amanhã entre Cox’s Bazar, em Bangladesh, onde quase um milhão de refugiados rohingya vivem em acampamentos compostos em grande parte por abrigos precários, e Sittwe, na costa ocidental de Rakhine, em Mianmar. | SAI AUNG MAIN/AFP/METSUL METEOROLOGIA

A força da tempestade era equivalente a de um furacão no alto da categoria 4 da escala Saffir-Simpson, porém  a previsão era que poderia enfraquecer um pouco antes de atingir a costa na manhã de domingo entre Cox’s Bazar, onde quase um milhão de refugiados rohingya vivem em acampamentos compostos em grande parte por abrigos frágeis, e Sittwe, na costa Oeste de Rakhine, em Mianmar.

As autoridades de Bangladesh transferiram 190 mil pessoas em Cox’s Bazar e quase 100 mil em Chittagong para um local seguro, disse à agência AFP o comissário divisional Aminur Rahman no sábado. “Eles foram evacuados para cerca de 4.000 abrigos contra ciclones”, disse ele.

Os meteorologistas em Dhaka previam uma maré de tempestade de quase quatro metros de altura, que poderia inundar aldeias costeiras e ribeirinhas baixas. Do outro lado da fronteira, os moradores de Sittwe empilharam pertences e animais de estimação em carros, caminhões e tuk-tuks e se dirigiram para terrenos mais altos no sábado, disseram os repórteres da AFP.

“Temos nossa avó em nossa família e temos que cuidar dela”, disse Khine Min à AFP em um caminhão lotado com seus parentes em uma estrada que sai da capital do estado. “Só resta um homem em Sittwe para cuidar de nossas casas.”

Lojas e mercados na cidade de cerca de 150 mil habitantes foram fechados, com muitos moradores se abrigando em mosteiros. Kyaw Tin, de 40 anos, disse que não poderia deixar a área porque seu filho estava em um hospital local. “Espero que este ciclone não chegue aqui. Mas se esse destino acontecer, não podemos ignorá-lo”, contou. “Estou preocupado que este ciclone atinja nosso estado assim como Nargis afetou”, acrescentou ele, uma tempestade de 2008 que matou mais de 130 mil pessoas.

As autoridades da junta militar de Mianmar estavam supervisionando as evacuações de aldeias ao longo da costa de Rakhine, informou a mídia estatal. A Myanmar Airways International disse que todos os seus voos para o estado de Rakhine foram suspensos até segunda-feira. A Cruz Vermelha de Mianmar informou que estava “se preparando para uma grande resposta de emergência”.

Em Bangladesh, as autoridades proibiram os refugiados rohingya de construir casas de concreto, temendo que isso possa incentivá-los a se estabelecer permanentemente em vez de retornar a Mianmar, de onde fugiram há cinco anos, após uma brutal repressão militar.

“Vivemos em casas feitas de lona e bambu”, disse o refugiado Enam Ahmed, no campo de Nayapara, perto da cidade fronteiriça de Teknaf. “Estamos com medo. Não sabemos onde seremos abrigados”. Os acampamentos geralmente ficam um pouco no interior, mas a maioria deles é construída em encostas, expondo-os à ameaça de deslizamentos de terra.

Os meteorologistas esperam que o ciclone traga um dilúvio de chuva, o que pode provocar deslizamentos de terra. As autoridades começaram a evacuar os refugiados rohingya de “áreas de risco” para centros comunitários e estruturas mais sólidas, como escolas, mas o vice-comissário de refugiados de Bangladesh, Shamsud Douza, disse à AFP que “todos os rohingyas nos campos estão em risco”.

Pessoas fogem de Sittwe, no estado de Rakhine, em Mianmar, nas horas que antecedem a chegada do ciclone Mocha. A tempestade pode elevar o mar em até três a quatro metros na costa, inundando áreas do litoral e de baixa altitude longe da praia. | SAI AUNG MAIN/AFP/METSUL METEOROLOGIA

Centenas de pessoas também fugiram da ilha de Saint Martin, uma área de resort local bem no caminho da tempestade, com outras milhares se mudando para abrigos contra ciclones no afloramento de coral.

“O ciclone Mocha é a tempestade mais poderosa desde o ciclone Sidr”, disse à AFP Azizur Rahman, chefe do Departamento de Meteorologia de Bangladesh. Esse ciclone atingiu a costa Sul de Bangladesh em novembro de 2007, matando mais de 3 mil e causando prejuízos de bilhões de dólares.

Os rohingyas que vivem em campos de refugiados dentro de Mianmar também se preparam para a tempestade. “Estamos muito preocupados. Podemos estar em perigo se o nível da água aumentar”, disse um líder de campo perto de Kyaukphyu, no estado de Rakhine, que pediu para não ser identificado por medo de repercussões da junta.

“Há cerca de 1.000 pessoas no acampamento… As autoridades só nos deram sacos de arroz, óleo e cinco coletes salva-vidas. As autoridades locais não providenciaram nenhum lugar para nós”. As operações foram suspensas no maior porto marítimo de Bangladesh, Chittagong, com o transporte de barcos e a pesca também interrompidos.