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Grande parte dos Estados Unidos enfrenta um mês de janeiro com frio muito intenso e temperaturas abaixo a muito abaixo da média em diversos estados a ponto de poderosa incursão de ar polar continental vinda do Ártico ter provocado uma tempestade de neve sem precedentes em mais de um século no Sul do país.

Maior tempestade de inverno em mais de um século atingiu a costa do Golfo do México do Sul do Texas ao Norte da Flórida | MICHAEL DEMOCKER/GETTY IMAGES/AFP/METSUL METEOROLOGIA

A Costa do Golfo do México, do Texas ao Norte do estado da Flórida, enfrentou uma tempestade de neve sem precedentes em mais de um século, que quebrou recordes históricos e paralisou regiões pouco acostumadas a condições severas de inverno.

Este evento único em mais de uma geração resultou em grandes transtornos, incluindo fatalidades, desafios de infraestrutura e apagões generalizados. Embora a tempestade tenha causado dificuldades significativas, ela também proporcionou encantamento para milhões de pessoas que jamais tinham visto uma grande nevada em suas cidades.

A tempestade de neve foi causada por um vórtice polar que permitiu que o ar gelado do Ártico penetrasse nos Estados Unidos com o ar excepcionalmente frio chegando ao Sul norte-americano.

A massa de ar frio interagiu com uma área de baixa pressão que impulsionou umidade das quentes águas Golfo do México, resultando em uma quantidade substancial de neve em estados como Texas, Louisiana, Mississippi, Alabama e Flórida.

De acordo com o Serviço Nacional de Meteorologia dos Estados Unidos (NWS), a combinação dessas condições atmosféricas criou uma “tempestade perfeita” para neve intensa e temperaturas congelantes em áreas que raramente enfrentam esse tipo de condições meteorológicas.

Alertas de nevasca foram emitidos para regiões que nunca haviam experimentado tais condições, e os moradores foram orientados a tomar precauções. A Costa do Golfo geralmente está protegida de tempestades de inverno severas devido ao seu clima quente e à influência moderadora das águas aquecidas do Golfo do México.

No entanto, a intensidade dessa tempestade foi amplificada por um padrão de corrente de jato estagnado que permitiu que o ar frio permanecesse e interagisse com o ar úmido do Golfo por um período prolongado.

O resultado foi um evento raro e poderoso com quantidades de neve jamais vistas em diversas localidades desde o século 19, quebrando não apenas recordes de décadas, mas sim trazendo marcas inéditas em mais de um século.

A tempestade estabeleceu novos recordes de acumulação de neve em várias localidades, com medições refletindo a natureza sem precedentes do evento. Milton, na Flórida, registrou 24,9 cm de neve, superando o recorde anterior de neve do estado de 1954.

Pensacola, também na Flórida, teve a maior neve da sua história com acumulação de 19 cm que superou o recorde anterior de 7,6 cm, de 1895. O Aeroporto Internacional de Pensacola registrou ainda mais neve com 22,6 cm. A capital do estado da Flórida teve 5 cm registrados por observadores treinados na área de Tallahassee.

Foi o maior acúmulo de neve já registrado na história moderna da região com praias que ficaram brancas pela neve e interrupções de estradas pela nevasca, o que não se tem na memória do estado da Flórida.

Nova Orleans, no estado da Louisiana, acumulou cerca de 25,4 cm de neve, quebrando o recorde da cidade de 1963 e causando grandes interrupções. Houston, no Sul do Texas, somou até 10,2 cm de neve, enquanto La Porte, nas proximidades, relatou 15,2 cm.

Mobile, no Alabama, acumulou 15,7 cm de neve, superando o recorde de 1881 e forçando o fechamento de estradas e pontes principais. Charleston, na Carolina do Sul, anotou 10,2 cm de neve, causando o fechamento de aeroportos e pontes. Babbie, no Alabama, relatou até 27,9 cm de neve, um dos maiores acúmulos do país durante este evento.

Nova Orleans teve a maior nevasca desde o século 19 | MICHAEL DEMOCKER/GETTY IMAGES/AFP/METSUL METEOROLOGIA

Paisagem ficou ireeconhecível em Nova Orleans | MICHAEL DEMOCKER/GETTY IMAGES/AFP/METSUL METEOROLOGIA

Áreas do estado da Lousiana, mais conhecido pelo calor e os furacões, tiveram até um pé (30 cm) de neve | MICHAEL DEMOCKER/GETTY IMAGES/AFP/METSUL METEOROLOGIA

De acordo com o Serviço Nacional de Meteorologia dos Estados (NWS), nevou mais na Flórida do começo do inverno – os norte-americanos consideram o começo do inverno climatológico em 1º de dezembro – até 22 de janeiro do que em Anchorage, a maior cidade do Alasca.

Nova Orleans é outra cidade que nevou mais até a semana que passou na estação que na cidade de Alasca. Aliás. recebeu mais do que o dobro da quantidade de neve que Anchorage neste inverno até 22 de janeiro.

Bairro francês nevado em Nova Orleans | MICHAEL DEMOCKER/GETTY IMAGES/AFP/METSUL METEOROLOGIA

Desde o início do inverno meteorológico, em 1º de dezembro, até 22 de janeiro, Anchorage teve apenas 9,6 cm de neve fresca, enquanto 30,4 cm caíram em pontos pertos de Nova Orleans. Pontos do Norte da Flórida e da Lousiana estavam com mais neve acumulada no inverno que as frias Minneapolis, Chicago, Salt Lake City, e Omaha.  Nova Orleans e o Panhandle (Noroeste) da Flórida receberam mais neve em um dia na terça-feira passada do que a fria cidade de Nova York nos últimos dois invernos somados.

Praia coberta de neve na costa do Golfo do México | CITY OF ORANGE BEACH

Praias cobertas de neve na Flórida | ALL THINGS EMERALD COAST

Esses totais de neve, combinados com temperaturas congelantes e condições de gelo, criaram situações perigosas para moradores e viajantes. Muitas regiões careciam de infraestrutura e recursos para lidar com condições de inverno tão severas, agravando os impactos da tempestade.

A nevasca e o gelo deixaram ao menos 12 fatalidades, principalmente devido a acidentes rodoviários e exposição ao frio extremo. Cerca de 38 milhões de pessoas foram alertadas sobre condições de viagem perigosas e frio extremo, o que levou ao fechamento generalizado de escolas e empresas. Quedas de energia afetaram mais de 150 mil residências em vários estados, deixando moradores sem aquecimento durante a onda de frio mais intensa de suas vidas.

Janeiro gelado nos Estados Unidos é um sinal para o nosso inverno?

O mapa de anomalia de temperatura deste mês de janeiro até agora nos Estados Unidos mostra que praticamente todos os estados a Leste da Montanhas Rochas enfrenta um mês de temperatura abaixo a muito abaixo da média com marcas acima da climatologia na Costa Oeste.

KARSTEN HAUSTEIN

Então, fica a pergunta: o frio nos Estados Unidos neste mês é de alguma forma um sinal para o nosso inverno de 2025 no Brasil? Teremos eventos extremos (para os nossos padrões climatológicos) também?

A MetSul Meteorologia observa há muito tendência de repetição de padrões do inverno da América do Norte meses depois no inverno do Sul do Brasil. Anos de eventos muito extremos de frio em janeiro e fevereiro, de caráter histórico, acabaram tendo depois nos meses do nosso inverno também eventos de grande intensidade e marcantes no Sul do Brasil.

Casos do ano de 1918, ano de inverno incrivelmente rigoroso nos Estados Unidos e que depois teve entre junho e julho neve na cidade de Buenos Aires e o recorde de mínima de toda a série histórica de Porto Alegre com -4ºC. Ou 1962 que foi outro ano congelante no Hemisfério Norte e após teve um inverno rigoroso no Sul do Brasil.

Enfatizamos, contudo, que o clima não é linear e que um ou dois eventos de frio mais extremos nos Estados Unidos não significam que haverá uma repetição do padrão aqui. É preciso ter em conta, em primeiro lugar, que o padrão geral de circulação na atmosfera hoje no mundo é um e no nosso inverno tende a ser diferente.

Hoje, a atmosfera está sob influência da La Niña, que impacta tanto o Brasil como os Estados Unidos, embora o padrão deste mês de janeiro nos Estados Unidos não seja o comumente observado sob o fenômeno e seja muito distinto. Já no inverno nosso, entre junho e agosto, o cenário mais provável hoje apresentado pelos dados indica o Pacífico em fase neutra, logo sem La Niña.

IRI/UNIVERSIDADE DE COLUMBIA

É necessário ter ainda em conta que estes eventos extremos de frio nos Estados Unidos foram episódicos e não contam a história de todo o inverno. Fevereiro não deve ser tão gelado no país da América do Norte e dezembro foi o quarto mais quente no registro de 130 anos.

O Arizona teve seu dezembro mais quente já registrado em 2024, enquanto Califórnia, Novo México, Texas e Oklahoma foram os segundos mais quentes já registrados. Wyoming teve seu segundo dezembro mais quente registrado, enquanto Montana e Texas tiveram o terceiro dezembro mais quente em relação às temperaturas noturnas (mínimas).

E o que os modelos mostram hoje para o nosso inverno?

Então, a maioria dos modelos de clima com projeções para meses à frente indica neste momento que o inverno no Centro-Sul do Brasil em 2025 deve ter temperatura perto e acima da média na maior parte das áreas. É o caso do modelo norte-americano CFS.

NOAA

É fundamental destacar que a maioria dos modelos de clima ainda hoje só tem projeções até junho ou julho, não compreendendo todo o trimestre de inverno, e que os indicativos podem sofrer alterações. O modelo de clima europeu, por exemplo, é um que ainda tem dados parciais do inverno e aponta marcas perto e acima da média em junho e julho.

METSUL

METSUL

O que pode ocorrer, e aí repetiria o padrão dos Estados Unidos, é um inverno com temperatura perto e acima da média, mas com eventos pontuais de frio intenso, um ou outro de maior duração, como se viu no final de junho e na primeira quinzena de julho de 2024.

No geral, pelos dados de hoje, não se observa uma probabilidade alta de uma estação fria com temperatura baixa persistente e sim a ocorrência de eventos episódicos de temperatura muito baixa com geada ampla e talvez neve.

Sobre neve, este é um fenômeno que por ser muito pouco frequente no Sul do Brasil não é possível fazer previsões climatológicas de tão longo prazo, somente sendo possível antecipar a possibilidade de tendências em mais curto prazo.

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