Frente fria acompanhada de um profundo centro de baixa pressão vai trazer uma nova rodada de chuva e tempestades no Sul do Brasil nesta segunda metade da semana. O Rio Grande do Sul vai voltar a ter um episódio de instabilidade generalizada com chuva em todas as regiões do estado, o segundo nesta semana.

Um novo episódio de chuva, no caso do Rio Grande do Sul, será extremamente benéfico porque ocorrerá imediatamente na sequência de um episódio de precipitação, ocorrido ontem, e que trouxe chuva para quase todo o estado e com altos volumes em algumas localidades. Porto Alegre, por exemplo, teve o maior volume de chuva em um dia dos últimos treze meses.

De acordo com dados de estações oficiais do Instituto Nacional de Meteorologia, a chuva somou somente ontem 81 mm em Canela; 64,8 mm em Porto Alegre; 50,8 mm em São José dos Ausentes; 40,2 mm em Santa Maria e Bento Gonçalves; 30,8 mm em Bagé; 29,8 mm em Ibirubá; 25,2 mm em Santa Rosa e 22,2 mm em São Luiz Gonzaga.

Já medições do Centro Nacional de Previsão de Desastres (Cemaden) indicaram acumulados de 98 mm em Eldorado do Sul; 87 mm em Porto Alegre (Restinga); 85 mm em Teutônia; 73 mm em Caxias do Sul; 70 mm em Venâncio Aires; 64 mm em Redentora; 57 mm em Estrela; 54 mm em Santa Maria; 53 mm em Alvorada, 52 mm em Taquari; 51 mm em Cruzeiro do Sul e em Bom Princípio; e 50 mm em Rosário do Sul.

Os dados do Cemaden apontaram ainda marcas ontem de 48 mm em Nova Santa Rita; 47 mm em Lajeado; 46 mm em Canoas; 45 mm em Segredo; 43 mm em Três Coroas e Nova Petrópolis; 40 mm em Viamão; 38 mm em Faxinal do Soturno, 37 mm em São Sebastião do Caí; 35 mm em Igrejinha; 34 mm em Alto Feliz; 33 mm em Alvorada; e 33 mm em São Francisco de Paula.

Com essa frente fria e o centro de baixa pressão, que vão trazer novamente chuva ampla para o estado, a chuva tende a beneficiar a agricultura em momento crítico da safra de verão. O mês de fevereiro marca o período de maior demanda hídrica da soja e as precipitações tendem a evitar perdas maiores pela estiagem.

Como vai avançar a frente fria

O sol chega a aparecer com nuvens nesta quinta-feira no Rio Grande do Sul, mas com períodos de maior nebulosidade. Já de manhã se espera chuva em alguns pontos do estado. Entre a tarde e a noite, à medida que o centro de baixa pressão avança do Norte da Argentina para o estado e uma frente fria começa a ingressar pelo Oeste e o Sul, a instabilidade aumenta muito e chove em todas as regiões.

Na madrugada da sexta, o tempo ainda vai estar instável em diversas áreas do território gaúcho. No decorrer do dia, a frente se desloca para Norte e ar mais seco e frio começa a ingressar pelo Oeste, o que deve proporcionar a melhora do tempo ainda em diversas regiões. Setores das Metades Norte e Leste do estado, entretanto, ainda podem ter chuva entre a tarde e noite da sexta.

Os mapas abaixo mostram a projeção de chuva de seis em seis horas do modelo europeu para o Sul do Brasil na quinta e nas primeiras horas da sexta em que se pode observar o avanço da frente fria e a presença de um profundo centro de baixa pressão junto ao Rio Grande do Sul com valores muito baixos de pressão em superfície, abaixo de 1000 hPa.

O centro de baixa pressão instabiliza o tempo com chuva e temporais isolados em diversas áreas de Santa Catarina e do Paraná nesta quinta. Na sexta, a frente fria avança pelos dois estados com chuva muito forte e volumosa em diversos municípios, havendo um alto risco de temporais. O sistema frontal, uma vez que a incursão de ar frio será de trajetória continental, alcança ainda os estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e São Paulo na sexta com elevada probabilidade de chuva localmente forte a intensa e tempestades.

O que esperar da chuva

A frente fria e o centro de baixa pressão vão proporcionar um evento de chuva generalizada no Sul do Brasil e com altos volumes em diversas áreas. Os maiores acumulados de chuva são previstos para Santa Catarina e o Paraná, onde a chuva deve superar os 100 mm em um grande número de municípios do Oeste dos dois estados com acumulados em algumas cidades até de 200 mm ou mais.

O mapa abaixo mostra a projeção de chuva acumulada prevista pelo modelo meteorológico alemão Icon até o sábado. Verifica-se a tendência de chover muito em setores dos estados do Paraná e Santa Catarina. O modelo WRF da MetSul chega a indicar acumulados de 250 mm a 300 mm em pontos isolados do Oeste do Paraná. Logo, episódios de inundações e alagamentos em áreas urbanas e rurais são prováveis.

No Rio Grande do Sul, a boa notícia é que vai chover em praticamente todo o estado durante a atuação dos dois sistemas meteorológicos. A má é que a chuva não será volumosa de forma generalizada e se espera uma enorme variabilidade em acumulados de precipitação, mesmo dentro de um mesmo município ou região. Em diferentes locais, os volumes devem ser baixos.

Pontos isolados podem ter acumulados de precipitação muito altos em curto período, sobretudo acompanhando temporais. Aliás, a nossa crença é que os acumulados devem ser mais altos que os modelos indicam para diversas cidades. Nestes pontos em que mais chover, os volumes entre amanhã e sexta podem ficar perto ou passar de 100 mm.

Elevado risco de temporais

Há um alto risco de tempo severo no Sul do Brasil com a atuação do centro de baixa pressão muito profundo e o deslocamento da frente fria. O risco de tempo severo entre quinta e sexta vai atingir os três estados do Sul, diminuindo na sexta no território gaúcho e aumentando sobre os estados catarinense e paranaense.

Dois fatores vão contribuir para o alto risco de tempo severo. Primeiro, o grande contraste de temperatura entre as duas massas de ar. Uma massa de ar quente e úmida vaie estar sobre o Sul do Brasil enquanto uma grande massa de ar frio vai avançar a partir da Argentina e do Uruguai.

Observa-se no mapa acima como haverá um padrão muito divergente de vento com corrente de jato em baixos níveis trazendo ar quente na dianteira do sistema frontal com vento vindo de Noroeste enquanto pelo Norte da Argentina outro jato de baixos níveis com ar frio de Sul se deslocando. Esse tipo de situação traz, por exemplo, um risco de tornados isolados entre o Norte da Argentina, Paraguai e o Sul do Brasil. O risco de atividade tornádica será maior no Paraguai e em províncias do Norte argentino.

 

O segundo fator que agrava o risco de tempo severo será a pressão atmosférica muito baixa. Em muitas cidades, especialmente do Rio Grande do Sul, a pressão vai cair a valores abaixo de 1000 hPa nesta quinta. Algumas podem chegar a ter 995 hPa, o que é um valor extremamente baixo e crítico para a ocorrência de tempo severo.

Haverá, portanto, uma conjunção enorme de fatores de risco com ar quente (temperatura alta em superfície com calor e também em níveis baixos e médios da atmosfera), umidade mais alta, pressão atmosférica muito baixa e uma forte frente fria em aproximação.

Neste tipo de cenário, sob pressão atmosférica muito baixa, agrava-se sobremaneira o risco de episódios isolados de vento muito intenso. Situações de pressão atmosférica muito baixa, em regra, costumam levar a episódios isolados de vento muito forte e em alguns casos destrutivo.

Estes temporais de maior severidade podem gerar chuva intensa em curto intervalo com alagamentos repentinos, queda de granizo e vendavais. Nos casos mais extremos, são capazes de gerar fenômenos de vento severos, como correntes de vento descendentes violentas (downbursts ou microexplosões).

Como consultar os mapas

Todos os mapas neste boletim podem ser consultados pelo nosso assinante (assine aqui) na nossa seção de mapas. A plataforma oferece ainda mapas de chuva, geada, temperatura, risco de granizo, vento, umidade, pressão atmosférica, neve, umidade no solo e risco de incêndio e raios, dentre outras variáveis, com atualizações duas a quatro vezes ao dia, de acordo com cada simulação. Na seção de mapas, é possível consultar ainda o nosso modelo WRF de altíssima resolução da MetSul.