Quase nada sobrou em Fort Myers Beach que é o “epicentro” da destruição do furacão categoria 4 Ian no estado norte-americano da Flórida | JOE RAEDLE/GETTY IMAGES/AFP/METSUL METEOROLOGIA

Pete Belinda e sua esposa caminham lentamente na beira de uma estrada das redondezas de Fort Myers Beach, no Sudoeste da Flórida. Estão cansados e carregam apenas duas malas grandes. “Isso é tudo o que nos resta”, disse ele entre lágrimas. Sua cidade, um lugar tranquilo às margens do Golfo do México, se tornou na quarta-feira o epicentro da destruição causada pelo furacão Ian.

O casal morava no térreo da casa da filha, para onde se mudaram há seis meses, mas a tempestade os deixou desabrigados. “Está tudo de cabeça para baixo, molhado, cheio de lama”, conta Pete Belinda, de 52 anos. “Nós realmente não sabemos o que fazer agora. Estamos ligando para alguns amigos e familiares para ver onde podemos morar por um tempo, porque não temos para onde ir”, conta.

Após a passagem de Ian, Fort Myers Beach é uma cidade quase deserta, percorrida apenas pelos veículos dos serviços de emergência e algumas pessoas que voltam para casa para verificar tudo o que perderam. A parte da cidade mais afetada por Ian, a beira-mar, na Ilha Estero, é um campo de ruínas.

A polícia impede o acesso a quem não é morador desse bairro, mas um voo de helicóptero permite constatar a magnitude dos danos. Os ventos do furacão de categoria 4 destruíram as incontáveis casas de madeira da área; em alguns lugares não se vê nem os escombros, apenas terrenos baldios onde antes havia uma casa.

Rich Gibboni é um dos moradores que perdeu sua casa. “O segundo andar desabou por causa do vento e o primeiro andar encheu até o teto”, explica ele, resignado. O homem de 50 anos foi a outro bairro em Fort Myers Beach, localizado na pequena ilha de San Carlos, em busca de suprimentos. E agora volta à Ilha Estero, onde se refugiou em um hotel com cerca de vinte pessoas.

Perto dali, Chris Bills, uma mulher de 72 anos, coloca o chapéu na cabeça enquanto espera um ônibus para buscá-la com o marido. Uma patrulha dos serviços de emergência deu a eles duas horas para recolherem os seus pertences e deixarem o apartamento que tinham alugado por alguns dias perto do mar. O casal viajou da Inglaterra para aproveitar o bom tempo e ignorou as previsões de furacões. “Não pensei que seria tão forte”, ela admite. “Estava muito assustada. Nunca tínhamos vivido algo assim antes”.

No bairro que deixaram para trás, a força do furacão deixou dezenas de barcos encalhados nas ruas – alguns deles ainda amarrados a um pedaço de cais – e arrastou carros para a água de uma baía próxima, onde agora flutuam. Apesar dos estragos causados por Ian, Gibboni não perde a esperança. “O ânimo está alto. Temos que sobreviver e essa é a única maneira de fazer isso”, afirma. “Temos que começar de novo. Vai levar muito tempo, então temos que recuperar nossas forças”, diz.