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A enorme explosão na cidade de Beirute, no Líbano, que matou mais de 100 pessoas e arrasou parte da cidade, foi registrada por equipamentos sismológicos e sensores em três continentes. 

Relatos de testemunhas oculares descrevem abalos generalizados de edifícios em um raio de 50 quilômetros da capital libanesa com o tremor do solo sendo percebido até no Chipre, a 250 quilômetros do centro de explosão. 

As ondas sísmicas foram registradas pela rede sismográfica do Serviço Geológico de Israel e estações sísmicas ao longo da fronteira da Síria com a Turquia, a quase 400 quilômetros de distância, além de equipamentos da Europa e África. 

Segundo as primeiras estimativas dos geólogos, a explosão foi equivalente a um terremoto de magnitude 4,5, comparável à energia liberada pela detonação de 1.000 a 3.000 toneladas de TNT. O USGS (Serviço Geológico dos Estados Unidos) informou uma magnitude menor de 3,3. 

A magnitude relatada não é diretamente comparável a um terremoto de tamanho semelhante porque a explosão ocorreu na superfície, onde as ondas sísmicas não são tão eficientemente geradas. A informação das autoridades indicam que a explosão foi causada por incêndio que atingiu um carregamento de 2.750 toneladas de nitrato de amônia estocadas no distrito portuário de Beirute, o que equivale aproximadamente a 1.100 toneladas de TNT.

O Observatório Sismológico (SIS) da Universidade de Brasília (UnB) detectou e localizou a explosão ocorrida em Beirute usando dados de três estações de infrassom da rede IMS (International Monitoring System). O SIS – UnB colabora com uma organização das Nações Unidas, com sede em Viena, na Áustria, que tem como objetivo verificar o cumprimento do Tratado de Proibição Total de Testes Nucleares (CTBTO). O Brasil participa desta organização com dados de suas estações e também com informações provenientes da análise e interpretação dos dados de uma rede mundial com 321 sensores geofísicos (rede IMS), que cobre todo o planeta. 

Qualquer explosão nuclear, seja em ambiente subterrâneo, ambiente subaquático ou na atmosfera, com potência equivalente a no mínimo 1 quiloton de TNT pode ser detectada pela rede. O SIS – UnB opera estações com duas tecnologias da rede localizadas em Brasília: uma sísmica (apropriada para detecção de explosões subterrâneas) e uma infrassônica (apropriada para detecção de explosões atmosféricas). 

Em função da distância e da energia, destacam os especialistas da UnB, a explosão em Beirute não foi registrada por estas estações em Brasília. Três estações de infrassom da rede mundial de monitoramento, a cujos dados o SIS – UnB tem acesso, localizadas na Alemanha (código I26DE, 2500 km de Beirute), na Tunísia (I48TN, 2400 km de Beirute) e na Costa do Marfim (I17CI, 5000 km de Beirute), registraram o evento catastrófico.

A explosão foi registrada por estações infrassônicas assim tão distantes devido à carga do explosiva imensa. A direção de propagação dos ventos, que ajudam na propagação das ondas infrassônicas para grandes distâncias, influenciou as observações e estações no lado Leste não registraram o evento. 

“A energia liberada pela explosão foi muito maior do que a um terremoto de magnitude 3,3, pois enquanto um terremoto (por ser subterrâneo) tem a maior parte de sua energia convertida em ondas sísmicas, essa explosão foi superficial e, por isso, pouca energia foi transformada em ondas sísmicas, cuja amplitude dá uma medida de sua magnitude”, disse a universidade.

“Se uma explosão nuclear subterrânea, com potência de 1 quiloton (15 vezes menor do que a bomba de Hiroshima) libera energia equivalente à de um terremoto de magnitude 4, então essa explosão em Beirute pode ter liberado uma energia de cerca de 0,3 quiloton por cálulos preliminares”, explicou o observatório da Universidade de Brasília.