A quinta teve chuva de 100 mm em pontos da Metade Norte aqui do Rio Grande do Sul, o que levou a uma cheia do Rio Taquari e provocou o desabamento de trecho de estrada estadual nos Aparados. Entre sexta e este domingo choveu mais de 200 mm em extensas áreas de Santa Catarina e do Paraná com acumulados de 300 mm a 500 mm em vários pontos dos dois estados em apenas 72 horas. O resultado, como era alertado pela MetSul, somente poderia ser uma série de transtornos e danos como cheias de rios, enchentes, inundações, deslizamentos de terra e queda de barreiras (foto da Defesa Civil de SC).


Este começo de junho muito chuvoso motivou a pergunta por parte de internautas nas redes sociais nossas da MetSul: tanta chuva como está se vendo é resultado do El Niño ? A resposta honesta é: ‘difícil dizer’. Complicado separar o que seria normal para a época do ‘ruído’, ou seja, a influência de um fenômeno de grande escala.  Há um mês, o Pacífico Central Equatorial tem anomalia de temperatura da superfície do mar (TSM) típica de El Niño, mas não está caracterizado ainda um episódio do fenômeno. São necessários alguns meses seguidos de condições de El Niño no Pacífico para que se caracterize um evento.


Junho está entre os meses do ano mais chuvosos aqui no Sul do Brasil, logo eventos de muita chuva nesta época do ano são bastante normais, haja ou não El Niño no Pacífico. Por exemplo, em 1984, neste mesmo período do ano, o Rio Grande do Sul enfrentava grandes enchentes e as condições do Pacífico Equatorial naquele momento não eram de El Niño. Ao contrário. Eram sim muito mais próximas de La Niña com um acentuado resfriamento das águas na região equatorial (mapa abaixo). 


Por outro lado não é possível se desprezar o rápido aquecimento observado ao longo das últimas semanas no Pacífico Leste Equatorial, nas proximidades da América do Sul. As anomalias de temperatura da superfície do mar na região que eram de +-0,1ºC no final de abril passaram para +1,6ºC no final de maio. Quando há águas mais quentes que a média naquela parte do oceano, a repercussão tende a ser mais rápida no Sul do Brasil e, em regra, com mais chuva. Independente da causa do evento de chuva extrema atual, o importante é ter em mente que o cenário no decorrer dos próximos meses é de alto risco de eventos muito importantes de chuva excessiva com altos volumes em curto período com novas enchentes e mais transtornos.