A gigantesca erupção do vulcão submarino Hunga Tonga–Hunga Haʻapai, em janeiro de 2022, despertou temores entre cientistas: o volume de vapor d’água lançado na estratosfera poderia acelerar o aquecimento global e empurrar a temperatura do planeta além do limite de 1,5 °C estabelecido pelo Acordo de Paris.

NASA
Mas um novo estudo liderado por pesquisadores da UCLA revelou uma surpresa. Em vez de aquecer, o fenômeno causou um leve resfriamento de 0,1 °C no Hemisfério Sul, resultado da formação de aerossóis de sulfato extremamente pequenos, capazes de refletir a luz solar de forma mais eficiente.
Esses aerossóis, formados a partir de dióxido de enxofre emitido na erupção, agiram como miniespelhos na atmosfera, enviando parte da radiação solar de volta ao espaço. E, ao contrário do esperado, o vapor d’água não intensificou o aquecimento. A interação dele com outros elementos atmosféricos, como o ozônio, acabou neutralizando esse efeito.
“Mostramos que o impacto final depende de interações químicas complexas entre o vapor d’água, aerossóis e a dinâmica da atmosfera”, explicou o cientista atmosférico Ashok Gupta, autor principal do artigo publicado na Nature Communications Earth and Environment.
A descoberta também tem implicações preocupantes para o futuro. Ela sugere que estratégias de geoengenharia — como a liberação proposital de partículas na estratosfera para refletir a luz solar — podem ter efeitos inesperados e até contraproducentes.
A equipe da UCLA analisou dois anos de dados de satélite após a erupção do vulcão para estudar como o vapor, os aerossóis e o ozônio se comportaram na atmosfera. A combinação específica de fatores gerou perda líquida de energia na estratosfera, levando à leve redução de temperatura.
Curiosamente, os aerossóis do vulcão Hunga Tonga eram 50% menores do que os do Monte Pinatubo, nas Filipinas, cuja erupção em 1991 causou resfriamento global. E foi justamente esse tamanho reduzido que os tornou mais eficazes na reflexão solar.
Apesar de uma leve tendência de aquecimento observada no Hemisfério Norte, o balanço final foi de resfriamento global moderado.
“O estudo mostra que até erupções de vulcões rasas no oceano podem alterar a temperatura do planeta, e que a geoengenharia exige muito mais cautela do que se imaginava”, concluiu Gupta.
Referência: The January 2022 Hunga eruption cooled the southern hemisphere in 2022 and 2023.
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