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O que já se sabia, agora está provado por um robusto estudo científico. Pesquisadores comprovaram uma clara correlação entre desmatamento e precipitação regional. Os cientistas esperam que isso encoraje empresas e governos nas regiões amazônica e do Congo e no Sudeste da Ásia a investir mais na proteção de florestas e outras formas de vegetação.

Foto aérea de área desmatada e queimada em um trecho da BR-230 (Rodovia Transamazônica) em Humaitá, no estado do Amazonas, em setembro de 2022. Desmatamento da Amazônia vem aumentando há anos e cientistas provaram o efeito da redução da cobertura vegetal sobre o regime de chuva | MICHAEL DANTAS/AFP/METSUL METEOROLOGIA

O estudo constatou que quanto mais florestas tropicais forem desmatadas em países tropicais, menos os agricultores locais poderão depender da chuva para suas plantações e pastagens. O artigo, publicado na revista Nature, aumenta os temores de que a degradação da Amazônia esteja chegando a um ponto crítico, após o qual a floresta tropical não será mais capaz de gerar sua própria chuva e a vegetação secará.

As pessoas que vivem em áreas desmatadas há muito fornecem evidências anedóticas de que seus microclimas se tornaram mais secos com menor cobertura de árvores. Os cientistas já sabiam que matar árvores reduz a evapotranspiração e, portanto, teorizaram que isso resultaria em menor precipitação local.

Para investigar o papel da perda florestal na precipitação, o pesquisador Callum Smith e seus colegas analisaram um conjunto de dados de satélite da mudança da cobertura florestal de 2003 a 2017 com foco na Amazônia, Congo e Sudeste Asiático para identificar áreas de perda florestal. Eles combinaram essas informações com 18 conjuntos de dados de precipitação diferentes.


Os autores descobriram que o impacto do desmatamento na precipitação aumentou em escalas maiores; reduções robustas na precipitação devido à perda de floresta ocorreram em escalas espaciais superiores, com as maiores reduções da chuva observadas em 200 quilômetros quadrados.

Mudanças absolutas na precipitação como resultado da perda de floresta foram maiores na estação chuvosa. Os autores sugerem que as taxas projetadas de desmatamento podem levar a uma redução na precipitação local de cerca de 8 a 10% no Congo até 2100.

Isso pode gerar um ciclo vicioso, pois as reduções nas chuvas levam a mais perda de floresta, aumento da vulnerabilidade ao fogo e diminuição do carbono. Um dos autores, o professor Dominick Spracklen, da Universidade de Leeds, disse que 25% a 50% da chuva que caiu na Amazônia veio dos efeitos da precipitação pelas árvores. Embora a floresta às vezes seja descrita como o “pulmão do mundo”, ela funciona muito mais como um coração que bombeia água pela região.

O cientista explicou que o impacto local dessa redução no ciclo de absorção e liberação de água era muito mais óbvio, imediato e persuasivo para governos e corporações no Sul global do que argumentos sobre o sequestro de carbono, visto como tendo mais benefícios para os países industrializados do Hemisfério Norte.

As florestas tropicais têm um papel importante na regulação do clima devido à sua influência nos ciclos de energia, água e carbono. Eles também influenciam os padrões de precipitação locais e regionais; a evapotranspiração, por exemplo, é um forte impulsionador da precipitação regional, representando 41% da precipitação média da bacia na Amazônia e quase 50% no Congo.

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