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Desespero de um grego ao ver incêndio florestal atingir a vila de Gennadi, na ilha grega de Rodes, no Mar Egeu, em 25 de julho de 2023. Incêndios florestais castigaram a Grécia em meio a temperaturas escaldantes, forçando evacuações em massa em vários pontos turísticos, incluindo as ilhas de Rodes e Corfu. | ANGELOS TZORTZINIS/AFP/METSUL METEOROLOGIA

O mês mais quente já registrado no planeta, possivelmente em 120 mil anos, conforme algumas análises. Aquecimento recorde do Atlântico Norte. Temperatura do mar de 38ºC com morte de corais no Sul da Flórida. Maior temperatura das águas já medida no Mediterrâneo. Menor cobertura de gelo marinho já observada na Antártida.

Ondas de calor brutais no Hemisfério Norte. Recorde nacional de calor na China com 52ºC. Quase um mês seguido de temperaturas máximas todos os dias acima de 43ºC em Phoenix, nos Estados Unidos. Maior temperatura já observada em Roma (42ºC) e 48ºC no Sul da Itália. Mortal onda de calor no México com quase 50ºC.

Nova York e outras grande cidades dos Estados Unidos com céu laranja pela fumaça de incêndios no Canadá. Pior temporada canadense de incêndios florestais da história. Grandes incêndios pelo calor no Norte da África, Grécia e Itália.

A sucessão e simultaneidade de extremos climáticos nas últimas semanas têm feito com que muitos experts de clima no mundo, com dezenas de anos de experiência em Meteorologia, se questionem se o sistema climático global entrou em colapso. Muitos, por suas redes sociais, confessam que jamais viram tantos extremos e se declaram preocupados e até assustados. O fato é que ingressamos em território desconhecido no clima.

Mas por que tantos extremos? Neste momento, há uma verdadeira tempestade perfeita de fenômenos e condições climáticas contribuindo para tantos episódios recordes ou excepcionais no planeta. As causas em parte são naturais, mas a principal tem a influência direta e enorme do ser humano.

Primeiro, mudanças climáticas geradas pelo aquecimento do planeta pela emissão de gases estufa da queima de combustíveis fósseis desde a Revolução Industrial. Tais mudanças não geram fenômenos severos novos, mas tornam mais extremos os que sempre ocorreram, como ondas de calor, secas e inundações. Ainda, o El Niño com aquecimento do Pacífico Equatorial, este um evento natural, que hoje é o mais intenso junto à América do Sul desde 1997, e que tende a ganhar força.

Soma-se a redução de aerossóis após acordo internacional para limitar poluição de gases por navios que acabou gerando efeito indesejado de aquecimento dos oceanos por mais luz solar incidindo nas águas. E a enorme erupção do vulcão submarino de Tonga, em janeiro do ano passado, que injetou na estratosfera uma quantidade absurda de água, que tem como efeito aumentar a temperatura do planeta.

Vai melhorar ou piorar? Em 23 de junho de 1988, o Congresso dos Estados Unidos presenciou um dos depoimentos em comitês mais importantes da sua história. O cientista James Hansen, então diretor do Goddard Institute for Space Studies da NASA, apresentou previsões de aquecimento do planeta. No dia seguinte, a manchete do New York Times era “aquecimento global começou”. As suas previsões de evolução da temperatura para os 35 anos seguintes quase que se confirmaram integralmente.

James Hansen, hoje na Universidade de Columbia, publicou esboço de trabalho em maio que traça cenário sombrio de um “choque de aquecimento” com elevação da temperatura da Terra muito mais rápida que supunha. No artigo, Hansen e outros autores projetam que a taxa de aquecimento do mundo dobrará dos 0,18ºC por década de 1970 a 2010, para pelo menos 0,27ºC por década.

Como emissões de gases estufa seguem aumentando, o que faz pouco crível a meta do Acordo de Paris de limitar o aquecimento em 1,5ºC em relação ao período pré-industrial, a tendência é de o planeta seguir aquecendo cada vez mais, gerando novos extremos e com consequências ainda mais nefastas na natureza e para o ser humano. Em síntese, ou a humanidade reverte o curso atual de emissões, ou o que já está ruim vai ficar muito pior. (Artigo publicado na edição do Correio do Povo de 30 de julho de 2023)