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As baleias oferecem um espetáculo anual nos mares do Sul, mas em 2021 o show oferecido nas águas do Atlântico Sul tem sido ainda maior para o encantamento dos observadores no Uruguai, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Ao passeio anual da baleia fraca austral se soma neste ano uma aparição maior de baleias jubarte atraídas pelas águas mais quentes do mar que aproximaram elas da costa.

O período entre os meses de julho e outubro de cada ano marca o milagre da natureza na região. No Uruguai, a caminho da costa do Brasil, a baleia franca austral, visita as costas dos departamentos de Maldonado e da Rocha. Trata-se de uma rota de avistamento com mais de 55 milhões de anos de evolução e que exige responsabilidade dos observadores.

O Uruguai, que leva a sério a proteção ambiental, mantém uma integração entre o governo, universidades e organizações ambientalistas para a observação segura e responsável, a proteção e estudo das baleias em sua rota migratória, o que proporcionou convites internacionais para o envolvimento em outros projetos de pesquisa, como das Ilhas Geórgia do Sul.


Um dos grupos mais dedicados e que popularizou a observação da fauna marinha nas redes sociais é o grupo Fauna Marina Uruguay que periodicamente publica imagens dos avistamentos na costa do país vizinho.

Hoje, no Uruguai, do continente ou a bordo de embarcações, em segurança e com licença das autoridades, é possível contemplar as gigantes do mar. Os moradores e turistas podem ver o sopro característico em forma de “V” das baleias francas que vêm à costa uruguaia para socializar, acasalar e às vezes dar à luz e amamentar seus filhotes.

As costas do Oceano Atlântico Sul fazem parte da rota migratória da baleia franca austral. Durante o verão, eles se alimentam de toneladas de krill em áreas próximas à Antártica (Ilhas Malvinas e Geórgia do Sul) e então começam sua migração para a Península Valdés (Argentina), Maldonado e Rocha (Uruguai) em busca de águas mornas e calmas de Santa Catarina.

Existem 90 espécies de cetáceos hoje, incluindo baleias (cetáceos de barbatana) e golfinhos (cetáceos dentados). Os cetáceos evoluíram de animais terrestres, carnívoros ancestrais, que se adaptaram à vida marinha há cerca de 55 milhões de anos. A longevidade da baleia franca ainda é desconhecida, mas presume-se que possa ser entre 50 e 70 anos. A população cresce a uma taxa de 7% ao ano, então dobra aproximadamente a cada 10 anos.

Atualmente, a estimativa é que existam entre 12.000 e 15.000 exemplares no hemisfério Sul. Há 400 anos, a ideia é que existiam 300.000, mas a caça indiscriminada de baleias para extrair o óleo e seus fardos longos reduziu a população. No primeiro caso, era usado como combustível para lâmpadas ou cera para velas, entre outros, enquanto a barba permitia a montagem de vestimentas femininas e molas de relógio. O declínio no uso foi reforçado pela descoberta de petróleo, pelo surgimento de grupos ambientalistas, além de governos comprometidos com políticas de cuidado de suas populações e do meio ambiente.

O Uruguai, ao contrário de muitos países, reúne as condições naturais para ver as baleias de terram, no litoral. Os melhores lugares para observação são Playa Hermosa, Cerro San Antonio, Punta Colorada, Punta Negra, Punta del Chileno, Playa Mansa em Punta del Este entre as paradas 23 e 40, o Farol José Ignacio, La Paloma, La Pedrera, Santa Teresa , Cerro Verde e Cabo Polonio.

As baleias no Sul do Brasil

Os cientistas estão encantados com um maior aparecimento de baleias neste ano nas costas do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. No litoral gaúcho, as baleias fracas foram vistas em balneários como Rainha do Mar, Imbé (foto) e Torres.

Corpo de Bombeiros do Rio Grande do Sul/Divulgação

As baleias francas são mais comuns no litoral catarinense e o Rio Grande do Sul é uma área de reprodução e cria para elas. O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), ligado ao Ministério do Meio Ambiente, recomenda a não aproximação de equipamentos como drones de baleias e outros cetáceos. A distância recomendada é de 150 metros.

Em Santa Catarina, o Ciram explicou que uma elevação na temperatura do mar pode estar influenciando a presença de baleias jubarte (Megaptera novaeanglie) no litoral catarinense neste ano. O biólogo da Epagri/Ciram Luiz Vianna destacou que desde o início do outono vem se observando um aumento da temperatura da superfície do mar no Oceano Atlântico Sul e que o mar mais quente estaria alterando o comportamento das baleias em Santa Catarina em 2021.

João Viana/Epagri/Divulgação

Em abril, a temperatura da superfície do mar apresentou valores de até 1,3°C acima do normal, alcançando 24,5°C. Até a segunda semana de junho ainda era possível observar valores 1°C acima do normal. “Suspeitamos que esse fenômeno possa ser um dos motivos para elas terem se aproximado e ficado por tanto tempo no nosso litoral”, explica.

O litoral catarinense é corredor migratório para as baleias jubarte, que normalmente rumam em direção ao Norte, um pouco mais afastadas da costa – diferentemente da baleia franca (Eubalaena australis), que costuma visitar as praias do estado com frequência. Excepcionalmente neste ano, algumas baleias jubarte ficaram na faixa Leste da Ilha de Santa Catarina. “Temos observado quatro juvenis que provavelmente desgarraram do grupo e agora estão habitando os arredores da ilha do Campeche”, diz Vianna.

O pesquisador comenta que um dos principais fatores que influenciam o movimento migratório das baleias jubarte na costa brasileira é a temperatura superficial do mar. “Existe uma alta correlação entre a densidade de baleias no período de reprodução e a temperatura superficial da água, com picos de densidade em áreas onde as temperaturas se mantêm entre 24ºC e 25ºC”, de acordo com o pesquisador.

As baleias jubarte frequentam a costa brasileira do Rio Grande do Sul até o Pará. Segundo as informações do Projeto Baleia Jubarte, na época de reprodução, que vai de julho a novembro, elas migram dos mares antárticos, onde se alimentam durante o verão, em direção ao Norte em busca de águas mais quentes. Isso ocorre porque os filhotes recém-nascidos ainda não acumularam gordura suficiente para resistirem às águas mais frias perto da Antártida.

Elas chegaram a ser vistas também no Rio Grande do Sul. A jubarte é espécie menos frequente no estado gaúcho do que a franca, mas em 2021 foram mais avistadas em nosso litoral. O Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos (Ceclimar) enfatiza que a população de jubartes cresceu quando a caça às baleias foi proibida no Brasil no fim dos anos 1980. Os melhores locais para observação no Litoral Norte gaúcho, em segurança e sem oferecer risco às baleias, são as plataformas de pesca como de Cidreira, Tramandaí e Atlântida, e o alto do Morro do Farol, em Torres.

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