Um evento para jamais esquecer ! Memorável! Os dias 22 e 23 de julho de 2013 entraram, definitivamente, para a história da climatologia do Sul do Brasil. Numa época em que sobram informações sobre aquecimento do planeta e especialistas chegam mesmo ao ponto de sugerir uma “tropicalização” do Sul do Brasil, os três estados do Sul foram atingidos por episódio de neve e frio como poucas vezes se viu no último meio século. Cenas e fatos incomuns, típicos de países frios, como bloqueios de estradas por grande quantidade de neve/gelo, ou colapso de telhados por excesso de neve, freqüentaram o noticiário que apenas dias antes questionava onde estava o inverno devido à temperatura elevada e que superou a marca dos 30ºC. Levantamento da MetSul Meteorologia, com base em apuração própria e dados do Ciram, Simepar e Instituto Nacional de Meteorologia, indica que nevou em ao menos 140 cidades do Sul do Brasil. No Rio Grande do Sul nevou em, pelo menos, 20 municípios entre segunda-feira (22) e hoje (23). Em Santa Catarina, levantamento feito pela Epagri/Ciram indicou mais de 90 cidades. E no estado do Paraná, apurou o Institiuto Simepar, a neve foi testemunhada em pelos menos 30 municípios. Além de neve no Paraguai e na província de Misiones na Argentina, houve relato de neve até no município de Paranhos, no Mato Grosso do Sul, no Centro-Oeste do Brasil, onde moradores dizem que o fenômeno não era observado há mais de 40 anos.

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A neve aqui no Rio Grande do Sul foi mais intensa em São José dos Ausentes na madrugada da segunda-feira. Hoje, terça, como antecipava a MetSul, o fenômeno poderia se repetir e desta vez com maior chance no Sul e pontos altos do Centro do Estado. Nevou em cidades como Canguçu, Caçapava do Sul, Itaara e Encruzilhada do Sul. Foi a maior nevada no Sul do Rio Grande do Sul desde setembro de 2008, quando a neve pintou de branco a cidade de Pinheiro Machado. Agora, a cidade com registro mais significativo foi Caçapava do Sul, até com pequena acumulação (foto de Heron Freitas da Gazeta de Caçapava).


Neve espetacular foi registrada em Santa Catarina e no Paraná, onde mais de cem cidades presenciaram o fenômeno, recordando graves nevadas históricas do século XX como a de agosto de 1965. Nevou na maioria das regiões catarinenses, do Sul ao Norte, do Oeste ao Leste do Estado, e com acumulação significativa em muitos pontos. Até em Blumaneu nevou. A neve proporcionou imagens inesquecíveis e inusitadas para uma ou duas gerações, jamais testemunhadas no século XXI e inéditas na era digital. Cenas que eram contadas apenas por antepassados como os picos a Oeste da Grande Florianópolis cobertos pela neve com os cumes brancos vistos da praia na capital catarinense, os “Alpes catarinenses”. Florianópolis com cara de Vancouver e sua Grouse Moutain. Com paisagem de Santiago do Chile. Com postais de Christchurch. Conforme o Ciram, moradores e registros passados da imprensa dão conta de ocorrências semelhantes de cumes nevados na Grande Florianópolis em 1942, 1972, 1984 e 2000, entre outros anos, mas jamais havia se visto algo tão lindo nas últimas décadas.


Picos nevados e lago congelada formaram paisagem de tirar o fôlego em Rancho Queimado – Gustavo Rosa via MetSul


Florianópolis teve um dia diferente com paisagem de cidades nevadas do exterior – Rosane Lima/Notícias do Dia/CP


Vancouver ? Santiago ? Christchurch ? Que nada ! A linda Floripa da ilha da magia e morros nevados – Prefeitura Municipal

No Paraná, flocos caíram na capital Curitiba no evento mais importante da cidade desde 17 de julho de 1975. A neve foi abrangente no Paraná, como raramente ocorreu durante o século XX, atingindo pontos de diversas regiões, da fronteira com a Argentina até o Leste. Onde o fenômeno foi mais intenso, como prognosticavam os modelos, foi na área de maior altitude do Centro para o Sul do Estado, especialmente na área de Guarapuava. Em Guarapuava, a neve trouxe encantamento para os moradores que viram sua cidade se transformar pelo branco em cenas comuns nas altas latitudes, mas raríssimas na região.


Neve transformou Guarapuava e proporcionou paisagens de cartão postal – Divulgação/Prefeitura Municipal

A neve, como se temia e foi alertado pela MetSul Meteorologia no fim de semana, em alguns locais passou do espetáculo a problema. Várias rodovias de Santa Catarina, devido ao acúmulo de neve e gelo na pista, sofreram interrupção. A neve provocou acidentes de trânsito no estado vizinho e no Paraná. Telhados e estruturas sucumbiram e cederam pelo peso da neve acumulada em Papanduva (SC) e Guarapuava (PR). Devido às condições de neve e gelo, mais de 35 mil consumidores ficaram em luz no Planalto Norte catarinense, onde a neve e gelo (sleet) caíram em grande quantidade. Conforme a Celesc, diversas ocorrências foram causadas pelo tombamento de vegetação coberta de gelo sobre a fiação elétrica e pelo acúmulo de neve nas estruturas, afetando partes do sistema de distribuição de lluz (isoladores, conexões, chaves e transformadores).


Estruturas cederam e desabaram com peso da neve em Santa Catarina – Bianca Furtado de Melo/Facebook/Epagri/Ciram

De acordo com o meteorologista Luiz Fernando Nachtigall, a neve foi mais intensa sobre Santa Catarina e o Paraná devido à interação do ar gelado que avançava pelo Sul e o Oeste com a umidade abundante com precipitação por conta de frente semi-estacionará entre o Paraná, São Paulo e o Nordeste catarinense. Houve ainda o ingresso de cavado polar (área de menor pressão atmosférica com ar gelado) que se deslocou do Uruguai para o Sul do Brasil, reforçando a instabilidade e o frio, o que favoreceu a neve no Sul e no Centro do Rio Grande do Sul. A terça-feira teve marcas negativas em muitos pontos, com extremos de -2,2ºC em Inácio Martins (PR), -7,8ºC no Morro da Igreja (SC) e -5,3ºC em Santa Rosa (-4,2ºC foi a mínima pelo Inmet em Cambará). A mínima no Morro da Igreja foi a menor já registrada no local desde que instalada a estação automática há seis anos. Medição às 15h na ciudade São Paulo acusou 10,6°C na estação do Inmet no Mirante de Santana, a menor no horário desde agosto de 2004, quando verificou-se 10,2°C. Aqui, em Bom Jesus (foto abaixo de Everaldo Camargo da Prefeitura), a paisagem amanheceu congelada. Com máxima de só 9,4ºC no Jardim Botânico (Inmet), Porto Alegre teve uma das tardes mais frias das últimas décadas nesta terça, recordando na história recente os 9,2ºC de 16 de julho de 2000.


Esta quarta-feira será outro dia gélido no Rio Grande do Sul. O meteorologista Luiz Fernando Nachtigall destaca que a poderosa massa de ar polar gradualmente enfraquece, mas se torna mais seca. Com isso, esfriará mais na madrugada com aquecimento maior à tarde no restante da semana. A quarta deve começar com mínimas de -4ºC a -6ºC nas partes mais altas do Rio Grande do Sul e até -7ºC em Santa Catarina. “Apesar das máximas pouco mais altas nesta quarta, o dia inteiro será frio”, alerta Nachtigall. A MetSul adverte que os extremos de mínimas ainda não ocorreram. A madrugada agora de quinta-feira deve ser a mais fria da semana no Estado com geada generalizada, até na Capital (mais de 80% da cidade) e no litoral (mesmo na beira da praia), e mínimas abaixo de zero em quase todo o Rio Grande do Sul. Pode fazer de -6ºC a -8ºC em pontos de baixada da Metade Norte e ao redor de 0ºC em Porto Alegre e 2ºC a 3ºC negativos nas zonas rurais da Grande Porto Alegre (Vale do Sinos e regiões de morros entre Gravataí e Taquara). Na sexta, quando a tarde já será amena com máxima perto de 20ºC em alguns municípios gaúchos, a madrugada será menos gélida na maioria das cidades, mas ainda com marcas negativas em muitas regiões e que podem rivalizar com as mínima da quinta em baixadas da Metade Norte. (A galeria de fotos desta publicação seguirá sendo atualizada à medida que chegarem mais fotos e para tanto você pode colaborar com as suas fotos pelo e-mail [email protected])