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Denso nevoeiro que limitava a visibilidade a poucas dezenas de metros na área central de Porto Alegre na manhã de hoje | FERNANDO OLIVEIRA

Forte nevoeiro cobriu Porto Alegre e outras cidades da região metropolitana no começo desta segunda-feira com forte restrição de visibilidade, o que acabou por afetar vários voos no Aeroporto Salgado Filho com cancelamentos e desvios (alternar) para outras cidades. O denso nevoeiro prejudicou ainda a visibilidade em rodovias que cortam a Grande Porto Alegre como a BR-448, a RS-118, a BR-290 e a BR-116.

A visibilidade na base aérea de Canoas desceu a apenas 50 metros às 7h da manhã. O nevoeiro foi somente se dissipar na base entre 10h e 11 da manhã. No Aeroporto Salgado Filho, por sua vez, o nevoeiro começou a se instalar cedo, por volta das 3h15, e somente se dissipou entre 11h e 11h15 da manhã. A visibilidade mínima foi de 50 a 100 metros entre 3h30 e 9h da manhã, o que explica o impacto nas rotas aéreas.

O denso nevoeiro, no quarto dia seguido com cerração, era esperado e previsto porque as condições eram muito favoráveis ao fenômeno com ar frio em superfície, céu claro, vento calmo e alta pressão atmosférica na madrugada. Rio Grande do Sul estava sob influência de centro de alta pressão de 1027 hPa no Atlântico.

Quando áreas de altas pressões associadas às massas de ar frio estão sobre o continente, a probabilidade de nevoeiro é baixa. Já quando o centro de alta pressão está sobre o oceano, cresce demais a probabilidade de cerração.

À medida que a massa de ar frio se afasta e ar mais quente já ingressa a partir do Oeste em altitude, esta segunda-feira teve ainda inversão térmica que fez o nevoeiro mais denso e prolongado.

Dados da sondagem por balão meteorológico que foi solto às 9h da segunda no aeroporto indicavam temperatura em superfície de 11,8ºC. Entre 200 metros e cerca de mil metros de altitude, a temperatura era mais alta a ponto de atingir 16,4ºC a 400 metros de altitude. Uma camada de inversão com ar quente entre o ar mais frio perto da superfície e outra mais fria acima de 1200 metros foi determinante para o forte nevoeiro.

A segunda-feira começou fria na Grande Porto Alegre com 6,9ºC na estação do bairro de Lomba Grande, em Novo Hamburgo, e 7,8ºC em Campo Bom, ambas cidades do Vale do Sinos. Porto Alegre registrou 10,0ºC na estação da zona Leste e ainda 10,5ºC no aeroporto, situado na zona Norte da cidade.

Climatologia de nevoeiro em Porto Alegre

Porto Alegre possivelmente seja uma das áreas mais propensas a nevoeiro no Brasil e as razões são de natureza geográfica. Além de estar no Sul do Brasil, onde a atuação do ar frio favorece uma maior ocorrência do fenômeno, a capital gaúcha está cercada por vários rios e tem ainda ao lado um lago (Guaíba), sem mencionar estar ao Norte da Lagoa dos Patos.

A presença de rios ainda faz com que a região de Porto Alegre seja utilizada na plantação de arroz, o que faz com que muitas áreas ao redor da cidade sejam alagadiças e de banhados. O que não falta, assim, é umidade em superfície que combinada com o resfriamento noturno nos meses mais frios do ano acaba trazendo muitos dias com neblina e nevoeiro na cidade e na área metropolitana.

Um estudo da Força Aérea Brasileira (FAB) da frequência do fenômeno no Aeroporto Salgado Filho, realizado entre os anos de 1998 e 2006, de autoria de Luiz Alexandre Fragozo de Almeida, mostrou que os meses da segunda metade do outono do inverno são os de maior incidência do fenômeno no aeródromo.

Os três meses com maior frequência de cerração no período de estudo, de acordo com a pesquisa publicada pela FAB, foram junho com 63 dias, maior com 56 e julho com 48. Na sequência, aparecem abril com 33 dias, setembro com 18 e março com 12. O período de novembro a fevereiro tem muito baixa incidência do fenômeno.

Entenda o nevoeiro

Quando o ar é resfriado pela perda noturna de radiação, surgem as condições favoráveis para a formação de bancos de nevoeiro junto aos rios, especialmente em vales, tal como nevoeiro de vapor sobre os mananciais d’água. Essas ocorrências são comuns no outono, quando a água ainda está mais quente e o ar já está sendo resfriado. As noites ficam mais frias, a temperatura cai mais, e as águas quentes trocam umidade com a camada de ar frio que está logo acima da superfície.

A frequência deste tipo de nevoeiro é, em especial, frequente com vales cortados por rios. As moléculas do manancial de água estão sempre evaporando, levando umidade para o ar. Quanto mais quentes as águas, maior a evaporação e maior a presença de umidade no ar. Se uma noite fria e de céu claro é registrada, aproximando-se a temperatura do ponto de orvalho, o nevoeiro começa a se formar e neste tipo de situação, em regra, é raso, o que permite ver até o topo dos prédios mais altos.