Uma combinação explosiva de ciclones tropicais e chuvas de monção transformou vastas áreas do Sul e Sudeste da Ásia em cenários de destruição. Em pouco mais de uma semana, mais de 1200 pessoas morreram e milhares seguem desaparecidas, no que autoridades já descrevem como um dos episódios de clima extremo mais graves das últimas décadas.
Três sistemas tropicais atuaram simultaneamente, algo raro mesmo para uma região acostumada a eventos severos. Ciclone Senyar, Ciclone Ditwah e o tufão Koto alimentaram núcleos de chuva persistentes, agravados pela umidade abundante trazida pela monção e intensificados pelo aquecimento dos oceanos.
A Indonésia foi a mais afetada. Só no país, são pelo menos 604 mortos e 464 desaparecidos, além de quase 300 mil desabrigados. Deslizamentos generalizados atingiram Sumatra, onde equipes de resgate relatam comunidades inteiras soterradas. Ruas desfeitas, casas arrastadas e moradores improvisando travessias sobre lama e destroços revelam a dimensão do desastre.
O caso mais surpreendente envolve o Ciclone Senyar, formado no estreito de Malaca — uma área muito próxima ao equador, onde ciclones tradicionalmente não se desenvolvem. Meteorologistas indonésios classificaram o fenômeno como “raro”, embora reconheçam que eventos excepcionais como esse têm se tornado mais frequentes nos últimos anos.
No Sri Lanka, a situação é igualmente dramática. Foram confirmadas 366 mortes, com 367 desaparecidos e mais de 1,3 milhão de pessoas afetadas. As chuvas, as mais intensas em vinte anos, provocaram tantos deslizamentos nas regiões montanhosas que apenas agora equipes conseguem acessar zonas antes isoladas. Colombo e seus subúrbios permaneciam alagados até o domingo, desencadeando uma megaoperação de socorro.
As autoridades estabeleceram abrigos temporários para quase 150 mil desabrigados, enquanto o presidente Anura Kumara Dissanayake decretou estado de emergência e afirmou que o país enfrenta “o maior desafio humanitário de sua história recente”.
A Tailândia também registrou impacto severo, com 170 mortos após as piores enchentes em uma década. Críticas cresceram sobre a resposta oficial, e dois gestores locais foram suspensos por falhas no atendimento às vítimas. No Vietnã, as chuvas associadas ao tufão Koto deixaram mortos, afundaram embarcações e inundaram cidades históricas e destinos turísticos.
Na Malásia, o norte do país ficou submerso após chuvas excepcionalmente fortes. Pelo menos duas pessoas morreram, e mais de 18 mil seguem em centros de evacuação.
Climatologistas afirmam que o que aconteceu na região não é coincidência. O oceano mais quente intensifica bandas de chuva em torno de ciclones, e uma atmosfera mais aquecida retém e despeja mais umidade. A isso se soma a fase atual da La Niña, que empurra umidade adicional para o Sudeste Asiático, potencializando volumes extremos de precipitação.
Especialistas destacam ainda o papel de fatores locais, como desmatamento e ocupação de áreas de risco, que tornam as encostas mais vulneráveis a deslizamentos. Em Sumatra, a perda de cobertura vegetal por exploração ilegal tem contribuído para que chuvas intensas se convertam rapidamente em enxurradas violentas.
Governos da região admitem falhas. Cidades densamente povoadas carecem de sistemas de alerta eficientes, planos de evacuação e infraestrutura preparada para lidar com eventos extremos cada vez mais frequentes.
Líderes comunitários, cientistas e organizações internacionais reforçam a necessidade de investimento urgente em prevenção, adaptação climática e redução de emissões. Após a COP30, que terminou sem compromissos robustos, cresce a pressão para que países historicamente maiores emissores forneçam financiamento baseado em doações, e não empréstimos, para que nações vulneráveis consigam responder a desastres cada vez mais caros.


