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O Sul do Brasil experimenta uma sequência de dias com temperatura abaixo do que é normal para esta época do ano, inclusive com temperaturas de inverno em alguns locais de maior altitude. Ao mesmo tempo, o litoral de São Paulo enfrenta chuva extrema com acumulados apenas entre ontem e hoje de 200 mm a 300 mm com marcas de 500 mm em alguns pontos desde o começo da semana.

O frio fora de época no Sul e o excesso de chuva no litoral de São Paulo possuem relação direta e as duas situações meteorológicas estão intrinsicamente ligadas por uma série de sistemas atmosféricos que atuam neste momento nas latitudes médias da América do Sul.

O que está acontecendo? Há vários dias, uma área de baixa pressão (baixa fria) atua em níveis médios e altos da atmosfera retendo o ar mais frio sobre o Sul do Brasil derivado de uma massa de ar frio que ingressou ainda no final da semana passada e que está associada a um centro de alta pressão a Leste do Rio Grande do Sul e do Uruguai.

Já no litoral do Sudeste do Brasil atuam áreas de baixa pressão atmosférica em superfície que aumentam a instabilidade e impulsionam o ar mais frio e úmido do mar em direção ao continente, atuando com maior intensidade o aporte de umidade no litoral do estado de São Paulo.

O movimento anticiclônico da alta pressão da massa de ar frio e ciclônico das baixas pressões formam a complexa engrenagem que proporciona um fluxo contínuo de grande quantidade de ar úmido transportado do oceano para o litoral paulista, gerando a chuva volumosa enquanto faz frio em algumas cidades do Sul do país em pleno janeiro.

A umidade que vem do oceano, trazida por vento, em razão da massa de ar frio, ao encontrar a barreira do relevo da Serra do Mar, ascende na atmosfera e encontra temperatura mais baixa à medida que sobe na atmosfera com camadas mais frias.

Isso leva à condensação e à ocorrência de chuva induzida pelo relevo, o que se denomina tecnicamente de chuva orográfica. Em um exemplo bem didático e simples de entender. O que acontece se você chega na frente de um espelho e soltar ar da sua boca?

O espelho que tem uma superfície mais fria vai ficar embaçado (úmido) e molhado. Com a chuva orográfica ocorre o mesmo. O ar mais úmido e quente (analogia com ar que sai da boca) encontra um obstáculo físico que é o relevo (como o espelho) e ao chegar nesta barreira que são os morros sobe na atmosfera e encontra temperatura mais baixa, condensando-se o vapor de água e formando chuva.

Episódios de chuva orográfica são de alto risco porque costumam trazer acumulados de precipitação localmente muito altos e que não raro até acabam superando as projeções dos modelos numéricos. Os litorais de Santa Catarina, São Paulo e Rio de Janeiro são os de maior risco de eventos de chuva extrema de natureza orográfica no Brasil.

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