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A designer gráfica Clara Escobar coleta água potável de um caminhão-pipa em La Calera, perto de Bogotá. O caminhão-tanque entrega água nas ruas íngremes de La Calera, cidade vizinha da capital colombiana. Há semanas que esta região considerada rica em recursos hídricos vive uma escassez sem precedentes devido ao fenômeno El Niño e às alterações climáticas. | DANIEL MUÑOZ/AFP/METSUL METEOROLOGIA

Um caminhão-tanque transporta água pelas ruas íngremes de La Calera, cidade vizinha à capital colombiana, Bogotá. Há semanas esta região considerada rica em recursos hídricos vive uma escassez sem precedentes de água devido ao fenômeno El Niño e às mudanças climáticas.

Alertada pela buzina de um carro, Clara Escobar sai de casa com baldes nas mãos para assegurar alguns litros. Desde fevereiro, os habitantes deste município de 36 mil habitantes sofrem com cortes no abastecimento do aqueduto, pois a vazão do riacho que fornece 70% da água diminuiu drasticamente.

Além disso, os reservatórios estão secando a uma velocidade alarmante, o que levou as autoridades da capital e de dez cidades vizinhas a decretarem racionamento. O culpado é o fenômeno climático El Niño, que desde o início do ano causa transtornos na Colômbia, sobretudo no frio centro andino, que segundo o Ministério do Meio Ambiente atingiu “temperaturas anormais” de até 24ºC.

Antes do racionamento, que começou na quinta-feira (11) e afetará cerca de 10 milhões de pessoas, os moradores de La Calera já abriam as torneiras sem sair uma gota d’água, já que a Prefeitura local ordenou desde o início do ano uma restrição de quatro horas diárias sem o serviço. “Tem coisas que a gente não pode fazer, por exemplo lavar o carro (…), os sapatos, dar banho no animal de estimação (…) Não faço faxina em casa com tanta frequência”, diz Escobar, designer gráfica de 36 anos.

Outras grandes cidades da região, como Montevidéu, Cidade do México e Lima – sem a abundância de recursos hídricos de Bogotá – também sofreram problemas de abastecimento de água nos últimos meses em consequência do El Niño.

Para o presidente, Gustavo Petro, Bogotá está sendo afetada pela onda de calor ainda mais do que a Guajira, no desértico extremo norte do país. “Nossa previsão a respeito da crise climática em uma seca e calor imprevisível nos fez acreditar que seria” o departamento (estado) da “Guajira o ponto mais crítico.

Atualmente, se encontra em Bogotá”, escreveu o chefe de Estado na rede X. “Haverá secas piores da que estamos enfrentando”, acrescentou, ao alertar que 17 milhões de pessoas em todo o país não têm acesso à água potável bem “no meio de uma crise climática”. A ONG Fundo Mundial para a Natureza (WWF, na sigla em inglês) classifica a Colômbia como uma “potência hídrica mundial” por suas zonas úmidas, rios, lagos, lagoas e pântanos.

La Calera fica nas encostas do páramo (campo andino) Chingaza, cujos reservatórios fornecem 70% da água que chega a Bogotá. Mas seu nível caiu drasticamente, o que as autoridades qualificaram como o pior momento desde sua construção, em 1980.

O prefeito Juan Carlos Hernández relata como o riacho de San Lorenzo, fonte de água do município, secou. “A vazão diminuiu: dos 23 litros por segundo que tínhamos a possibilidade de captar, caiu para nove, dez litros por segundo”, conta.

A seca preocupa Lorena Lee, proprietária de uma cafeteria em La Calera, que teve que reduzir o horário de funcionamento de seu estabelecimento enquanto não há água. Ela precisou recusar pedidos de clientes porque não tinha como preparar as refeições.

Um indicador de nível de água é visto no reservatório de San Rafael em La Calera, 14 km a Nordeste de Bogotá. O Instituto de Hidrologia, Meteorologia e Estudos Ambientais (Ideam) alertou que os colombianos continuariam a sofrer os efeitos do fenômeno El Niño com escassez de água. | LUIS ACOSTA/AFP/METSUL METEOROLOGIA

Após o início do racionamento, a ministra do Ambiente, Susana Muhamad, assegura que a seca se deve a uma “nova realidade climática” e a condições para as quais “a cidade e a região têm que se adaptar”. Muhamad estima que apenas no final de abril ou início de maio voltará a chover com força suficiente para aliviar a situação de emergência nos reservatórios.

Em Bogotá e nos demais municípios afetados pelo racionamento, os bairros não terão água por 24 horas a cada 10 dias, dependendo do turno que lhes corresponder. “A situação é crítica”, admite o prefeito da capital, Carlos Fernando Galán. Em vários restaurantes de Bogotá usava-se água coletada em baldes para lavar a louça.

Nos dias que antecederam o racionamento, a empresa pública do aqueduto registrou um aumento no consumo de água e alertou que se a tendência se mantiver ou aumentar, serão adotadas medidas mais restritivas quando avaliarem os resultados dentro de suas semanas.

Lorena Lee diz que terá que fechar sua cafeteria quando for a vez de La Calera fazer o racionamento. “Logicamente, isto afeta um dia de vendas, é um peso porque os valores em aluguel, serviços (públicos) não param, mas não há nada a fazer”, lamenta.

Em janeiro, a falta de chuvas causou centenas de incêndios florestais na Colômbia, que consumiram cerca de 17.100 hectares de mata. Em Bogotá, as Colinas Orientais que cercam a capital queimaram por vários dias, cobrindo parte da capital colombiana com muita fumaça.

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