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O Oceano Pacífico Equatorial gradualmente começa a ingressar em condições de El Niño, de acordo com a análise da MetSul Meteorologia, mas ainda não há um El Niño configurado. A anomalia de temperatura da superfície do mar já está em patamar de El Niño e a atmosfera lentamente começa a apresentar sinais de condições do fenômeno.

Conforme o último boletim semanal da Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera (NOAA), dos Estados Unidos, divulgado na segunda-feira, a anomalia de temperatura da superfície do mar era de 0,5ºC na denominada região Niño 3.4, no Pacífico Equatorial Central, que é usada oficialmente para definir se há um El Niño na forma clássica e de impacto global.

O valor está exatamente no limite da neutralidade (-0,4ºC a +0,4ºC) com El Niño fraco (+0,5ºC a +0,9ºC), ou seja, pela primeira vez a região de referência para se aferir a condição do Pacífico ingressou em território de El Niño.

A anomalia semanal da temperatura da superfície do mar na região Niño 3.4 (5°S-5°N, 170-120°W) de +0,5°C foi a mais alta nesta região em pouco mais de três anos (desde a semana centrada em 22 de abril de 2020).

Por outro lado, a região Niño 1+2, perto das costas do Equador e do Peru, que costuma impactar as precipitações e a temperatura no Sul do Brasil em qualquer época do ano, estava com anomalia de +2,4ºC, em nível de El Niño costeiro forte a muito forte.

El Niño costeiro não é El Niño clássico ou canônico. Trata-se de evento oceânico-atmosférico de aquecimento anômalo das águas do Oceano Pacífico equatorial nas proximidades das costas sul-americanas, junto ao Peru e Equador, que afeta o clima de países como Peru, Equador e às vezes o Chile.

É fenômeno local que não afeta todo o clima mundial e diferente do El Niño na sua forma clássica ou canônica, este de impacto global com aquecimento das águas irradiado na faixa equatorial, o que se espera para os próximos meses.

Por que ainda não há El Niño?

A anomalia da temperatura da superfície do mar na região Niño 3.4 atingiu pela primeira vez patamar de El Niño nos últimos dias, entretanto ainda não se pode ainda afirma que um evento de El Niño tenha começado no Oceano Pacífico.

Anomalias positivas de ao menos 0,5ºC no Pacífico Equatorial Centro-Leste são necessárias para a caracterização de um El Niño, contudo por si só não são suficientes. São necessárias várias semanas consecutivas com aquecimento de no mínimo 0,5ºC nesta parte do Pacífico para que se declare um El Niño.

Mas não apenas isso. Como o El Niño é um fenômeno oceânico-atmosférico é preciso ainda que a atmosfera na região passe a se comportar como em El Niño. Até recentemente, não havia qualquer sinal de que a atmosfera estava migrando para uma fase do fenômeno.

Um dos indicadores é o chamado Índice de Oscilação Sul (SOI em Inglês). É preciso que seja fortemente negativa para indicar mudanças na circulação de Walker, mas nos últimos meses esteve perto da média com -1,8 em março e -1,2 em abril. Mas mudanças começam a ser vistas. A SOI média dos últimos 30 dias até 18 de maio caiu para -6,7.

Quando os valores são negativos há enfraquecimento na diferença de pressão de superfície que normalmente existe entre o Oeste e o Centro-Leste do Pacífico e uma redução dos ventos de Leste para Oeste que são o componente-chave da circulação de Walker.

O que pode acelerar a chegada do El Niño

Modelos de previsão do tempo seguem indicando que haverá no Pacífico o que se chama de “estouro de vento de Oeste”, tradução livre para “Westerly Wind Burst”. Quando isso ocorre há tendência de aquecimento maior das águas tanto em superfície como abaixo da superfície do mar, gerando o que se denomina de Onda Kelvin.

Um Estouro de Vento de Oeste colabora para que águas mais quentes atinjam a superfície do oceano, gerando o súbito e acelerado aquecimento do mar. Este tipo de ocorrência (WWB) costuma ser a largada de episódios de El Niño na sua forma clássica e de repercussão global.

Já houve um entre fevereiro e março que desencadeou o começo do aquecimento do Pacífico, a instalação de um El Niño costeiro e sentenciou o fim do evento de La Niña. Agora se prevê um segundo evento que deve acelerar a chegada do El Niño na sua forma clássica com aquecimento mais irradiado na faixa equatorial do oceano.

Um “estouro de vento de Oeste” é um fenômeno comumente associado a eventos de El Niño, em que os típicos ventos alísios de Leste a Oeste ao longo do Pacífico equatorial mudam para Oeste a Leste. A literatura define como ventos sustentados de ao menos 25 km/h de Oeste durante período de 5 a 20 dias.

El Niño pode ser muito forte

A média de uma dezena de modelos de clima dinâmicos processada pela Universidade de Colúmbia de Nova York indica o pico de intensidade do evento de El Niño para o trimestre de outubro a dezembro deste ano com anomalia média de +1,54ºC, ou seja, no patamar de um El Niño de moderado a forte.

Ocorre que alguns modelos, sendo que vários entre os principais usados internacionalmente e gerados por grandes centros meteorológicos mundiais, indica um aquecimento para o segundo semestre deste ano em patamar de El Niño muito forte a intenso, mesmo em patamar do que se convencionou chamar de Super El Niño.

Vários destes modelos indicam para o segundo semestre anomalias na região do Pacífico Centro-Leste (Niño 3.4) acima de 2ºC, ou seja, El Niño muito forte. Mais do que isso, há modelos sinalizando anomalias entre 2,5ºC e 3,0ºC, o que é um Super El Niño. Chama muito a atenção a projeção do modelo australiano, historicamente mais conservador e sem viés de exagerar, que indica 2,7ºC.

Não existe uma definição técnica de Super El Niño. A regra é considerar um El Niño fraco se as anomalias estão entre +0,5ºC e +0,9ºC no Pacífico Equatorial Centro-Leste, moderado entre +1ºC e +1,4ºC, forte de +1,5º a +2,0ºC e muito forte acima de +2ºC. Muitos meteorologistas no mundo inteiro, porém, adotaram a expressão Super El Niño para anomalias ao redor ou acima de +2,5ºC.

Efeitos do fenômeno

O fenômeno El Niño deve provocar um significativo aumento da chuva no Sul do Brasil. Após três anos de La Niña com sucessivas estiagens, o El Niño deve trazer uma sequência de meses de chuva acima a muito acima da média no Sul do país, em particular no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Podem ocorrer eventos extremos de precipitação com inundações, enchentes e deslizamentos de terra. Algumas enchentes podem ser de maiores proporções.

No Norte e no Nordeste do Brasil, ao contrário, o El Niño traz uma redução significativa da chuva e favorece secas no território nordestino. Modelos indicam uma marcada redução da chuva no Norte do país nos próximos meses.

Muitas previsões indicam que os efeitos do El Niño somente se sentirão a partir da primavera, mas as consequências do forte aquecimento do Pacífico devem se sentir já no inverno, quando se espera os índices de precipitação aumentem no decorrer da estação no Sul do Brasil. O período mais crítico, conforme a climatologia histórica e as projeções dos modelos, é que seria na primavera com muita chuva e temporais frequentes. Desenha-se, assim, um segundo semestre extremamente chuvoso em áreas do Sul.

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