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Estradas e ruas seguem inundadas em Dubai três dias após tempestade com volume de chuva sem precedentes no desértico Emirados Árabes Unidos | GIUSEPPE CACACE/AFP/METSUL METEOROLOGIA

Quando chuvas torrenciais inundaram sua casa em Dubai, Riaz Haq esperava que os níveis de água baixassem assim que parasse de chover. Mas, em vez de diminuir, a água continuou subindo ainda mais. “Deitamos, a água estava a meio metro”, disse o advogado britânico, lembrando-se da tempestade de terça-feira que inundou casas, shoppings, escritórios e estradas. “Acordamos e estava a um metro. Meus carros estavam submersos, água até a cintura. Tudo está arruinado”.

Haq, sua esposa e seu cachorro passaram mais de dois dias presos no andar superior de sua casa de dois andares antes de serem finalmente resgatados por um barco de um vizinho na quinta-feira. O casal, que só conseguiu salvar um pouco de pão e petiscos, não comeu durante a maior parte desse tempo, sobrevivendo com algumas garrafas de água.

“Geladeira, freezer, até meu carro estava flutuando. Tudo estava flutuando”, disse ele à AFP. “Eu tinha um carro novinho. Está tudo arruinado”, afirmou. Muitas casas foram inundadas no desastre e houve cortes generalizados de energia. “É uma situação de desastre natural. Ninguém estava preparado para esse nível de destruição”, acrescentou.

Durante o sofrimento deles, Haq, sua esposa e seus vizinhos – cerca de 18 famílias em uma comunidade residencial suburbana – estavam com muito medo de atravessar a água fedorenta até a altura da cintura, temendo eletrocussão.

A falha na drenagem da água provou ser um grande obstáculo para os esforços de recuperação no país desértico, com inundações persistentes bloqueando estradas ao redor de Dubai dias depois. Estradas intransitáveis afetaram os serviços básicos, com supermercados incapazes de reabastecer e muitos funcionários com dificuldades para chegar aos seus locais de trabalho.

O aeroporto de Dubai, o mais movimentado do mundo em passageiros internacionais, sofreu muito com a falta de funcionários, com cancelamentos e atrasos de voos esperados continuarem até o fim de semana. Karim Elgendy, diretor associado da consultoria de engenharia Buro Happold, disse que a drenagem de águas pluviais não foi amplamente incluída no planejamento da cidade, grande parte da qual tem apenas alguns anos.

“Alguém deve ter vetado isso por causa do fato de que quase não chove. Essa conversa, eu acho, foi breve”, disse à AFP. “A água está presa. Se você tem uma superfície dura como a estrada ou o aeroporto, para onde ela vai? O solo é muito duro (para absorver água)”, acrescentou Elgendy.

Sem drenagem para o excesso de água, as autoridades dependem de caminhões de bombeamento para sugar a água com mangueiras gigantes e levá-la embora. Elgendy chamou isso de uma medida “paliativa”. Sublinhou que é muito difícil instalar sistemas de águas pluviais uma vez que a infraestrutura tenha sido construída. “Depois que uma cidade é construída de certa forma, a adaptação da gestão de águas pluviais é quase impossível”, disse.

Quatro pessoas morreram após as chuvas mais intensas já registradas nos ricos em petróleo Emirados Árabes Unidos, incluindo duas mulheres filipinas que se afogaram dentro de seu veículo durante a inundação em Dubai.

A mudança climática tornará eventos climáticos extremos mais comuns, alertou Elgendy, dizendo que a tempestade – que despejou até dois anos de chuva no país do Golfo em 30 horas – era consistente com os efeitos do aquecimento global. “O que esse incidente particular destaca é que o cálculo histórico sobre (instalar sistemas de drenagem de águas pluviais) mudou, porque há um custo”, disse.

Uma das principais autoestradas de Dubai permanecia fechada nesta sexta devido a um grande ponto de alagamento intransitável que deixava carros submersos | GIUSEPPE CACACE/AFP/METSUL METEOROLOGIA

Vários pontos de Dubai seguem inundados e em alguns locais somente é possível chegar de barco ou caiaque com ruas tomadas pelas águas | GIUSEPPE CACACE/AFP/METSUL METEOROLOGIA

“E também há um custo reputacional. Essas cenas das pistas e aviões decolando na água -– não acho que isso seja consistente com a Marca Dubai”, acrescentou, referindo-se a imagens amplamente compartilhadas de aviões taxiando em água parada na terça-feira.

O presidente dos Emirados Árabes Unidos, Sheikh Mohamed bin Zayed, ordenou que famílias em risco fossem transferidas para um local seguro e dirigiu um estudo urgente da infraestrutura do país. Embora Haq esteja tranquilizado pelo apoio, a incerteza permanece. “Não sabemos quando poderemos voltar à normalidade”, disse ele. “Eles estão usando caminhões-tanque para remover a água. Vai levar dias. Mas tenho certeza de que as autoridades farão tudo o que podem para nos levar de volta para nossas casas”.

Volume de chuva foi o maior nos Emirados Árabes Unidos desde que foi criado o país. Uso de semeadura de nuvens para fazer chover não teve influência na tempestade histórica. | GIUSEPPE CACACE/AFP/METSUL METEOROLOGIA

O acumulado de chuva em Dubai chegou a 162,8 mm em apenas 30 horas com volume de 142 mm em 24 horas. Choveu em 30 horas o equivalente à média de dois anos de precipitação. Estações meteorológicas registraram ainda 170 mm em Qumaira 🇴🇲, 145 mm em Fujairah e 130 mm no Aeroporto Internacional de Sharjah, perto de Dubai.

A chuva extrema em Dubai não pode ser atribuída à técnica usada nos Emirados de semeadura das nuvens para fazer chover. Choveu em grande parte do Golfo Pérsico e muito, o que modelos de previsão indicavam vários diantes. Omã não fez nenhuma semeadura de nuvens, mas foi ainda mais afetado pelas inundações que os Emirados, com 18 mortes. A chuva na estação de 302 mm in Mahadha, em Omã, chegou a impressionantes 302 mm (Com informações da AFP).

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