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Desolação toma conta de moradores do Vale do Taquari | SILVIO AVILA/AFP/METSUL METEOROLOGIA

O sentimento era de desolação e perplexidade nesta sexta-feira em cidade devastadas pela enchente catastrófica no Vale do Taquari. O cenário era de devastação em municípios como Roca Sales, Muçum e Santa Tereza, onde a água subiu metros e destruiu quase tudo que havia pelo caminho, alcançando o segundo andar de construções e forçando moradores a se refugiarem nos telhados.

O número oficial de mortos pelo desastre pela chuva subiu para 36, de acordo com o governo do estado. São quinze vítimas fatais em Muçum, sete em Roca Sales, duas em Lajeado, duas em Estrela, duas em Ibiraiaras, uma em Mato Castelhano, uma em Passo Fundo e uma em Cruzeiro do Sul.

Até o início da noite desta quarta-feira, a Defesa Civil estadual contabilizou 79 municípios atingidos, 2.319 pessoas desabrigadas e 3.575 desalojadas. Estima-se em 56.787 o número total de afetados. Há nove pessoas desaparecidas.

Dois municípios decretaram situação de emergência e incluíram a documentação no Sistema Integrado de Informações sobre Desastres: Santa Tereza e Nova Roma do Sul. A decretação é o primeiro passo dado pelos municípios que necessitam de apoio dos governos estadual e federal para a solicitação de ajuda humanitária e de recursos financeiros para as ações de resposta, restabelecimento e reconstrução.

Após sobrevoar as áreas atingidas pelo temporal, o governador Eduardo Leite anunciou a decretação do estado de calamidade pública no Rio Grande do Sul. O decreto está em elaboração e deve ser publicado até o fim do dia.

Além disso, os desfiles de 7 de setembro, que estavam marcados para amanhã, foram suspensos em todo o estado. O cancelamento objetiva concentrar todos os trabalhos e atenções no atendimento às vítimas. As ações de salvamento também envolvem o Exército Brasileiro.

A bordo de um helicóptero da Força Aérea Brasileira (FAB), Leite percorreu as áreas atingidas acompanhado pelo Ministro da Integração e do Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, e pelo Ministro-Chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Paulo Pimenta.

Após o sobrevoo, a comitiva visitou abrigos que estão recebendo desalojados, reuniu-se com prefeitos e lideranças da região e, por fim, concedeu coletiva de imprensa em Lajeado. Leite definiu o cenário de destruição no Vale do Taquari como “devastador”. “Vimos comunidades totalmente submersas. É desolador, há muita destruição. Tive de segurar o choro em alguns momentos. E sabemos que mais mortes podem ser constatadas. Essa situação dói e nos toca. Mas devemos nos manter firmes para dar todo o suporte à população”, disse o governador.

Cenário de guerra no vale

O cenário em algumas áreas do Vale do Taquari é de uma zona de guerra. As Defesas Civis dos municípios atingidos pela enchente estão contabilizando o número de desalojados e desabrigados.

A região tem 351.999 habitantes e mais de 14 mil pessoas foram afetadas. Em Muçum, em torno de 87% das pessoas foram atingidas, o que corresponde a cerca de 4 mil pessoas. Além disso, já são 15 óbitos. Encantado contabiliza 23 mil habitantes atingidos pelas águas. Possui 4.500 pessoas desalojadas e 1.090 desabrigadas.

Violência da correnteza causou devastação em Muçum | SILVIO ÁVILA/AFP/METSUL METEOROLOGIA

Moradores se desesperam ao ver a destruição em Muçum | SILVIO AVILA/AFP/METSUL METEOROLOGIA

Comércio de cidades do Vale do Taquari foi destruído | SILVIO AVILA/AFP/METSUL METEOROLOGIA

Em Cruzeiro do Sul são 1.300 pessoas desalojadas. Lajeado tem 732 pessoas desabrigadas. Em Estrela são 600 pessoas desabrigadas. Arroio do Meio contabiliza cerca de 600 pessoas desalojadas e 600 desabrigadas.

Em Colinas são 450 desalojados e 50 desabrigados. Em Bom Retiro do Sul, o número de desalojados está em 300 pessoas. Em Taquari são 96 desalojados e em Venâncio Aires são 94 desalojados. Roca Sales ainda não conseguiu contabilizar os números, mas grande parte da população foi afetada.

Nova onda de temporais

Segundo episódio de chuva volumosa e tempestades da semana atinge o Rio Grande do Sul entre nesta quinta e na sexta. Todas as regiões gaúchas serão atingidas. A MetSul adverte que serão dois momentos com tempo severo.

O primeiro será o da frente quente que atua com maior intensidade nesta quinta sobre o Uruguai, Oeste e Sul gaúcho. Frentes quentes são pródigas em produzir chuva localmente torrencial, granizo e muitos raios. No segundo momento, impulsionada por ciclone no Leste da Argentina e ar frio na retaguarda, a frente quente passa a ser fria e se desloca para Norte.

Ao avançar no final desta quinta e no começo da sexta, a frente fria trará chuva forte e temporais – alguns fortes a severos – com vento e granizo na sua passagem pelo Centro, Noroeste, Norte e o Nordeste gaúcho. A frente fria alcança a área de Porto Alegre na madrugada desta sexta, mas a capital já terá chuva durante a quinta pela frente quente. Já que a frente fria se deslocará rapidamente, há alto potencial de vento forte com possibilidade de vendavais com danos em algumas cidades.

Vai chover muito? A má notícia é chuva, mas a boa é que não será extrema naquelas cidades sob inundações. Maiores volumes desta vez ocorrerão nas áreas que menos tiveram água no início desta semana, casos do Oeste, fronteira com o Uruguai, Campanha e o Sul.

A chuva em pontos do Oeste e do Sul passará de 100 mm, ou seja, alguns locais terão apenas hoje e amanhã a média de chuva do mês. Na Metade Norte, nas áreas afetadas por enchentes, embora não sejam previstos volumes extremos, vai chover forte em muitos pontos.

Várias cidades terão marcas perto e acima de 50 mm, o que é muito para apenas 24 horas de instabilidade, mas parece pouco diante das marcas extremas de 200 mm a 400 mm começo da semana. Atenção: não se antecipa repique de cheia dos rios Caí e Taquari. O risco associado ao retorno da chuva, pelo solo muito saturado de umidade, é de deslizamentos e quedas de barreiras.