A exata dimensão do desastre no Chile ainda não é totalmente conhecida pelo governo em Santiago, mas as autoridades já sabem que o saldo é avassalador. Há mais de 120 mortos, centenas de desaparecidos e o número de moradias atingidas pelos incêndios florestais devastadores se aproxima de 15 mil. Trata-se do maior desastre no Chile desde o violentíssimo terremoto de 2010.
IMAGEM | Dezenas de milhares de pessoas perderam seus lares nos incêndios no Chile. Muitos retornaram tentando encontrar pertences nas cinzas. O clima é de desolação nas comunas destruídas. Albergues foram abertos. Fotos de Javier Torres, Lucas Araos e Rodrigo Arangua via @AFP. pic.twitter.com/tVg2Cd4lH5
— MetSul Meteorologia (@metsul) February 5, 2024
Milhares de pessoas tentam se erguer das cinzas nos morros de Viña del Mar, na região de Valparaíso, centro do Chile, devastada por um dos incêndios florestais mais mortais do século XXI, com um balanço atualizado nesta segunda-feira de 122 mortos.
Os violentos incêndios de sexta-feira deixaram sem luz, água e sob uma nuvem de fumaça moradores de Quilpué e Villa Independencia, duas das áreas mais povoadas desta região, situada a 120 km de Santiago.
“Ainda estou com um nó na garganta e não tanto pelos bens materiais (…) Perdi vários amigos vizinhos aqui perto, outros quatro mais acima. Isso é o que dói mais”, lamentou Hugo de Filippi, um mecânico de 34 anos, emocionado com a ajuda dos vizinhos e estudantes para limpar uma área com ruas bloqueadas de escombros carbonizados e ainda cheirando a fumaça.
Em Viña del Mar, os moradores se mobilizaram durante todo o dia levando água, roupas e comida às áreas mais castigadas pelas chamas. Com pás e vassouras, famílias e grupos de amigos subiram os morros em mutirões de limpeza.
“Não há explicação. De verdade este é um desastre. No ano passado, fomos afetados por um incêndio florestal e isto é seis vezes pior. Hoje, estamos tirando escombros […], depois vamos levar o que falta casa por casa”, disse à AFP Camila Pérez, de 23 anos, que se organizou com seu pai, seu companheiro e irmãos para levar ajuda a El Olivar.
O tráfego piorou com a chegada dos voluntários, gente que quer ajudar as famílias e dar assistência aos animais de estimação. Também trabalham no local bombeiros e equipes oficiais em busca de vítimas nos locais incendiados.
A região costeira está com grande parte dos hotéis sem funcionários porque foram afetados pela catástrofe, que deixou um rastro de casas queimadas nos morros e vias estreitas cheias de veículos que até agora não se sabe se estavam estacionados ou ocupados por pessoas que tentavam fugir.
O último balanço desta segunda-feira elevou a 122 o número de mortos, dos quais apenas 32 puderam ser identificados, segundo o Serviço Médico Legal. As autoridades têm reiterado que é difícil o trabalho “de levantamento de corpos” porque até domingo havia locais com focos de incêndio próximos, mas também porque há veículos e casas carbonizados. “Há 190 desaparecidos em Viña del Mar”, disse a prefeita da cidade, Macarena Ripamonti, que acrescentou que 20.000 moradores foram afetados.
Nesta segunda-feira, voltou a ser adotado um toque de recolher noturno entre as 21h e 05h de terça-feira para facilitar os trabalhos dos médicos legistas, a limpeza de escombros e tentar repor alguns serviços públicos. Ainda sem números de pessoas que perderam suas casas, são quase 15.000 as residências danificadas, informou o vice-secretário do Ministério do Interior, Manuel Monsalve.
Alguns focos dos incêndios começaram na quarta-feira, no mesmo dia em que foi registrada uma onda de calor com temperaturas acima dos 40º C, e na tarde sexta-feira se espalharam em questão de horas.
Embora as condições meteorológicas tenham melhorado, as equipes combatem ao menos 40 incêndios, com alguns focos que causaram evacuações preventivas ao Norte de Santiago e em Galvarino, 400 km ao Sul da capital, perto de uma extensa região devastada pelas chamas em fevereiro do ano passado.
IMAGEM | Fotos aéreas, feitas com drone, mostram incêndio atingindo a comunidade de Las Pataguas, em Viña del Mar, no Chile, onde centenas de casas foram atingidas pelas chamas. A região segue sob toque de recolher. Fotos de Javier Torres da agência @AFP. pic.twitter.com/CReqluRuyf
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IMAGEM | As autoridades chilenas ainda não possuem uma contabilidade exata de moradias destruídas pelo fogo em Viña del Mar e Valparaíso. As estimativas variam entre 3 mil e 6 mil construções. Fotos de Javier Torres e Rodrigo Arangua da agência @AFP. pic.twitter.com/RecoDtCGb8
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IMAGEM | Bombeiros de várias regiões do Chile foram mobilizados para combater os incêndios em Viña del Mar e Valparaíso. Eles recebem ajuda dos carabineiros e de militares. Ainda há incêndios fora de controle nesta noite. Fotos de Javier Torres e Rodrigo Arangua da agência @AFP. pic.twitter.com/mzZRRtzW40
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As regiões mais castigadas ficam em uma região que há décadas é superpovoada sem planejamento e na qual, por sua proximidade com a costa do Pacífico e também de Santiago, moram famílias de classe média e outras em assentamentos precários e carentes. A alta densidade populacional em terrenos de difícil acesso, somada à seca prolongada no Chile e às altas temperaturas, facilitaram a propagação das chamas.
Tanto o presidente Gabriel Boric quanto o Ministério do Interior já declararam suspeitar que os incêndios tenham sido provocados e prometeram investigar até encontrar os responsáveis. Uma onda de calor atinge nestes dias o Cone Sul, com marcas acima de 40ºC na região e que chegaram a 46ºC na Argentina.
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