As investigações futuras até podem mostrar que as causas do desastre do ultimo domingo do voo 8501 da empresa AirAsia que fazia a rota entre a Indonésia e Cingapura sejam radicalmente diferentes das que levaram às quedas dos voo 447 da Air France em junho de 2009 (228 mortos) e o 2553 da Austral em outubro de 1997 (74 mortos), entretanto é inegável a enorme semelhança no cenário meteorológico nas três tragédias aéreas. Os três aviões que tiveram seu fim em tragédias sem sobreviventes encontraram tempo muito severo em suas rotas com enormes nuvens de tempestades de até 15 km de altura.


Tanto o QZ8501 da AirAsia que está agora no fundo do Mar de Java como o AF447, que caiu no Atlântico junto à costa brasileira, encontraram tempestades muito fortes associadas à chamada Zona de Convergência Intertropical ou ZCIT. Trata-se de faixa de nuvens de temporal que circunda o globo junto à linha equatorial (ZCIT). Nesta época do ano, a ZCIT está mais ao Sul e afetava a área do voo da AirAsia. É a época de monções na região e países do Sudeste asiático na região em que se deu o desastre aéreo enfrentavam graves enchentes no dia em que se deu a queda do Airbus com 162 pessoas a bordo.


O piloto do voo 8501 pediu para subir a 38 mil pés pelo mau tempo em rota, o que foi negado pelo controle de tráfego aéreo de Jacarta. Imagens de satélite da última posição radar da aeronave da AirAsia indicavam nuvens de 53 mil pés (arte acima da MetSul e carta abaixo) com condições por demais propícias a congelamento (icing). Logo após decolar de Surabaya (Indonésia) o piloto já passou ao lado de uma grande área de tempestade que estava a Leste, mas no caminho em direção à Cingapura havia paredão de tempestades que não era possível desviar se a meta era seguir viagem até o destino previsto.


Os voos 447 da Air France e o Austral 2553 têm histórias muito semelhantes. Tempestades, congelamento e tubos pitor. Fazendo a rota entre Rio de Janeiro e Paris, o avião francês encontrou tempestades sobre o Atlântico e sumiu. As investigações mostraram que houve o congelamento dos chamados tubo pitot, usados na indicação da velocidade, o que levou a leituras erradas e determinou uma série de reações equivocadas na cabine de comando que sentenciaram o avião à queda. O voo 2553 da empresa argentina Austral fazia a rota entre Posadas e Buenos Aires. Caiu no Oeste do Uruguai. Igualmente, houve o congelamento dos tubos pitot com a tripulação errando na reação aos dados equivocados, precipitando o desastre.


No caso do voo 2553, as investigações mostraram que o congelamento nos tubos pitor levou a uma leitura de baixa velocidade do DC-9. Em resposta ao que interpretaram como perda de força do mar, os pilotos argentinos aumentaram a potência do motores e não observaram mudança. A tripulação, então, decidiu baixar os “slats” das asas para manter altitude e reduzir o risco de estolar. Como o avião estava em velocidade acima do normal e já descendo, o que aumentou ainda mais a velocidade do aparelho, um dos slats foi arrancado ante a velocidade acima dos limites estruturais, o que gerou uma assimetria catastrófica do fluxo de ar sobre as asas. O avião, assim, se tornou incontrolável e caiu. Na queda, a caixa-preta indicou um aumento da velocidade de 300 km/h para 800 km/h em 3 segundos, o que significa o súbito descongelamento dos tubos pitot. A estimativa é que o DC-9 da Austral colidiu contra o solo a 1200 km/h no até hoje pior acidente aéreo ocorrido no Uruguai.