Carlo Barbante, diretor italiano do Instituto de Dinâmica de Processos Ambientais da Universidade Ca’Foscari de Veneza, Patrick Ginot, engenheiro de pesquisa da O Instituto Francês de Pesquisa para o Desenvolvimento (IRD) e o Laboratório de Glaciologia e Geofísica Ambiental (LGGE) e chefe da missão no Col du Dome e Jerome Chappellaz, diretor de pesquisa do Centro Nacional Francês de Pesquisa Científica (CNRS) carregam uma parte do um núcleo de gelo em Chamonix, Leste da França, após a extração de dois núcleos de gelo em uma geleira como parte do projeto “Protegendo a Memória do Gelo”. | PHILIPPE DESMAZES/AFP/METSUL METEOROLOGIA

Uma equipe de pesquisadores começará a perfurar o gelo que cobre o arquipélago norueguês de Svalbard nesta terça-feira numa corrida contra o tempo para salvar séculos de dados climáticos e ambientais antes que sejam eliminados pelo aquecimento global.

“As geleiras em altas latitudes, como as do Ártico, começaram a derreter em grande velocidade”, afirmou a fundação Ice Memory em seu comunicado. “Queremos recuperar e preservar, para as futuras gerações de cientistas, esses arquivos extraordinários do clima do nosso planeta antes que toda a informação que eles contêm desapareça”, diz Carlo Barbante, diretor do Instituto de Ciências Polares do Conselho Italiano de Pesquisa Científica e vice-presidente da fundação.

Oito cientistas da França, Itália e Noruega, juntamente com um especialista em perfuração e um guia de montanha, estão encarregados de extrair duas amostras cilíndricas de um comprimento total de 125 metros, em cortes de um metro. Uma amostra será analisada imediatamente e a outra será armazenada na Antártica para futuras gerações.

Os glaciologistas enxergam como “sua matéria-prima está desaparecendo para sempre da superfície do planeta. Nossa responsabilidade, como glaciólogos da nossa geração, é conseguir preservar um pouco” desse material, disse à agência AFP o presidente da Ice Memory, Jérôme Chappellaz, nesta segunda-feira.

A equipe montou seu acampamento a 1.100 metros de altitude, na região de Holtedahlfonna, repleta de rachaduras perigosas, com temperaturas entre -25°C e -5°C. Ao longo de 20 dias, a equipe é responsável por extrair os cilindros, que têm 10 cm de diâmetro.

As amostras destinadas a viajar para a Antártida, no outro extremo do planeta, serão armazenadas na base franco-italiana de Concórdia, onde foi condicionada uma caverna natural a uma temperatura média de -50°C. As amostras de gelo abrigarão a memória climática dos últimos 300 anos, principalmente em suas minúsculas bolhas de ar presas no gelo.

Criada em 2015, a iniciativa franco-italiana Ice Memory já coletou amostras nos Alpes, Andes, Cáucaso e Altai. O projeto prevê realizar extrações em um total de 20 locais ao redor do mundo para coletar dados da criosfera sobre o clima passado e preservá-los para o futuro.