Anúncios

Conferência mundial do clima no Egito vive seus momentos mais decisivos após um acordo sobre fundo de compensação por danos para países menos desenvolvidos | FAYEZ NURELDINE/AFP/METSUL METEOROLOGIA

A conferência do clima do Egito (COP27) entrou em suas horas decisivas neste sábado após um acordo sobre um dos pontos mais importantes, um fundo de perdas e danos provocados pela mudança climática. Depois de 24 horas de negociações intensas, “um acordo foi alcançado sobre a criação deste fundo específico os países vulneráveis”, disse uma fonte europeia que pediu anonimato.

Sherry Rehman, ministra de Mudanças Climáticas do Paquistão e atual presidente do poderoso grupo de negociação G77+China, que inclui mais de 130 países, disse que está “otimista a respeito de uma resolução positiva”. A presidência egípcia da COP27 distribuiu durante o dia um novo rascunho de comunicado final entre as quase 200 delegações, após uma noite de negociações intensas.

O prazo original para o fim da conferência era sexta-feira (18). O novo texto foi apresentado depois de um ultimato europeu, que denunciou o que considerava um “retrocesso inaceitável”. De acordo com os representantes europeus, a presidência egípcia queria provocar um retrocesso do compromisso dos quase 200 países membros da COP de continuar reduzindo as emissões de gases do efeito estufa, o que é conhecido como o capítulo de mitigação nas negociações.

A UE prefere “não ter um resultado do que ter um resultado ruim”, afirmou o vice-presidente da Comissão Europeia, Frans Timmermans. “A grande maioria das partes indicou que considerava o texto equilibrado e que pode resultar em um consenso”, respondeu pouco depois o chanceler egípcio Sameh Shoukry, que preside a COP27.


A mitigação é imprescindível para manter de pé o objetivo de limitar o aquecimento do planeta a +1,5ºC, como estabelecido no Acordo de Paris de 2015. O novo rascunho inclui demandas de países desenvolvidos, principalmente Estados Unidos e da União Europeia, e exigências dos países em desenvolvimento.

“Esperamos ter as duas coisas que farão desta uma COP viável: o compromisso com 1,5ºC, com decisões claras, e o fundo”, declarou a ministra colombiana do Meio Ambiente, Susana Muhamad.

Os países mais vulneráveis aos desastres naturais exigem a criação do fundo há 30 anos. E este foi o tema dominante da 27ª conferência do clima da ONU, que começou em 6 de novembro. As negociações aceleraram depois que os europeus aceitaram contemplar a criação do fundo, em troca basicamente de duas condições.

A primeira é “ampliar a base de doadores”, ou seja, integrar os países que se tornaram grandes emissores de gases do efeito estufa, como a China. E a segunda condição é obter um compromisso forte e explícito a respeito da mitigação, para manter o objetivo do limite de +1,5ºC.

Os vínculos entre um fundo de compensações, quem contribui para o mesmo e a mitigação das emissões chegaram a paralisar as negociações, segundo várias fontes consultadas pela AFP.

“Parece que há um acordo com os líderes das negociações nos grupos, mas aguardamos o golpe de martelo que marcará o pacto final”, disse à AFP o coordenador da delegação jamaicana, Matthew Samuda.

O representante chinês, Xie Zhenhua, disse que a participação dos países em desenvolvimento neste fundo deve ser “voluntária”. “Como vocês podem imaginar, nenhum grupo poderia dizer que todos os seus interesses estão contemplados”, explicou o chanceler egípcio Shoukry.

“Há insatisfação em todas as partes, mas há uma grande maioria que apoia o texto”, insistiu o chanceler. Shoukry afirmou na sexta-feira que todas as questões estavam “entrelaçadas”. Nas conferências do clima da ONU todas as decisões devem ser tomadas por consenso. A delegação dos Estados Unidos não falou durante os debates, mas atuou nas salas de negociações, de acordo com várias fontes.

Segundo o Acordo de Paris de 2015, que estabeleceu as bases do atual compromisso contra a mudança climática, a responsabilidade diante da mudança climática é comum, embora diferenciada, ou seja, que os países desenvolvidos devem contribuir muito mais com base em seu histórico de emissões e uso de recursos naturais.

Entre os países em desenvolvimento há uma desconfiança considerável pelas promessas não cumpridas do passado. Em 2009, os países desenvolvidos prometeram que desembolsariam a partir de 2020 a quantia de 100 bilhões por ano para ajudar na adaptação dos países pobres às mudanças climáticas e na redução de suas emissões, ao mesmo tempo que iniciam a transição energética. O valor de 100 bilhões, que ainda não foi completado, deve ser aumentado, em princípio, a partir de 2025.

Anúncios