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Os próximos dias prometem ser de alto risco de tempo severo no Rio Grande do Sul, mas como o que vem aí se compara com o ciclone de junho que deixou 16 mortos e mais de 60 municípios gaúchos em emergência por chuvas extremas, cheias e danos pelo vento?

Carro carregado pela inundação repentina foi parar sobre os túmulos do cemitério do município de Caraá no ciclone do mês passado que foi um dos maiores desastres naturais da história gaúcha | SÍLVIO ÁVILA/AFP/METSUL METEOROLOGIA

Esta é a pergunta que as pessoas fazem, mas não é nada fácil de responder. Por que não é fácil? Porque simplesmente não são situações idênticas ou sequer parecidas. O quadro meteorológico dos próximos dias é muito diferente e muito mais complexo que o de junho.

Para começar, serão dois eventos de tempo severo, um logo depois do outro, com vários dias de duração, e não como em junho que foi único e durou 24 horas a 48 horas, conforme a área. O primeiro entre sexta e sábado agora, e o segundo entre o final da segunda e a quarta-feira.

Ademais, nos próximos dias haverá fenômenos que não ocorreram em junho. Em junho, a causa foi única: um ciclone muito perto da costa por várias horas seguidas impulsionando enorme quantidade de umidade do mar para o continente que em contato com o relevo da Serra do Mar gerou chuva de natureza orográfica (associada ao relevo) com volumes extraordinários.

Agora, serão múltiplos fenômenos em atuação. Entre sexta e sábado, haverá uma frente fria e uma baixa pressão que vai dar origem a um ciclone que se torna maduro mais distante da costa a partir de uma baixa pressão que se move de Oeste para Leste. Em junho, a baixa pressão do ciclone veio do mar para o continente e ficou por muitas horas bastante perto da costa.

Por isso, a MetSul Meteorologia espera muita chuva – tal como em junho – e menor impacto de vento. O perigo maior de vento se dará por ocasionais vendavais isolados associados a temporais durante a atuação de uma frente quente e depois uma frente fria na semana que vem.

Entre segunda e quarta da semana que vem, uma frente quente chega do Norte ao Rio Grande do Sul – e este sistema é conhecido por gerar chuva forte com temporais – que depois vai se converter em uma frente fria que ao encontrar ar quente vai gerar mais tempestades.

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Uma baixa pressão, ademais, pode dar origem a ciclone no Atlântico com uma alta polar com ar gelado ingressando pelo Norte da Argentina. Este ciclone da semana que vem tem ainda uma incógnita: a sua posição. Mas, se perto ou longe da costa, já se pode antecipar que o ar frio que vai impulsionar chegará aqui com vento e rajadas. Até porque ciclones tão distantes, na costa da Patagônia, podem gerar vento forte aqui em ingresso de ar polar forte, como se espera na semana que vem.

Ainda a título de comparação, interesse é analisar dois critérios objetivos: intensidade e abrangência. E, neste sentido, obviamente, é preciso avaliar duas variáveis presentes no ciclone de junho: chuva e vento. Recordando que chuva e vento foi a causa da maioria das vítimas do ciclone de junho.

O vento agora no final da semana será menos intenso que em junho. Mês passado, o vento atingiu 102 km/h na estação de Tramandaí, derrubou centenas de árvores em Porto Alegre e deixou quase dois milhões de gaúchos sem luz. Não é algo que se preveja para agora.

Já a chuva, embora volumosa, deve ter acumulados menores em curto período na maioria das cidades mais atingidas pelo sistema de junho. Porém, vai chover com altos volumes numa área maior que a do mês passado. Ou seja, mais lugares, menos extremo.

Em muitos locais inundados em junho, os volumes em 24 horas, assim, devem ser menores agora. Só que há uma diferença nada boa agora. Serão dois eventos de chuva excessiva, um logo depois do outro.  Com efeito, em muitas cidades (não todas) a chuva da soma dos dois eventos (o do final desta semana e o da semana que vem) poderá superar o que choveu no ciclone de junho e isso tem implicações para rios.

Projeção do modelo europeu de chuva acumulada no final desta semana e na próxima semana indica acumulados de 200 mm a 300 mm em uma extensa área do Rio Grande do Sul | METSUL

O episódio de instabilidade da próxima semana tem ainda potencial para temporais isolados fortes de vento intenso de curta duração ou granizo, algo que não se teve em junho por ter sido um ciclone, em que o vento sopra com rajadas por horas consecutivas.

O contraste de ar muito quente e frio semana que vem será enorme e isso é preocupante quanto ao risco de temporais que são rápidos e às vezes violentos, causando danos em segundos ou minutos, enquanto ciclones como o de junho duram muitas horas.