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Dois episódios de instabilidade em sequência devem trazer chuva intensa e volumosa para o Rio Grande do Sul. Porto Alegre está na área de maior risco de precipitações excessivas e pode voltar a sofrer com alagamentos e inundações. | RODGERM TIMM/PMPA

A MetSul Meteorologia alerta que dois eventos de chuva intensa e tempestades atingirão o Sul do Brasil em apenas cinco dias sob um cenário meteorológico bastante complexo. A condição atmosférica durante a segunda semana de julho no Sul do país será de enorme instabilidade com a atuação de uma frente fria, uma frente quente, centros de baixa pressão (um com potencial de configurar ciclone junto à costa), uma massa de ar muito quente, uma massa de ar muito frio, e uma intensa corrente de jato, o que levará a altos acumulados de precipitações e alta probabilidade de tempo severo.

A instabilidade maior vai se dar em dois momentos. O primeiro, entre esta sexta (7) e o começo do sábado (8). O segundo, entre segunda (10) e quarta-feira (12) da próxima semana. Serão duas situações distintas de tempo severo com características sinóticas diferentes, mas ambas trarão condições de risco de chuva excessiva e temporais na parte meridional do Brasil.

Nenhuma delas se assemelha ao cenário dos dias 15 e 16 de junho, quando uma baixa pressão avançou do Sudeste para a costa do Rio Grande do Sul, gerando um ciclone extratropical muito perto da costa e com grande advecção de umidade para os morros da Serra do Mar, o que levou a um evento de precipitação extrema de natureza orográfica (associada ao relevo).

Embora ofereçam significativos riscos para a população por excesso de chuva e tempestades que, localmente, podem ser severas, estes dois eventos previstos terão baixas pressões que se movimentarão de Oeste para Leste, o normal na região, e não como no evento de junho em que o sistema migrou em direção à costa, antes de afastar para mar aberto.

O risco de temporais é válido para os três estados do Sul, especialmente no evento da semana que vem, mas o perigo de chuva excessiva com volumes muito altos na soma dos dois episódios é maior para o Rio Grande do Sul, onde os acumulados de precipitação devem ser bastante altos e dentro do que poderia se esperar em um mês de julho sob El Niño.

A MetSul Meteorologia enfatiza que, apesar de não se antecipar uma situação como a dos dias 15 e 16 de junho, a população deve estar muito atenta aos riscos de fenômenos severos neste dois episódios de instabilidade, em particular o da próxima semana pelo maior potencial de temporais fortes a severos.

O primeiro evento

O tempo começou a mudar hoje no Rio Grande do Sul com aumento de nebulosidade e chuva sem volumes expressivos no Sul e parte do Leste do estado, embora o sol apareça em diversos pontos do estado. Amanhã, a chuva afeta o Oeste e o Sul e depois atinge pontos da faixa central do estado no fim do dia.

A instabilidade aumenta na sexta com o deslocamento de uma frente fria e o aprofundamento de um centro de baixa pressão (toda a baixa é ciclônica seja fraca ou intensa) no fim do dia sobre o Nordeste do estado. No sábado, entre a madrugada e de manhã, a instabilidade atinge o seu máximo de intensidade. Da tarde para a noite de sábado, com o afastamento da área de baixa pressão, a instabilidade cede e o tempo começa a apresentar gradual melhoria.

Projeção de pressão atmosférica em superfície e chuva em seis horas do modelo europeu para sexta de manhã | METSUL

Projeção de pressão atmosférica em superfície e chuva em seis horas do modelo europeu para sexta de tarde | METSUL

Projeção de pressão atmosférica em superfície e chuva em seis horas do modelo europeu para sexta de noite | METSUL

Nuvens carregadas se formam sobre o Rio Grande do Sul na sexta com chuva na maior parte do estado. Chuva que será acompanhada de raios e trovoadas, e que deve ser forte a intensa em alguns momentos. As condições atmosféricas se deterioram muito principalmente na segunda metade do dia, sobretudo à noite. No sábado, o período mais crítico será o da madrugada e da manhã com chuva forte e volumosa com raios e trovoadas.

Projeção de pressão atmosférica em superfície e chuva em seis horas do modelo europeu para sábado de madrugada | METSUL

Projeção de pressão atmosférica em superfície e chuva em seis horas do modelo europeu para sábado de manhã | METSUL

Projeção de pressão atmosférica em superfície e chuva em seis horas do modelo europeu para sábado de tarde | METSUL

O cenário é propício para pancadas por vezes torrenciais que podem gerar elevados volumes em curto período, assim que podem ocorrer alagamentos e inundações repentinas. Da mesma forma, a presença de nuvens convectivas (carregadas) com uma corrente de jato transportando ar quente e uma baixa pressão atuando, pode gerar temporais com alta incidência de raios, ocasional granizo e vento forte.

Estas nuvens carregadas não permitem se afastar vendavais em alguns pontos com rajadas mais fortes. Como vai estar chovendo muito, o solo fica mais instável e podem ocorrer quedas de árvores. Outro risco é de cortes de energia, mas, dadas as características deste evento, não se antecipa situação de desabastecimento de luz na escala do episódio do mês passado.

Não vai esfriar muito porque não existe uma massa de ar frio de maior intensidade avançando no interior do continente. Por isso, a baixa pressão vai dar origem a um ciclone sobre o mar no fim de semana, mais afastado do continente. Repetimos: um ciclone pode se formar no fim de semana, mas sobre o mar e mais distante da costa.

Projeção de vento em 1.500 metros de altitude do modelo americano GFS para sábado | METSUL

Projeção de vento em 1.500 metros de altitude do modelo americano GFS para o domingo | METSUL

Observe nos mapas acima com o vento em 850 hPa (1.500 metros de altitude) como no sábado não se observa um campo de vento forte típico de ciclone configurado, embora haja uma área de baixa pressão, mas apenas vento forte do quadrante Norte associado a uma corrente de jato em baixos níveis sobre Santa Catarina e no Paraná. Já entre o final do domingo e a segunda-feira é possível ver um ciclone configurado, sobre o mar, originado da baixa pressão que passou pelo Rio Grande do Sul, mas uma grande distância do continente. Por isso, está a se dizer que é muitíssimo diferente o cenário do visto em junho e menos grave neste primeiro evento.

Segundo evento

A trégua da forte instabilidade será muito curta no Sul do Brasil. Um segundo evento de tempo severo é projetado para a primeira metade da próxima semana e este será mais abrangente e com potencial de ser mais forte e ter maiores impactos. Por isso, enquanto o primeiro evento – desta sexta e do sábado – vai afetar mais o Rio Grande do Sul, este segundo episódio de mau tempo terá maior impacto em Santa Catarina e no Paraná, além do estado gaúcho.

O cenário é bastante complexo, assim é importante se estabelecer uma cronologia. Na segunda, fortes áreas de instabilidade se formam sobre o Paraná e começam a avançar de Norte para Sul, impulsionadas por ar muito quente que vai estar ingressando pelo interior do continente sobre o Paraguai. Isso vai gerar uma frente quente clássica, um fenômeno típico de inverno, que se propaga para o Sul e levará chuva e trovoadas com risco de temporais isolados até o fim do dia ao Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

Projeção de pressão atmosférica em superfície e chuva em seis horas do modelo europeu para segunda de manhã | METSUL

Projeção de pressão atmosférica em superfície e chuva em seis horas do modelo europeu para segunda de tarde | METSUL

Projeção de pressão atmosférica em superfície e chuva em seis horas do modelo europeu para segunda de noite | METSUL

Na terça, a frente vai estar sobre o Rio Grande do Sul com chuva e temporais, enquanto ar muito quente cobre o Paraná, Santa Catarina e talvez o Norte gaúcho com sol e muito calor para esta época do ano. Ao longo do dia, à medida que ar muito gelado avança pelo interior do continente com um centro de alta pressão, a frente perderá suas características quentes e passará a ser uma frente fria.

Projeção de pressão atmosférica em superfície e chuva em seis horas do modelo europeu para terça de madrugada | METSUL

Projeção de pressão atmosférica em superfície e chuva em seis horas do modelo europeu para terça de manhã | METSUL

Projeção de pressão atmosférica em superfície e chuva em seis horas do modelo europeu para terça de tarde | METSUL

Projeção de pressão atmosférica em superfície e chuva em seis horas do modelo europeu para terça de noite | METSUL

Com efeito, a terça-feira é um dia de alto risco de chuva forte a intensa com altos volumes e ainda temporais que isoladamente podem ser fortes a severos com muito raios, granizo isolado e potencial para vendavais localizados.

Na quarta, como frente fria, o sistema faz o caminho contrário da segunda-feira e avança de Sul para Norte, impulsionado por uma massa de ar polar. A frente se desloca com chuva e risco de tempestades pelo Sul do Brasil, atingindo ainda o Rio Grande do Sul no começo do dia e depois Santa Catarina e o Paraná. Até o fim do dia chegaria ao Centro-Oeste e ao estado de São Paulo, também com chuva e risco de temporais.

Projeção de pressão atmosférica em superfície e chuva em seis horas do modelo europeu para quarta de madrugada | METSUL

Projeção de pressão atmosférica em superfície e chuva em seis horas do modelo europeu para quarta de manhã | METSUL

Projeção de pressão atmosférica em superfície e chuva em seis horas do modelo europeu para quarta de tarde | METSUL

Projeção de pressão atmosférica em superfície e chuva em seis horas do modelo europeu para quarta de noite | METSUL

Sublinhamos que o avanço da frente fria será precedido por uma intensa corrente de jato em baixos níveis da atmosfera entre terça e quarta. A troca de massas de ar, de muito quente para muito fria, será acentuada e brusca. Este é o cenário clássico de tempo severo no auge do inverno no Sul do Brasil e de elevado risco e perigo de tempestades fortes a severas com vento. No passado, neste tipo de situação, ocorreram até tornados, especialmente em áreas com maior altitude, como a Serra Gaúcha, o Planalto Médio do Rio Grande do Sul e o Oeste e o Meio-Oeste de Santa Catarina.

Projeção do modelo GFS indica intensa corrente de jato em baixos níveis na terça-feira antes do avanço de uma frente fria com agravamento do potencial de fenômenos severos de vento | METSUL

A massa de ar frio será forte pelos indicativos de hoje e de trajetória continental com potente centro de alta pressão no Norte da Argentina e o Paraguai. Normalmente, neste tipo de alta polar continental, forma-se um ciclone a Leste da alta pressão.

Modelo GFS indica ciclogênese na costa gaúcha na quarta | METSUL

Ciclone sobre o Atlãntico projetado pelo modelo GFS para a metade da próxima semana e que se formaria a Leste de um potente centro de alta pressão continental com ar polar | METSUL

Por isso, os indicativos pelos modelos que um ciclone poderia se formar sobre o Atlântico a Leste do Sul do Brasil na quarta-feira da semana que vem e e que faria o ar polar chegar com fortes rajadas de vento (Minuano) e muito baixa sensação térmica na quarta-feira. Uma vez que o solo estará saturado pelo excesso de chuva, o vento pode causar quedas de árvores e ocasionais problemas na rede elétrica.

Volumes de chuva

Volumes muito altos de chuva e localmente excessivos devem ser esperados por conta destes dois episódios de instabilidade. Ambos trarão chuva volumosa e a soma da precipitação dos dois eventos fará com que os acumulados de chuva sejam bastante altos, em particular no Rio Grande do Sul.

Observe os dois mapas a seguir, ambos do modelo meteorológico europeu. O primeiro traz a chuva apenas do primeiro episódio de instabilidade, em que se observa a perspectiva de chover perto ou mais de 100 mm em pontos numa faixa perto do Centro gaúcho do Oeste ao Leste do Rio Grande do Sul. No segundo mapa, com a soma dos dois eventos, nota-se como os volumes podem ser excessivos sobre parte do Rio Grande do Sul com marcas acima de 100 mm em muitas cidades e pontos com 200 mm a 300 mm.

Projeção de chuva do modelo europeu até o final desta semana | METSUL

Projeção de chuva do modelo europeu para oito dias | METSUL

Porto Alegre e a região metropolitana, assim como os vales e as áreas do Nordeste gaúcho que sofreram com inundações em junho, estão na zona de maior risco de chuva volumosa. Assim que as comunidades destas regiões devem estar atentas à possibilidade de alagamentos e novas inundações.

Mas não apenas estas áreas. Outras regiões do Rio Grande do Sul que não sofreram impactos do sistema de junho também podem ter chuva volumosa e excessiva, como locais do Centro para o Oeste e parte da Metade Sul gaúcha. Também nestas áreas do território gaúchos os acumulados de precipitação até a metade da semana que vem devem ser bastante altos.

Desta forma, há potencial para cheias de rios em várias bacias do estado na metade deste mês. A identificação de quais rios têm potencial maior de cheias dependerá das projeções de chuva dos próximos dias e dos volumes que vierem a se precipitar nos dois eventos. O cenário de chuva do primeiro episódio de instabilidade parece consolidado, mas do segundo está sujeito ainda a mudanças.

Como consultar os mapas

Todos os mapas neste boletim podem ser consultados pelo nosso assinante (assine aqui) na nossa seção de mapas. A plataforma oferece mapas de chuva, geada, temperatura, risco de granizo, vento, umidade, pressão atmosférica, neve, umidade no solo e risco de incêndio e raios, dentre outras variáveis, com atualizações duas a quatro vezes ao dia, de acordo com cada simulação. Na seção de mapas, é possível consultar ainda o nosso modelo WRF de altíssima resolução da MetSul.

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