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As maiores médias de chuva mensais no ano ocorrem no inverno e na primavera no Rio Grande do Sul, mas foi no outono que se deram as duas grandes enchentes da história gaúcha e quase na mesma data, no começo de maio de 1941 e no início de maio de 2024.

GUSTAVO MANSUR/SECOM-RS

Em comum entre as duas grandes enchentes, havia a presença do fenômeno El Niño atuando no Oceano Pacífico Equatorial. Na enchente da década de 40, um forte a intenso evento do fenômeno era registrado, o que se repetiu em 2024.

A história mostra que no outono do ano seguinte ao começo de um evento de El Niño cresce muito o risco de enchentes no Rio Grande do Sul, o que se verificou em muitos anos e particularmente em 1941 e 2024.

Este outono de 2025 é o primeiro depois da grande enchente de 2024 e, naturalmente, as pessoas se questionam se há a possibilidade nesta estação de repetição do que se viu e enfrentou quase doze meses atrás.

Então, de pronto é possível deixar muito claro que o outono de 2025 de nenhuma forma é uma repetição de 2024. Os dados analisados mostram um padrão atmosférico regional e global de circulação da atmosfera muito distinto do ano passado.

Em 20 de março do ano passado, o Pacífico Equatorial estava com anomalia de 1,3ºC no começo da estação, com um El Niño moderado a forte. O Pacífico começava a transição de El Niño para neutralidade mais tarde na estação.

Hoje, a transição é de La Niña para neutralidade. Não há El Niño canônico (clássico) e a anomalia de temperatura da superfície do mar no Pacífico Equatorial Centro-Leste está em 0,3ºC.

Fim de 2023 e o começo de 2024 foram de forte El Niño enquanto o começo de 2025 foi com La Niña muito fraca | IRI

Ou seja, uma das principais causas do desastre do fim de abril e de maio de 2024 no Rio Grande do Sul não está presente. Não há El Niño hoje e, ao contrário de 2024, os meses precedentes ao outono foram de Pacífico mais frio do que a média enquanto em 2023-2024 foram de temperatura do mar muito alta.

É importante salientar que cheias de rios no Rio Grande do Sul podem ocorrer com o Pacífico em qualquer dos seus estados (Niño, Niña e neutro), mas o risco aumenta demais na fase quente (Niño).

Mas não apenas o Pacifico foi determinante para a catástrofe climática do outono de 2024 no estado gaúcho. O Atlântico foi também extremamente relevante para a chuva com volumes excepcionais.

Atlântico Tropical Sul teve aquecimento sem precedentes nas semanas que precederam a grande enchente no Rio Grande do Sul | NOAA

As semanas que precederam a grande enchente de 2024 tiveram temperatura do mar muitíssimo acima do normal e em patamares recordes no Atlântico Tropical, tanto Norte como Sul.

Os níveis de aquecimento do Atlântico Tropical foram recordes nos primeiros meses de 2024, o que levou a um intenso debate científico sobre as causas (aerossóis, erupção do Hunga Tonga, poeira do Saara e etc.).

Semanas antes da grande enchente, a MetSul Meteorologia publicou diversos materiais sobre o aquecimento espantoso do Atlântico Tropical e chegou a destacar que os cientistas estavam alarmados com o que viam à época.

Atlântico Tropical com aquecimento recorde em abril de 2024 | COPERNICUS

Atlântico Tropical muito menos quente neste começo de 2025 | COPERNICUS

Hoje, o cenário no Atlântico Tropical é muito distinto. A região possivelmente é que no momento apresenta a maior variação de temperatura em relação ao mesmo período do ano passado entre os oceanos do planeta. As águas estão com temperatura muito menor que em março e abril de 2024.

As enchentes do fim de abril e maio de 2024 foram consequência de complexo cenário oceânico-atmosférico que parte das causas foram de variabilidade natural do clima (El Niño), mas parte originada pela atividade humana, o aquecimento do planeta.

O aquecimento do planeta e as médias globais de temperatura seguem muito acima da média do período pré-industrial (1850-1900) nestes primeiros meses do ano, mas em fevereiro começaram a apresentar valores inferiores a 2024.

Em síntese, o cenário oceânico-atmosférico deste começo de outono é muito distinto do que se observava nesta mesma época, semanas antes da grande enchente. A condição atual faz com que a probabilidade de uma repetição neste outono do evento de 2024 seja muito menor.

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