El Niño persiste no Oceano Pacífico Equatorial neste final do mês de outubro com intensidade moderada a forte. Desde 2015 as águas não estavam tão quentes nesta época do ano na faixa equatorial do Oceano Pacífico, mas o aquecimento é menos pronunciado do que há oito anos, quando do Super El Niño daquele ano. O El Niño pouco se intensificou ao longo do mês que termina hoje e o mês acaba com anomalias de temperatura da superfície do mar parecidas com as do final de setembro e o início de outubro.
O último boletim semanal de outubro sobre o estado do Pacífico da agência climática dos Estados Unidos, de 25 de outubro, indicou que a anomalia de temperatura da superfície do mar era de 1,6ºC na denominada região Niño 3.4, no Pacífico Equatorial Central.
Esta região é a usada oficialmente na Meteorologia como referência para definir se há El Niño e ainda avaliar qual a sua intensidade. O valor positivo de 1,6ºC está na faixa de transição de El Niño moderado (+1,0ºC a +1,4ºC) e El Niño forte (+1,5ºC a +1,9ºC), no limite inferior de forte intensidade.
Embora a maioria dos modelos de clima projetasse que o El Niño se intensificaria neste mês de outubro, a tendência nas últimas semanas foi de quase estabilidade. Os boletins de 27 de setembro, 4 de outubro e 11 de outubro vieram com o mesmo valor de anomalia de 1,5ºC. Os boletins semanais de 18 de outubro e 25 de outubro informaram anomalia positiva de 1,6ºC.
A maior anomalia até agora neste episódio de El Niño, que se iniciou em junho, foi de 1,7ºC e registrada no boletim da semana de 20 de setembro. Foi a maior anomalia observada na região Niño 3.4 desde a semana de 9 de março de 2016, quando a anomalia foi de 1,8ºC. O entendimento é que o valor de setembro possa ser igualado ou superado agora em novembro ou dezembro.
Por outro lado, a região Niño 1+2, está com anomalia de +2,6ºC, com El Niño costeiro muito forte junto ao Peru e Equador, aquecimento na região que teve início no mês de fevereiro e que atingiu o seu máximo de intensidade durante o inverno. A maior anomalia de El Niño costeiro na região Niño 1+2 neste ano se deu na semana de 19 de julho com 3,5º C.
A agência de clima dos Estados Unidos declarou o El Niño ainda na segunda semana do mês de junho. O Bureau de Meteorologia (BoM), da Austrália, outro centro mundial de monitoramento do Pacífico, declarou o El Niño apenas em setembro por se valer de parâmetros de análise distintos dos norte-americanos.
Os australianos entendiam que, embora o critério de oceânico estivesse preenchido, a atmosfera ainda não estava respondendo como se estivesse em El Niño, o que, segundo o centro da Austrália, passou a ocorrer em setembro. O El Niño trata-se de um fenômeno oceânico-atmosférico em que há alterações tanto das condições no mar como da atmosfera, impactando o clima em escala global.
Evolução do El Niño
Veja a evolução do El Niño semana a semana desde maio até agora, conforme dados semanais divulgados pela NOAA para a região Niño 3.4, e observe como o fenômeno ainda se intensifica no Oceano Pacífico:
03/05/2023: 0,4ºC
10/05/2023: 0,5ºC
17/05/2023: 0,5ºC
24/05/2023: 0,4ºC
31/05/2023: 0,8ºC
07/06/2023: 0,9ºC
14/06/2023: 0,9ºC
21/06/2023: 1,0ºC
28/06/2023: 0,9ºC
05/07/2023: 1,0ºC
12/07/2023: 1,1ºC
19/07/2023: 1,1ºC
26/07/2023: 1,2ºC
02/08/2023: 1,1ºC
09/08/2023: 1,2ºC
16/08/2023: 1,3ºC
23/08/2023: 1,5ºC
30/08/2023: 1,6ºC
06/09/2023: 1,6ºC
13/09/2023: 1,6ºC
20/09/2023: 1,7ºC
27/09/2023: 1,5ºC
04/10/2023: 1,5ºC
11/10/2023: 1,5ºC
18/10/2023: 1,6ºC
25/10/2023: 1,6ºC
Anomalias entre 0,5ºC e 0,9ºC são de El Niño de fraca intensidade; entre 1,0ºC e 1,4ºC de moderada intensidade; de 1,5ºC a 1,9ºC de forte intensidade; e acima de 2,0ºC de muito forte intensidade ou Super El Niño. No Super El Niño de 2015-2016, a maior anomalia semanal observada na região Niño 3.4 foi de 3,0ºC em 18 de novembro. Já no Super El Niño de 1997-1998, o máximo de anomalia nesta área do Pacífico atingiu 2,3ºC em dezembro de 1997 e no começo de fevereiro de 1998. No Super El Niño de 1982-1983, o máximo foi de 2,6ºC na última semana de 1982.
El Niño ainda pode se intensificar
A tendência é de o fenômeno El Niño seguir influenciando o clima nos próximos meses. Ao menos até o começo ou o meio do outono de 2024 são esperadas condições de fase quente do Oceano Pacífico Equatorial. De acordo com a maioria dos modelos dinâmicos de clima, o pico de intensidade do El Niño se daria entre novembro e dezembro.
O gráfico acima mostra a projeção de duas dezenas de modelos de clima, dinâmicos e estatísticos, para a evolução da anomalia de temperatura da superfície do mar no Pacífico Equatorial Centr0-Leste. Observa-se uma clara distinção entre o que os modelos dinâmico e estatísticos sugerem.
De acordo com a média dos modelos estatísticos, o El Niño estaria neste momento ao redor do pico de intensidade deste evento de 2023/2024 enquanto a média dos modelos dinâmicos sugere que o pico de intensidade do fenômeno se daria no final de 2023. Historicamente, o máximo de intensidade do El Niño ocorre ao redor do Natal, daí o nome do fenômeno em Espanhol (“menino”),
Com pico agora ou no fim do ano, o fato é que o El Niño seguirá ainda por alguns meses. Conforme análise da NOAA, a probabilidade de El Niño será ainda de 80% no trimestre março a maio de 2024. A probabilidade de neutralidade supera a de El Niño apenas no trimestre maio a julho de 2024.
Assim, o restante desta primavera e todo o verão de 2024 ainda terão a presença do El Niño pelas projeção da agência de clima norte-americana. A transição para uma fase de neutralidade, com o fim do episódio de El Niño de 2023/2024, somente se daria durante o outono do próximo ano, mais possivelmente entre meados de abril e maio.
O que é El Niño
Um evento de El Niño ocorre quando as águas da superfície do Pacífico Equatorial se tornam mais quente do que a média e os ventos de Leste sopram mais fracos do que o normal na região. A condição oposta é chamada de La Niña. Durante esta fase, a água está mais fria que o normal e os ventos de Leste são mais fortes. Os episódios de El Niño, normalmente, ocorrem a cada 3 a 5 anos.
El Niño, La Niña e neutralidade trazem consequências para pessoas e ecossistemas em todo o mundo. As interações entre o oceano e a atmosfera alteram o clima em todo o planeta e podem resultar em tempestades severas ou clima ameno, seca ou inundações. Tais alterações no clima podem produzir resultados secundários que influenciam a oferta e os preços de alimentos, incêndios florestais e ainda criam consequências econômicas e políticas adicionais. Fomes e conflitos políticos podem resultar dessas condições ambientais mais extremas.
Ecossistemas e comunidades humanas podem ser afetados positiva ou negativamente. No Sul do Brasil, La Niña aumenta o risco de estiagem enquanto El Niño agrava a ameaça de chuva excessiva com enchentes. Historicamente, as melhores safras agrícolas no Sul do país se dão com El Niño, embora nem sempre, e as perdas de produtividade tendem a ser maiores sob La Niña. O El Niño agrava o risco de seca no Norte e no Nordeste do Brasil enquanto La Niña traz mais chuva para estas regiões.
A origem do nome “El Niño” data de 1800, quando pescadores na costa do Pacífico da América do Sul notavam que uma corrente oceânica quente aparecia a cada poucos anos. A captura de peixes caía drasticamente na região, afetando negativamente o abastecimento de alimentos e a subsistência das comunidades costeiras do Peru. A água mais quente no litoral coincidia com a época do Natal.
Referindo-se ao nascimento de Cristo, os pescadores peruanos, então, chamaram as águas quentes do oceano de El Niño, que significa “o menino” em espanhol. A pesca nesta região é melhor durante os anos de La Niña, quando a ressurgência da água fria do oceano traz nutrientes ricos vindos do oceano profundo, resultando em um aumento no número de peixes capturados.
O último episódio de El Niño se deu entre 2015 e 2016 e foi de muito forte intensidade, o que rendeu a expressão Super El Niño e o apelido de “El Niño Godzilla”. Este evento foi responsável por grandes enchentes no Sul do Brasil e alguns dos maiores picos de cheia do Lago Guaíba, em Porto Alegre, desde 1941.