Anomalia de temperatura do mar no Oceano Pacífico em 10 de março de 2020

Março começou com quadro de neutralidade no Oceano Pacífico Equatorial e a situação tende a seguir em curto e médio prazos, sem influência de fenômenos de grande escala como El Niño ou La Niña que poderiam afetar o clima mundialmente.

A anomalia da temperatura da superfície do mar no Pacífico Equatorial Central ou região Niño 3.4, utilizada para identificar se há El Niño ou La Niña, está em +0,5°C, no limiar entre uma neutralidade e El Niño fraco, mas a atmosfera na região tem condições características de neutralidade. Já o Pacífico Equatorial Leste, junto à América do Sul, a região Niño 1+2, tem anomalia de +1,0°C. 

Como podemos ter estiagem no Estado se não há La Niña. A associação linear entre El Niño e chuva ou La Niña e seca é falsa. A pior estiagem no Rio Grande do Sul neste século, em 2005, ocorreu oficialmente com El Niño, apesar de um resfriamento no Pacífico Leste.

Anomalia de temperatura do mar no Oceano Pacífico em fevereiro de 2005

Da mesma forma que houve verões com La Niña em não houve estiagem tão forte como a deste ano. Há uma falsa correlação, propalada até por meteorologistas, que neutralidade é normalidade e que estando o Pacífico Centro as condições de chuva e temperatura ficariam dentro da média histórica.

Dados históricos mostram que havendo El Niño há maior propensão para chuva abaixo da média e com La Niña abaixo da média, mas havendo neutralidade não existe uma condição específica que seja mais provável com todos os cenários possíveis.

Estudo intitulado “Associação entre El Niño Oscilação Sul e a produtividade do milho no Estado do Rio Grande do Sul” de Moacir Berlato e outros autores analisou a produtividade de milho no Rio Grande do Sul de outubro a março entre 1920 e 2003 e concluiu que em 32% dos anos com neutralidade a produção ficou abaixo do normal por falta de chuva, em 32% na média e 36% acima, evidenciando que sob neutralidade não há um viés claro de precipitação e que podem ocorrer anos tanto chuvosos como secos.

A mesma pesquisa mostrou que 25% dos anos com El Niño, tradicionalmente associado à chuva, tiveram perda de produtividade e 15% dos anos com La Niña, tradicionalmente associado à seca, houve produtividade acima da média. Em síntese, havendo neutralidade as probabilidades de chuva ficar acima, na média ou abaixo de distribuem quase igualmente e todos os cenários podem ser razoavelmente esperados.

E o que vem pela frente nos próximos meses? Hoje, a perspectiva é de manutenção do quadro de neutralidade agora no outono, ao menos até o final do primeiro semestre. Alguns modelos climáticos de longo prazo indicam a possibilidade de um evento de La Niña na segunda metade deste ano, mas consideramos muito prematuro se prever o fenômeno, ainda mais não havendo um razoável consenso dos modelos em torno de um possível resfriamento do Pacífico que levasse a um quadro de La Niña. 

Como complicador, entre março e junho existe o que se denomina de “barreira de previsibilidade”, um período do ano em que modelos de clima que traçam cenários para o Pacífico observam uma queda dos seus índices de confiabilidade (skill).