Conferência mundial do clima de 2022 começou neste domingo no Egito com polêmico tema da compensação a países pobres pelos danos das mudanças climáticas | JOSEPH EID/AFP/METSUL METEOROLOGIA

A conferência internacional da ONU sobre as mudanças climáticas (COP27) começou neste domingo no balneário egípcio de Sharm el-Sheikh em meio a alertas contra o aquecimento global e grande nervosismo com o desabastecimento energético, além da grande expectativa com a volta do Brasil ao protagonismo ambiental.

Trinta anos depois da histórica Cúpula da Terra, popularmente conhecida como Eco-1992, o Brasil poderia voltar à primeira linha do combate às mudanças climáticas. A COP é o grande evento anual da ONU para o enfrentamento das mudanças climáticas.

Desta vez, a temática africana estará em primeiro plano pela vontade do país anfitrião de dar voz às reivindicações do continente: basicamente mais ajuda para a adaptação ao impacto ecológico e a medidas colaterais, como um perdão à dívida externa.

Mas a guerra na Ucrânia, a angústia da Europa frente à grande crise do gás e do petróleo e as eleições legislativas de meio de mandato nos Estados Unidos, em 8 de novembro, ameaçam dominar, mais uma vez, uma conferência que reúne, até o próximo dia 18, praticamente toda a comunidade internacional – quase 200 membros.

Na segunda-feira, 7, e na terça-feira, 8, será realizada uma cúpula de líderes políticos com 125 participantes, segundo dados da presidência egípcia. O presidente norte-americano, Joe Biden, confirmou presença. A cúpula, contudo, será marcada também por ausências importantes, como a dos presidentes russo, Vladimir Putin, e chinês, Xi Jinping.

A China é o maior emissor de gases de efeito estufa do planeta e as relações bilaterais com os Estados Unidos, que vêm logo em seguida, estão estremecidas atualmente, o que não facilita as complexas negociações no âmbito da COP, onde todas as decisões são tomadas por consenso.

A comunidade internacional se comprometeu durante a histórica COP21 de Paris, em 2015, a limitar o aumento da temperatura média no planeta a um máximo de 2ºC, e preferencialmente a 1,5ºC até o fim do século. Ao invés disso, o aquecimento global poderia chegar a 2,8ºC, segundo o último relatório da ONU.

“Nós nos encaminhamos para uma catástrofe global”, advertiu na semana passada o secretário-geral da ONU, António Guterres. E as emissões de gases de efeito estufa vinculadas à energia continuarão aumentando até alcançar seu pico em 2025, segundo a Agência Internacional da Energia (AIE).

Em meio a temores de uma recessão mundial, a COP27 começa precisamente sob a ameaça de bloqueio devido a um tema espinhoso: as “perdas e danos” provocados pelas mudanças climáticas. Os países em desenvolvimento pedem a criação de um fundo para enfrentar estes prejuízos provocados pelas emissões de gases de efeito estufa, das quais são as principais vítimas.

Embora oficialmente as partes negociadoras da COP tenham até 2024 para tomar uma decisão, os “fundos e perdas” estão na agenda provisória de Sharm el Sheikh, que deve ser aprovada na abertura do evento, neste domingo.

“No primeiro dia da COP27, os países desenvolvidos devem responder ao apelo do G77 (bloco de 134 países em vias de desenvolvimento)”, advertiu um relatório recente do norte0americano World Ressources Institute. “Temos boas razões para otimismo”, declarou em coletiva de imprensa Wael Abulmagd, representante da presidência egípcia da COP27.

Os Estados Unidos se mostram relutantes em estabelecer um fundo de perdas e danos. A China é aliada do G77, enquanto a União Europeia está aberta à discussão, ainda que com cautela. A Alemanha, que preside atualmente o clube de países ricos (G7), quer exercer um papel de “ponte”, assegurou sua vice-ministra das Relações Exteriores, Jennifer Morgan.

Além do capítulo perdas e danos, persiste uma demanda em torno dos 100 bilhões de dólares anuais que supostamente os países ricos devem repassar aos mais pobres para mitigarem a emissão de gases de CO2 e se adaptarem aos efeitos das mudanças climáticas. Este montante anual nunca foi alcançado na realidade.

Faltam cerca de 17 bilhões de dólares e os países ricos já estão com dois anos de atraso. “Esta COP tem que demonstrar que existe uma mudança clara nas negociações para a implementação” dos acordos já alcançados, explicou o secretário-executivo para as Mudanças Climáticas da ONU, Simon Stiell.