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O número de mortos causado pelo ciclone tropical Kalmaegi nas Filipinas ultrapassou 100 pessoas nesta quarta-feira à medida que os impactos devastadores na província de Cebu se tornaram mais evidentes após as piores enchentes em décadas causadas pelo tufão.

Moradores de Talisay, em Cebu, nas Filipinas, tentam recuperar o que restou após o tufão Kalmaegi (Tino) destruir casas e causar inundações. O fenômeno deixou ao menos 66 mortos e provocou graves danos em Cebu e Leyte, após tocar terra em 4 de novembro com chuvas torrenciais e ventos fortes. Equipes de resgate e ajuda humanitária já atuam nas áreas afetadas. | DANIEL CENG/ANADOLU/AFP/METSUL

As inundações, descritas como sem precedentes, invadiram cidades e vilarejos da província no dia anterior, arrastando carros, barracos ribeirinhos e até grandes contêineres marítimos.

O porta-voz de Cebu, Rhon Ramos, disse à agência AFP que 35 corpos foram recuperados em áreas alagadas de Liloan, município da região metropolitana da cidade de Cebu. Com isso, o número de mortos apenas em Cebu subiu para 76.

Na vizinha ilha de Negros, ao menos 12 pessoas morreram e outras 12 estão desaparecidas após a chuva intensa provocar fluxos de lama vulcânica que soterraram casas em Canlaon City, informou o tenente Stephen Polinar, da polícia local.

“As erupções do vulcão Kanlaon desde o ano passado deixaram material vulcânico acumulado nas partes altas. Quando a chuva caiu, esses depósitos deslizaram sobre as aldeias”, explicou.

Apenas uma morte em Negros havia sido incluída no balanço anterior do governo, que registrava 17 mortes fora de Cebu. O número também incluía seis tripulantes de um helicóptero militar que caiu durante uma missão de ajuda às vítimas do tufão.

Moradores das áreas mais atingidas em Cebu relataram à AFP o desespero vivido durante a enchente repentina. “Por volta das quatro ou cinco da manhã, a água estava tão forte que não dava nem para sair de casa”, contou Reynaldo Vergara, de 53 anos, dono de uma pequena loja em Mandaue, destruída após o transbordamento de um rio. “Nunca aconteceu algo assim. A água estava furiosa.”

Em Talisay, onde uma comunidade ribeirinha foi arrastada pela correnteza, o jovem Regie Mallorca, de 26 anos, já tentava reconstruir sua casa. “Vai levar tempo, porque ainda não tenho dinheiro. Isso vai demorar meses”, disse, misturando cimento e areia sobre os escombros.

Segundo a meteorologista Charmagne Varilla, a área metropolitana de Cebu recebeu 183 milímetros de chuva nas 24 horas que antecederam a chegada do tufão — muito acima da média mensal de 131 mm. Na terça-feira, a governadora Pamela Baricuatro classificou a situação como “sem precedentes” e “devastadora”.

A tragédia em Cebu ocorre em meio à indignação pública com um escândalo de “obras fantasmas” de controle de enchentes, que teriam custado bilhões de pesos aos cofres públicos.

Na quarta-feira, a governadora Baricuatro sugeriu uma ligação entre o escândalo e o que seu porta-voz chamou de “alagamentos incomuns” em um conjunto de bairros.

“Você começa a se perguntar por que estamos tendo enchentes tão terríveis quando há US$ 452 milhões) destinados a projetos de controle de inundações”, disse em entrevista à ABS-CBN.

“Definitivamente, vimos projetos aqui que eu chamaria de fantasmas”, afirmou, acrescentando que sua equipe não encontrou nenhuma estrutura construída conforme os padrões do governo.

Um porta-voz do Departamento de Obras Públicas e Rodovias, órgão no centro do escândalo, informou que o chefe da pasta, Vince Dizon, já está em Cebu inspecionando os danos do tufão.

As Filipinas são atingidas, em média, por 20 tempestades e tufões por ano, frequentemente em áreas vulneráveis onde milhões vivem em pobreza.
Com Kalmaegi, o país já atingiu essa média em 2025, disse a meteorologista Varilla, acrescentando que “três a cinco tempestades adicionais” podem ocorrer até o fim de dezembro.

O arquipélago já havia sido atingido em setembro por dois fortes sistemas, incluindo o supertufão Ragasa, que arrancou telhados de prédios e matou 14 pessoas em Taiwan.

Por volta das 17h desta quarta-feira, o tufão Kalmaegi avançava para o Mar da China Meridional, em direção ao Vietnã, onde as autoridades alertaram que ele pode agravar os danos após uma semana de enchentes que já deixaram dezenas de mortos.

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