A imagem de satélite abaixo e superior (Cptec/Inpe), pelo canal de vapor d’água, do fim da tarde deste domingo, mostra o ciclone extratropical cobrindo o Rio Grande do Sul com o seu vórtice exatamente sobre o Estado. Observa-se claramente o padrão de espiral de nuvens que é típico e clássico dos ciclones. Chama atenção na imagem o que parece, e apenas aparenta, ser um  (desorganizado) olho. Mas não é. Em outra imagem do mesmo horário (abaixo e inferior), esta do canal infravermelho, se nota que a área do suposto olho está tomada por nuvens. O que induz a percepção do olho na imagem do canal de vapor d’água é o ingresso de ar mais seco no centro do vórtice. Olho em ciclone extratropical em nossa região é muito raro, mas é possível que se forme. São sim mais comuns em sistemas muito intensos que atuam próximos dos polos.  

A chamada “fase madura” dos ciclones, a última, é sempre a mais interessante devido ao aspecto impressionante do sistema nas imagens de satélite. Conforme a teoria modelada por Shapiro-Keyser, um ciclone extratropical passa por diferentes fases de sua formação até a sua maturação. Na fase madura (IV), é que se produz situação interessante, que é descrita na literatura como “warm seclusion” ou segregação de ar quente.  Em um intenso ciclone extratropical a circulação no setor frio do sistema “aprisiona” região de ar mais quente, formando a chamada segregação quente. O ciclone “atrai” ar quente de Norte (no Hemisfério Sul) e o calor latente da precipitação intensa do sistema faz com que o ar fique ainda mais quente. Esse ar mais quente gira em torno do centro do sistema de baixa em superfície, o que explica porque em alguns casos chegam a ocorrer até trovoadas junto ao centro de um ciclone extratropical que é por natureza frio e, assim, menos propício a raios.


Ocorre que, diferentemente, de um furacão (ciclone tropical), os ciclones extratropicais não têm “parede do olho” ou em Inglês “eyewall”, ou mesmo um olho livre de nuvens criado por subsidência (movimentos descendentes na atmosfera). Ciclones extratropicais, porém, podem apresentar o que parece ser um olho. É uma região em que o movimento do ar é ascendente e meramente o centro da tempestade em que o vento gira. Bandas de nuvens em forma de espiral podem se formar ao redor do centro do ciclone extratropical, muito semelhantes à espiral de um furacão. Se as bandas de nebulosidade convectiva ao redor do centro da baixa se tornam intensas, o ar que descende nos flancos das faixas de nuvens acaba por criar subsidência que aquece e seca a atmosfera ao redor, criando uma região de poucas ou sem nuvens perto do centro do ciclone extratropical, semelhante a um furacão que é sim um ciclone tropical. (Com colaboração de Luiz Fernando Nachtigall)