Volumes de chuva em 24 horas ficaram entre 600 mm e 700 mm nos municípios paulista de Bertioga e São Sebastião | PREFEITURA DE SÃO SEBASTIÃO

Um evento extraordinário de chuva assolou o litoral do estado de São Paulo durante o fim de semana. Os volumes de chuva atingiram marcas que não costumam ocorrer na esmagadora maioria dos locais do planeta e que normalmente ocorrem durante a passagem de ciclones tropicais, que por ser um fenômeno de regiões precipuamente tropicais, costuma gerar acumulados extremos de precipitação.

A chuva se aproximou dos 700 mm, tal qual era alertado pela MetSul Meteorologia, o que acabou por produzir inundações catastróficas e grande número de deslizamentos com saldo de mortes e destruição.

De acordo com dados de pluviômetros digitais do Centro Nacional de Previsão de Monitoramento de Desastres, Cemaden, em 24 horas, entre 9h do sábado (18) e 9h do domingo (19), a chuva somou 680 mm em Bertioga, 626 mm em São Sebastião, 388 mm no Guarujá, 337 mm em Ilhabela, 335 mm em Ubatuba, 234 mm em Caraguatatuba: 234 mm, 225 mm em Santos, 203 mm em Praia Grande e 186 mm em São Vicente.

Um milímetro de chuva equivale a um litro de água por metro quadrado. Em pontos de Bertioga e São Sebastião, choveu 400 mm em menos de seis horas no fim do sábado. Assim, a chuva passou de meio metro de altura em distintos pontos do litoral paulista, particularmente numa área entre o Guarujá e Bertioga, a zona mais afetada pela precipitação extrema.

Com quase 700 mm de chuva em horas, muitas pessoas do público e da imprensa questionaram se este era o maior volume de precipitação já registrado no Brasil. A resposta é muito difícil. Apenas mais recentemente há uma maior cobertura de pontos de medição de chuva com o avanço da tecnologia de transmissão de dados.

Não houvesse uma enorme quantidade de pontos de medição do Cemaden na área, e mesmo assim nem todos estavam operacionais, não se teria o dado de chuva de quase 700 mm. Assim, é muito possível que no passado já tenha havido acumulados de chuva maiores sem que tenha havido medição para documentar. O dado de Bertioga é, portanto, a maior chuva já registrada e documentada no Brasil, mas não necessariamente a maior já ocorrida.

Oficialmente, a maior altura de chuva no Brasil pertence à cidade de Florianópolis, capital de Santa Catarina, com um acumulado em 24 horas de 404,8 mm, em 15 de novembro de 1991. Tratou-se de um evento de chuva orográfica, associada ao relevo. Existisse à época a rede de estações da Epagri-Ciram e provavelmente valores muito mais altos de precipitação teriam sido registrados.

Embora o registro oficial de Florianópolis, há um dado não oficial, e superado agora pelo volume de chuva de Bertioga, que caíram 622,5 mm na localidade de Itapanhaú, município de Biritiba Mirim, em São Paulo, no dia 20 de junho de 1947. Há escassas informações sobre este evento e a medição.

No ano passado, a cidade de Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, registrou a maior chuva da história do município em 24 horas. Foram 534,4 milímetros de água acumulados. No bairro São Sebastião, por exemplo, foram 415 milímetros em apenas dez horas.

O dado de chuva do litoral de São Paulo espanta, mas está longe, por exemplo, do recorde mundial (e também do Hemisfério Sul) de precipitação em 24 horas reconhecido pelo comitê de recordes da Organização Meteorológica Mundial. Trata-se do registro de 1285 mm em 24 horas na Ilha Reunião, no Oceano Índico, entre os dias 7 e 8 de janeiro de 1966.

O evento recorde em Reunião ocorreu com a passagem do ciclone tropical Denise no Sul do Oceano Índico. A Ilha da Reunião está localizada a aproximadamente 670 quilômetros a Leste de Madagascar e sua orografia extrema com montanhas de até 3300 metros e vales íngremes amplificam o efeito orográfico na chuva.

No Hemisfério Ocidental, onde está o Brasil, um novo recorde de chuva em 24 horas foi atingido em 2005. É o recorde também do Hemisfério Norte. Das 9h30, horário local, em 21 de outubro de 2005, até 9h30, horário local, em 22 de outubro, um total de 1.633,98 mm de chuva caiu em estação meteorológica automatizada em uma ilha mexicana na península de Yucatán. Este evento de precipitação foi resultado da passagem do furacão Wilma ao passar pela estação de Isla Mujeres, na costa Leste do México.

Seria o registro do litoral paulista o maior da América do Sul? Max Herrera, que relaciona os extremos do clima no mundo inteiro, disse à MetSul que existem dois registros de chuva na Colômbia com valores em 24 horas superiores aos observados no litoral de São Paulo. Um deles, da estação de El Piñon (Chocó), foi de 864 mm de precipitação em 24 horas.