Familiares desesperados buscam parentes desaparecidos e se chocam com as notícias de mais mortes pelas inundações no Leste da República Democrática do Congo. As fortes chuvas na região de Kalehe, na província de Kivu do Sul, causaram transbordamento de rios e deslizamentos de terra que atingiram as aldeias de Bushushu e Nyamukubi. | GLODY MURHABAZI/AFP/METSUL METEOROLOGIA

Famílias e equipes de resgate no Leste da República Democrática do Congo seguem buscando um número desconhecido de desaparecidos cinco dias depois que inundações e deslizamentos de terra provocados por fortes chuvas mataram ao menos 400 pessoas.

O porta-voz do governo congolês, Patrick Muyaya, confirmou o número de mortos fornecido pelo administrador do território de Kalehe, na província de Kivu do Sul, onde aldeias foram destruídas e corpos encontrados no lago Kivu.

Muyaya apresentou um número de 401 mortes durante uma coletiva de imprensa semanal na segunda-feira, mas não especificou o número de pessoas desaparecidas, que as autoridades locais dizem que pode chegar às centenas. De acordo com o escritório de assuntos humanitários da ONU, OCHA, cerca de 3.000 famílias ainda estão sem abrigo.

“Perdi 12 parentes, enterrei cinco corpos até agora e outros sete não foram encontrados”, disse Alpha Safari à AFP na aldeia de Bushushu. “Estou procurando por eles, espero encontrar os corpos para enterrá-los com dignidade”, disse.

Uma parede de lama que desceu da encosta da montanha na noite de quinta-feira cobre parte da vila onde casas e pessoas foram arrastadas, algumas para o lago próximo. Os jovens cavam a terra. Um cobre o rosto. Outro cadáver foi encontrado. “A busca continua porque há muitos corpos sob a devastação”, disse um funcionário da Cruz Vermelha, pedindo para não ser identificado.

“Cada vez que conseguimos demolir uma casa, encontramos corpos”, acrescentou, lamentando a falta de equipamentos adequados para realizar o trabalho. “Havia sete filhos na família, mas sou o único que sobrou”, disse Darcein Bikanaba, outro sobrevivente em Bushushu. “Meu pai e minha mãe também se foram e todos os meus irmãozinhos. “Não tivemos ajuda até agora… Não podemos ficar aqui, é muito perigoso”.

O OCHA detalhou as “necessidades imediatas”, incluindo enterros “dignos e seguros”, bem como cuidados médicos, ajuda alimentar e abrigo. Equipes de emergência das Nações Unidas e ONGs nacionais foram trazidas, disse o OCHA.

A Greenpeace África notou que estas catástrofes evidenciam “a necessidade de as autoridades trabalharem num plano de desenvolvimento nacional fortemente centrado no risco de inundações em determinadas zonas do país”. Especialistas dizem que eventos climáticos extremos estão acontecendo com maior frequência e intensidade devido às mudanças climáticas.

Moradores de Nyamukubi em meio aos escombros após fortes inundações no Leste da República Democrática do Congo. Aldeias de Bushushu e Nyamukubi foram devastadas com centenas de mortos. | GLODY MURHABAZI/AFP/METSUL METEOROLOGIA

O desastre no Leste da República Democrática do Congo ocorreu dois dias depois que as enchentes mataram pelo menos 131 pessoas e destruíram milhares de casas na vizinha Ruanda, do outro lado do lago Kivu. A República Democrática do Congo, uma vasta nação do tamanho da Europa continental ocidental, é um dos países mais pobres do mundo, assolada por corrupção e conflitos no Leste do seu território.

No sábado, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, em visita ao Burundi, observou: “Esta é mais uma ilustração da aceleração das mudanças climáticas e seu impacto desastroso em países que nada fizeram para contribuir para o aquecimento global”, afirmou.