O volume de chuva que atingiu Porto Alegre na quarta-feira foi um dos mais altos dos últimos anos na cidade, segundo os meteorologistas da MetSul Meteorologia. A precipitação em apenas doze horas na cidade praticamente atingiu a média histórica (série 1961-1990) de todo o mês de março de 104,4 milímetros. O meteorologista Luiz Fernando Nachtigall diz que a precipitação foi extraordinária não somente porque os volumes foram muito altos, mas também porque o grande acumulado de chuva se deu em período muito curto.

As estações automáticas do Sistema Metroclima da Prefeitura de Porto Alegre registraram até o começo da tarde da quarta-feira volumes de 89,7 mm no Moinhos de Vento, 86,5 mm no Menino Deus, 81,3 mm na Lomba do Pinheiro, 62,2 mm na Avenida Sertório e 61,4 mm no bairro Lami. Estação automática particular de apoio ao Sistema Metroclima na Chácara das Pedras indicou 74,8 mm. No Jardim Botânico, a estação do Instituto Nacional de Meteorologia acusou um volume de 76,8 mm. De acordo Nachtigall, é provável que em alguns pontos da cidade a precipitação tenha ficado ao redor de 100 mm.



A maior parte dos volumes de chuva em Porto Alegre ocorreu durante dois intensos aguaceiros. Na madrugada, a cidade já tinha registrado ao redor de 15 mm. No começo da manhã, quando se deu a primeira ocorrência de chuva intensa, a Capital teve ao redor de 50 mm, metade da média mensal, em cerca de apenas uma hora. Quando o sistema de drenagem começava a dar conta do grande volume de água ocorrido, no fim da manhã um novo aguaceiro trouxe mais 20 mm a 30 mm de chuva para a maioria dos bairros.



O motivo principal para a chuva intensa foi o avanço de uma frente fria pelo Rio Grande do Sul. Com o avanço de ar seco e frio de Sul, a instabilidade se intensificou do Centro para o Norte do Estado, onde predominava ainda a atmosfera quente e úmida que favoreceu temporais com chuva intensa na véspera na região do Vale do Sinos. Nuvens muito carregadas se formaram entre 7h e 8h da exatamente sobre Porto Alegre, despejando grande volume de água sobre a cidade. Na área metropolitana em quase todo o interior do Estado, as precipitações não foram significativas. A ocorrência de chuva extrema na Capital foi um fenômeno muito localizado. A imagem de satélite em alta resolução do meio da manhã mostra a nebulosidade muito densa que trouxe o primeiro aguaceiro e que rumou para o litoral, e uma segunda nuvem muito carregada a Oeste da Capital que viria a causar o aguaceiro do meio-dia.


O maior volume de chuva em 24 horas (entre 9h de um dia e 9h do outro) em Porto Alegre em março na série histórica 1931-1960 foi de 63,8 mm em 30 de março de 1942, quando a medição ainda era feita no Centro da Capital. Já na série 1961-1990 a altura máxima em 24 horas atingiu 92,9 mm, marca esta registrada na estação do Instituto Nacional de Meteorologia do Jardim Botânico em 8 de março de 1983. Em 1914, março teve um dia em que caíram no Centro de Porto Alegre 38,1 mm em somente 40 minutos, volume semelhante ao registrado no primeiro aguaceiro da manhã de hoje. O maior volume de chuva ocorrido em Porto Alegre na história recente da cidade se deu em maio de 2008, quando um ciclone extratropical trouxe mais de 200 mm de chuva para a zona Sul de Porto Alegre em pouco mais de 24 horas, segundo dados do Sistema Metroclima que já operava à época.