Grandes incêndios na Amazônia causaram comoção mundial em 2019 pela devastação no maior bioma brasileiro, quando o número de focos de calor identificados por satélites foi altíssimo. Naquele ano, o bioma registrou 30.900 focos de calor em agosto, valor acima da média do mês de 26.299. Em 2020, mais um ano com número superior aos padrões históricos com 29.307 focos. Em 2021, a história se repetiu com 28.060 focos.

Em 2022, entretanto, até o dia 21, foram 16.407 focos de calor. Em princípio, o número poderia sugerir uma tendência de o mês terminar com menos focos que a média, afinal o número está em 10 mil focos até o momento abaixo da média histórica, faltando dez dias para o término do mês.

Ocorre que nos últimos dias houve uma forte elevação no número de focos de calor que foram identificados por satélites. Os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais mostram que apenas no dia 17 foram 2.223 focos captados por satélites. No dia 18, outros 914. No dia 20, mais 1.609. E, finalmente, no dia 21, 1.665.

Nos últimos sete dias com dados disponíveis, entre os dias 15 e 21, foram 9.816 focos de calor captados por satélites. Em comparação, nos primeiros sete dias de agosto, o número foi de 2.220, número de uma semana inteira que ficou abaixo do captado apenas no dia 17 deste mês.

Os piores anos de queimada da Amazônia em agosto se deram entre 2002 e 2007, quando os totais de focos de calor foram absurdamente altos. Em 2002, agosto terminou com 43.484 focos. Em 2003, 34.765. Já em 2004, 43.320. Em 2005, o recorde da série histórica do mês com 63.764. Em 2006, 34.208. E, por fim, 2007 com 46.385 focos de calor em agosto. Em 2011, o menor número em agosto com 8.002 focos.

Se a situação na Amazônia piorou muito nos últimos dias, o cenário ainda é pior no Centro da África, nas florestais tropicais da região. Nos últimos sete dias, os satélites da NASA captaram muito mais focos de calor na região que na Amazônia da América do Sul. São usados dados de sete dias ou 30 dias porque números de um único dia, que podem ser influenciados, por exemplo, por chuva, podem mascarar uma tendência e servir como desinformação que já ocorreu no passado.

Cada “ponto quente” vermelho marca uma área onde as bandas térmicas do instrumento MODIS do satélite detectou altas temperaturas. Os países captados na imagem com pontos vermelhos incluem Angola, Zâmbia e a República Democrática do Congo (RDC).

Embora não seja possível determinar como um incêndio começou a partir de uma imagem de satélite, a natureza generalizada dos incêndios no Centro da África, sua localização e a época do ano sugerem que são incêndios que as pessoas intencionalmente atearam para fins agrícolas.

Os agricultores desta região têm usado o fogo há milhares de anos para limpar campos de culturas antigas, preparar campos para novas plantações, limpar vegetação rasteira e renovar pastagens ou savanas. Embora o fogo seja uma maneira barata e eficiente de manejar a terra, especialmente nas terras de savana africana, onde o ecossistema depende de incêndios periódicos para a saúde, o fogo também cria riscos, como poluição da fumaça, liberação de gases de efeito estufa e degradação dos ecossistemas.

Grandes incêndios florestais ocorrem na África subsaariana de agosto a outubro, no final da estação seca. Os incêndios podem ser vistos na região todos os anos, começando por volta de abril, mas tendem a ficar maiores e mais intensos a partir de agosto, alimentados por vegetação seca e por ventos fortes.

Uma pesquisa mostrou que o distrito de Ghanzi, que inclui a Reserva de Caça do Kalahari Central, tende a ver alguns dos maiores incêndios em Botsuana. Entre 2006 e 2017, o fogo queimou mais de 25 milhões de quilômetros quadrados (9,7 milhões de milhas quadradas), mais do que em qualquer outro distrito durante esse período. Um ano particularmente notável foi 2008, quando os incêndios queimaram cerca de 80% da reserva.