Bombeiros combatem um incêndio florestal no último dia de julho na vila de Asseiceira Pequena, em Mafra, Portugal. A pior seca em mais de meio século e uma onda de calor excepcional foram responsáveis por um alto número de incêndios e queimadas no território português no último mês. | PATRICIA DE MELO MOREIRA/AFP/METSUL METEOROLOGIA

O Brasil foi notícia mundial e sofreu fortes críticas nos últimos anos pelos grandes incêndios em vegetação que arrasaram áreas da Amazônia e do Pantanal, especialmente nos meses secos do Brasil Central entre julho e setembro, mas, diferentemente dos últimos anos, não foi o Brasil que chamou atenção pelo fogo no mês de julho. O pior foi no Centro da África.

O mapa mostra a intensidade e emissões globais de energia geradas por incêndios em julho deste ano, de acordo com dados do serviço de monitoramento da atmosfera do Sistema Copernicus, da União Europeia. O cientista-sênior em incêndios florestais e qualidade do ar do Copernicus, Mark Parrington, ressalta que os incêndios mais “notáveis” em julho se deram no estado norte-americano do Alasca, no Canadá, no Sudoeste da Europa (Espanha, França e Portugal) e na Sibéria.

Conforme Parrington, as emissões totais globais de carbono no planeta geradas por queimadas e incêndios foram as mais baixas para julho e também no período de janeiro a julho no conjunto de dados do Sistema Copernicus. O pico se deu no passado, segundo dados do Copernicus.

Os incêndios que mais chamaram a atenção em julho foram os registrados na Europa, onde Portugal, Grécia, França, Itália e Espanha enfrentaram muito fogo. Mesmo o Reino Unido, que não está nada acostumado a sofrer danos por incêndios em vegetação, viu casas arderem nos arredores de Londres no dia mais quente já observado na Inglaterra.

Fora das manchetes da imprensa no Brasil, o estado norte-americano do Alasca enfrentou graves incêndios florestais na primeira metade do mês. De acordo com Rick Thorman, cientista do Centro Climático da Universidade do Alasca, em Fairbanks, o fogo em julho consumiu 4.900 quilômetros quadrados no estado, mais de 95% na primeira quinzena do mês.

“Dadas as previsões meteorológicas do início de agosto, um crescimento significativo de incêndios é muito improvável e 2022 terminará como a 7ª maior temporada de fogo desde 1950 no estado norte-americano”, prevê Thorman.

Fogo no Brasil em julho

O mês de julho terminou com 14.212 focos de calor observados por satélites, de acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. O número está abaixo da média histórica 1998-2021 de 15.203. No ano passado, julho registrou 15.985 focos de calor. Em 2020, foram 15.804. Em 2019, 13.394. O pior ano de fogo em julho no Brasil foi 2003 com impressionantes 30.391 focos de calor.

Em julho de 2022, o bioma Amazônia teve 5.373 focos de calor, número abaixo da média histórica de 6.213, mas acima dos 4.977 focos do ano passado no mês. No Pantanal, julho se encerrou com 294 focos de calor, número bastante abaixo da média histórica mensal de 460, o menor desde 2018.

No Cerrado, ao contrário, o último fogo teve mais fogo que a média. Foram 6.713 focos contra uma média histórica de 6.446. O mesmo ocorreu no bioma da Caatinga com 364 focos enquanto a média de julho nas últimas duas décadas é de 323.

Números muito abaixo da média de fogo em julho no bioma Pampa, do Sul do Brasil. Satélites registraram em julho somente 14 focos de calor e a média mensal histórica é de 134. Trata-se do menor valor para julho desde 2001. Na Mata Atlântica, julho acabou com 1.454 focos de calor, valor abaixo da média de 1.631.

Pior do fogo no Brasil está por vir

O período mais crítico de fogo está começando. Historicamente, o trimestre entre os meses de agosto e outubro registra o maior número de focos de calor no Brasil. As médias 1998-2021 são de 47.258 em agosto, 64.939 em setembro e 38.089 em outubro. Na Amazônia, a média de setembro é de 32.110 e o pior setembro da história se deu em 2007 com 73.141 focos de calor.

Se julho terminou com menos fogo no Brasil, agosto já no seu primeiro dia mostra sinais de que se está iniciando o pior período de queimadas no território brasileiro. Imagens de satélite deste 1º de agosto mostravam muita fumaça resultante de queimadas em Rondônia e no Sul do estado do Amazonas.

A tendência, assim, conforme os padrões históricos e acompanhando o auge da estação seca do Brasil Central, é um significativo aumento dos números de queimadas no território brasileiro nas próximas semanas, especialmente na Amazônia e no Cerrado.

Diferentemente da Amazônia, uma floresta tropical, onde virtualmente quase todos incêndios têm origem humana, no Cerrado o fogo pode ter origem natural por descargas elétricas, combustão espontânea, atrito entre rochas e até atrito do pelo de alguns animais com a mata seca, embora a maioria dos grandes focos sejam resultado de intervenção humana.