Os ingleses estão acostumados a ver cenas de incêndios em vegetação se alastrando para áreas residenciais e destruindo casas e prédios em países como Portugal, Espanha, Itália ou Grécia, mas não sem seu próprio país. Os incêndios ontem na região de Londres, que experimentou o dia mais quente da história do Reino Unido, com 40,2ºC em Heathrow, estamparam as capas dos jornais ingleses de hoje. “O Dia que a Grã-Bretanha queimou”, estampo o The Independent em sua manchete de capa.
“Não posso acreditar no que estou vendo aqui. Isso é horrível. O Reino Unido nunca viu incêndios como esse antes”, reagiu Thomas Smith, do Departamento de Geografia e Ambiente da London School of Economics (LSE), ao ver as cenas de casas pegando fogo nos arredores de Londres após uma queimada.
I can't believe what I'm seeing here. This is horrific. The UK has *never* seen wildfires like this before. These look to be multiple wildland fires that have spread into urban areas. Unprecedented loss of buildings, I just hope no one has been hurt. https://t.co/kOzneF2i4C
— Dr Thomas Smith 🔥🌏 (@DrTELS) July 19, 2022
O prefeito de Londres, Sadiq Khan, disse esta manhã que a terça foi o dia mais movimentado para o Corpo de Bombeiros de Londres desde a Segunda Guerra Mundial, quando a cidade sofreu com impiedosos ataques aéreos da Alemanha com grandes incêndios. Smith classificou os incêndios em vegetação de ontem como os piores de todos os tempos no Reino Unido.
“O dano às pessoas e à propriedade é chocante. Estávamos prevendo que isso poderia acontecer em algumas décadas, mas não esperávamos ver isso em 2022”, afirmou o professor da London School of Economics. Smith enfatizou que a ameaça era muito previsível e que os serviços de emergência deveriam estar mais bem preparados para os eventos. De fato, os modelos de fogo indicavam risco extremo de incêndios em vegetação na terça-feira.
A onda de calor escaldante da Europa está gerando níveis muito altos de poluição prejudicial por ozônio e monóxido de carbono, alertou o serviço de monitoramento atmosférico Copernicus, acrescentando que grandes áreas da Europa Ocidental também enfrentam perigo “extremo” de incêndios florestais. Temperaturas recordes, que os cientistas dizem serem causadas pelas mudanças climáticas, provocaram ferozes incêndios florestais em Portugal, Espanha e França.
Elevated #carbonmonoxide #CO concentrations from wildfires are clearly visible in #IASI observations over Western Europe. pic.twitter.com/3RHetBwI8P
— AC SAF (@Atmospheric_SAF) July 20, 2022
“As condições de seca e o calor extremo estão exacerbando o risco de incêndios florestais”, de acordo com um comunicado do. O serviço de gerenciamento de emergências da organização alertou que uma grande parte da Europa Ocidental está em “perigo extremo de incêndio”, com algumas áreas de “perigo de incêndio muito extremo”.
A onda de calor também está causando altos níveis de ozônio ao nível do solo, ressaltaram. Ao contrário da camada protetora na atmosfera superior, este é um dos principais gases de efeito estufa e componente do smog urbano que prejudica a saúde humana e inibe a fotossíntese nas plantas. “Os impactos potenciais da poluição muito alta de ozônio na saúde humana podem ser consideráveis, tanto em termos de doenças respiratórias quanto cardiovasculares”, disse Mark Parrington, cientista sênior do Copernicus Atmosphere Monitoring Service.
High daily max surface ozone concentrations (> 120 ug/m3) predicted to peak on 20 July across N/central Europe then decrease as #heatwave moves further east. #CopernicusAtmosphere regional ensemble forecast from 19 July 00 UTC with forecast plumes for Oslo & Berlin #airquality https://t.co/W9ILO9MDag pic.twitter.com/QXkU1fXhcv
— Mark Parrington (@m_parrington) July 20, 2022
O ozônio é formado quando as emissões de combustíveis fósseis e outros poluentes produzidos pelo homem reagem na presença da luz solar e o Copernicus alertou que reduzir as emissões do poluente é “crucial”. Os cientistas já detectaram “poluição de ozônio superficial extremamente alta” em todo o Oeste e Sul da Europa, particularmente na Península Ibérica e partes do norte da Itália.
Os níveis máximos diários de ozônio superficial, que normalmente atingem o pico ao meio-dia, atingiram níveis insalubres em Portugal, Espanha e Itália, segundo o Copernicus. Os cientistas agora alertam que, embora a situação provavelmente se acalme em toda a Península Ibérica, níveis muito altos de ozônio na superfície estão sendo observados em áreas do Norte e Oeste do continente à medida que as temperaturas aumentam. Os níveis de ozônio nessas regiões devem atingir o pico nos próximos dias, antes de diminuir.
Dangerous #wildfires continue to rage in Western Europe
➡️In #Spain alone, more than 50,000 ha have burnt in the past week (@CopernicusEMS #EFFIS data)
⬇️The 🔥 ongoing in the northwestern Iberian Peninsula are visible in the #Sentinel3 🇪🇺🛰️ image of 19 July pic.twitter.com/z7ZvVWpzR6
— 🇪🇺 DG DEFIS #StrongerTogether (@defis_eu) July 20, 2022
Several #wildifres are affecting the european countries reinforced by the current #heatwave. #Copernicus #Sentinel5p detected yesterday, July 19, the thick smoke from fires flying over #Portugal, #Spain, #France and #Italy.#AirQuality #canicule #OlaDeCalor @Giulio_Firenze pic.twitter.com/DU9lXlo7OW
— ADAM Platform (@PlatformAdam) July 20, 2022
O Sistema Copernicus também previu que não haverá alívio dos incêndios florestais que engoliram faixas de florestas em partes do Sul da Europa. No Sudoeste da França, dois grandes incêndios criaram cenas apocalípticas de destruição, apesar de grande parte de toda a capacidade de combate a incêndios do país estar sendo usada. As emissões totais de carbono dos incêndios florestais na Espanha até agora em julho são as mais altas observadas no período de junho a julho desde 2003.
Parrington disse que o ozônio de alta superfície pode levar a dores de garganta, tosse, dores de cabeça e um risco aumentado de ataques de asma. A Climate and Clean Air Coalition estima que a poluição por ozônio causa aproximadamente um milhão de mortes adicionais por ano. O ozônio também é preocupação fundamental para as regiões agrícolas e a segurança alimentar. Em janeiro, pesquisadores estimaram que níveis persistentemente altos de poluição por ozônio na Ásia estão custando à China, Japão e Coreia do Sul cerca de US$ 63 bilhões anualmente em safras perdidas de arroz, trigo e milho.