A MetSul Meteorologia adverte para um período muito prolongado de temperatura acima a muito acima da média no Rio Grande do Sul com sucessivas tardes de calor no estado, efeito de uma bolha de calor centrada na Argentina há muitos dias e que vai persistir e voltar a se intensificar. Conforme as projeções de diferentes modelos numéricos analisados pela MetSul, a temperatura pode ficar em patamar acima a muito acima do normal ao menos por dez dias.

A última projeção do modelo meteorológico europeu é uma que indica marcas acima do que é normal para esta época do ano durante os próximos dez dias. O modelo norte-americano GFS, da NOAA, prolonga o período mais quente que a média até os primeiros dias do outono, que vai começar oficialmente com o equinócio em 20 de março.

A temperatura já tem estado muito alta no Oeste gaúcho. Ontem, os termômetros indicaram 34,7ºC em Quaraí, 34,5ºC em São Luiz Gonzaga, 34,3ºC em São Borja e 33,5ºC em Uruguaiana. Na segunda, as máximas foram de 33,4ºC em Uruguaiana e Quaraí. No domingo, Uruguaiana anotou 34,8ºC e Quaraí 34,7ºC. No sábado, máxima de 33,9ºC nas duas cidades.

O que impediu que o calor marcasse presença com maior intensidade em todo o Rio Grande do Sul nos últimos dias foi a ocorrência de instabilidade que trouxe maior nebulosidade e chuva para a maioria das regiões, inclusive com um episódio de chuva extrema no Litoral Norte gaúcho.

Em contexto, Porto Alegre teve máxima de 28,4ºC ontem, 27,5ºC na segunda, 28,2ºC domingo, 31,2ºC no sábado e 28,8ºC na sexta-feira, de acordo com dados da estação meteorológica do Instituto Nacional de Meteorologia no bairro Jardim Botânico.

Uma grande massa de ar quente cobre grande parte da Argentina e é mais intensa sobre a parte central do país. Os dados indicam que esta massa de ar quente persistirá ainda por um número muito elevado de dias atuando na região com efeitos ainda no Uruguai e na parte Sul do Brasil.

O calor cedeu na região de Buenos Aires nos últimos dias em relação aos extremos do começo deste mês, mas a temperatura permaneceu acima da média desta época do ano. Para se ter ideia, a temperatura máxima média na cidade de Buenos Aires nos primeiros sete dias de março ficou em 35,2ºC.

Temperatura máxima na cidade de Buenos Aires

1º/3: 37,6ºC
2/3: 38,0ºC (recorde absoluto de março desde 1906)
3/3: 35,4ºC
4/3: 36,3ºC
5/3: 32,8ºC
6/3: 33,6ºC
7/3: 33,0ºC

A temperatura máxima média de março na capital argentina é de 27ºC, de acordo com a climatologia do Serviço Nacional de Meteorologia (SMN). Isso significa que as máximas durante a primeira semana do mês ficaram 8ºC acima da média mensal, o que é um desvio absurdo e muito fora da curva histórica. Tanto que a cidade de Buenos Aires teve a maior máxima para março desde o começo das medições em 1906.

Temperatura máxima na Argentina

1º/3: 38,8ºC (Santa Rosa – La Pampa)
2/3: 40,0ºC (Nueve de Julio – Buenos Aires)
3/3: 40,7ºC (Santa Rosa – La Pampa)
4/3: 38,6ºC (La Rioja – La Rioja)
5/3: 39,3ºC (Laboulaye – Córdoba e La Rioja – La Rioja)
6/3: 40,0ºC (Rivadavia – Salta)
7/3: 36,0ºC (San Juan – San Juan)

Os modelos meteorológicos indicam que o calor vai volta a ganhar muita força nos próximos dias na cidade de Buenos Aires, na província de Buenos Aires, em outras províncias do Centro e do Oeste argentino e no Uruguai à medida que a bolha de calor se reforça. Neste momento já há um alerta vermelho por calor para a Grande Buenos Aires.

Com o que já foi registrado, com o que ainda se prevê para os próximos dias e a tendência de calor até o começo do outono, este mês é um fortíssimo candidato a ser o março mais quente já registrado em Buenos Aires e possivelmente na Argentina. Os desvios em relação às normais históricas no final do mês devem ser incrivelmente altos a extremos, em situação por demais potencializada pelas mudanças climáticas.

A Argentina já soma nove ondas de calor desde a primavera. Normalmente, o número não passa de três ou quatro. Um estudo de atribuição rápida mostrou que a onda de calor do fim de novembro e do começo de dezembro de 2022 no país se tornou sessenta vezes mais provável pelas mudanças climáticas.

No Rio Grande do Sul, embora se projete um longo período quente, não se prevê a ocorrência de calor tão extremo como em janeiro e no começo de fevereiro. Como a MetSul havia antecipado, o pior do verão já tinha passado, mas a estação não havia chegado ao fim na temperatura.

Nos próximos dez dias, a grande maioria dos dias deve ter máximas acima de 35ºC no Oeste gaúcho com várias tardes em que as máximas na região devem ficar entre 36ºC e 39ºC. Na semana que vem, pancadas de chuva podem atenuar as máximas e aumentar o abafamento em algumas tardes no Oeste.

Considerando o já ocorrido, é possível antecipar que o Oeste gaúcho vai terminar o mês com médias de temperatura muitíssimo acima do normal, repetindo o padrão da vizinha Argentina, com desvios muito fora da curva da climatologia.

Na Grande Porto Alegre e na região dos vales, a grande maioria dos dias, ou quiçá todos, até o final da semana que vem, deve ter marcas à tarde de 31ºC a 34ºC com possibilidade mesmo de máximas ao redor ou acima de 35ºC em alguns dias. O período, ademais, deve ser de chuva muito escassa, o que vai contribuir para o calor persistente.

Nem a Serra Gaúcha, a região mais fria do estado, pela altitude, vai escapar do calor. A grande maioria das tardes ou quase todas até o final da semana que vem deve ter máximas perto ou de até 30ºC ou mais em algumas cidades da região. Somente pontos da costa e dos Aparados, acima de mil metros de altitude, devem escapar de calor mais intenso nos próximos dez dias.