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A cidade portuária de Bahía Blanca, na Argentina, foi arrasada após ser atingida por um volume de chuva equivalente à metade de um ano inteiro em poucas horas, causando a morte de 15 pessoas e deixando centenas desabrigadas.

PABLO PRESTI/AFP/METSUL

Duas meninas — de quatro e um ano, segundo relatos — estavam desaparecidas, possivelmente arrastadas pelas enchentes após a tempestade de sexta-feira. As crianças desaparecidas “podem ter sido levadas pela água”, disseram as autoridade.

O dilúvio deixou hospitais submersos, transformou bairros em ilhas e cortou a eletricidade em diversas partes da cidade. A ministra da Segurança Nacional, Patricia Bullrich, afirmou que Bahía Blanca foi “destruída”.

O número de mortos subiu para 13 no sábado e foi elevado para 15 neste domingo, após ter sido inicialmente registrado como 10 na sexta-feira, segundo o governo argentino. O gabinete do prefeito alertou que mais vítimas podem ser confirmadas na cidade de 350 mil habitantes, localizada a 600 quilômetros ao Sudoeste da capital Buenos Aires.

Pelo menos cinco das vítimas morreram em rodovias alagadas, possivelmente presas em seus carros enquanto a água subia rapidamente.

A tempestade, que começou na manhã de sexta-feira, despejou 350 mm de chuva na região em apenas oito horas, mais da metade da média histórica de precipitação anual.

A revolta tomou conta no sábado, quando ministros argentinos tentaram visitar um bairro afetado. Moradores reclamaram que os políticos deveriam ter ido ao local na noite anterior, segundo um vídeo compartilhado nas redes sociais.

Algumas pessoas tentaram arrastar a ministra da segurança Patricia Bullrich em direção às águas da enchente, gritando “se molha!” e outras palavras de protesto, antes que a ministra fosse retirada do tumulto por policiais e funcionários do governo.

O número de desabrigados no sábado era de 850, abaixo do pico de 1.321, de acordo com o gabinete do prefeito. A tempestade forçou a evacuação do hospital José Penna, com imagens mostrando enfermeiros e outros profissionais de saúde carregando bebês para um local seguro. Posteriormente, o exército ajudou na operação.

PABLO PRESTI/AFP/METSUL

Quase 1,5 metro de água barrenta invadiu o consultório do médico Eduardo Seminara. “Está tudo destruído”, disse ele ao canal local C5N, apontando para uma pilha de cadeiras, almofadas e livros encharcados jogados na calçada. Mas “não estou reclamando, não perdemos nenhuma vida, nossa família está bem”, acrescentou.

A mídia local mostrou imagens de lojas inundadas e relatou saques durante a madrugada. O governo autorizou um auxílio emergencial de 10 bilhões de pesos (cerca de 9,2 milhões de dólares na taxa oficial de câmbio) para a reconstrução.

PABLO PRESTI/AFP/METSUL

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A tempestade deixou grande parte da região costeira ao redor de Bahía Blanca sem energia elétrica. Em determinado momento, as autoridades locais suspenderam o fornecimento de eletricidade devido à grande quantidade de água nas ruas.

Bahía Blanca já enfrentou outros desastres climáticos, incluindo uma tempestade em dezembro de 2023 que causou 13 mortes, destruiu casas e provocou danos generalizados à infraestrutura.

Intensas áreas de instabilidade se formaram na madrugada da sexta-feira (7) na dianteira de uma frente fria entre La Pampa e o Sul da província de Buenos Aires, organizando vários sistemas convectivos na região em meio ao ar quente e excessivamente úmido que atuava na região.

Com o bloqueio atmosférico da Alta Semi-Estacionária do Atlântico Sul, naquele momento a Leste do Rio Grande do Sul sobre o Atlântico, criou-se uma situação de bloqueio atmosférico com supressão da chuva e intenso calor entre o Sul e o Sudeste do Brasil.

Com o bloqueio, o canal principal de umidade da América do Sul vindo da Amazônia, que normalmente estaria nesta época do ano orientado para o Sudeste do Brasil, canalizou a umidade pelo interior do continente em direção ao Sul para o Centro da Argentina.

STRINGER/AFP/METSUL

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Os dados indicavam no final da madrugada e no começo da manhã da sexta valores de água precipitável muito elevados na região de Bahia Blanca por conta justamente deste corredor de umidade.

Água precipitável é a quantidade total de vapor d’água na atmosfera que pode se condensar e cair como precipitação se toda a coluna de ar fosse resfriada até a saturação, um indicador usado na Meteorologia para se prever precipitação.

Com ar quente e umidade em excesso, a aproximação da frente fria foi o gatilho para disparar poderosas áreas de instabilidade que se formaram e se regeneraram por horas sobre a cidade do Sul da província de Buenos Aires.

A enorme quantidade de vapor de água presente na atmosfera, então, acabou por gerar a chuva excepcional acima de 300 mm em intervalo inferior a 6 horas. A média histórica de chuva de março inteiro em Bahia Blanca é de 70,6 mm.

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