Muitas nuvens cobrem o Rio Grande do Sul nesta terça-feira com momentos de céu ou nublado ou encoberto em diversas regiões, mas ocorrem aberturas de sol em grande parte do estado. Tempo mais aberto em setores mais a Oeste do território gaúcho.

As nuvens trazem precipitação fraca, na forma de chuva ou garoa, para diversas localidades ao longo do dia. Mais ao Norte do estado é que a passagem de áreas de instabilidade provoca chuva até moderada. O dia será de temperatura agradável na maior parte dos municípios pela maior presença de nebulosidade.

Parte da cobertura de nuvens decorrerá do avanço de umidade do mar para o continente com fluxo de Leste para Oeste com um grande centro de alta pressão persistente no Atlântico Sul. O contraste de pressão atmosférica entre o centro de alta no Atlântico e uma área de baixa pressão na Argentina proporciona vento.

Por isso, o vento sopra moderado e em alguns momentos com rajadas nesta noite em diversas regiões gaúchas, o que deve persistir durante esta terça-feira. O vento afeta mais cidades do Centro e especialmente do Sul e do Leste do estado, o que inclui a região de Porto Alegre que terá tempo ventoso em vários momentos.

As rajadas de vento, em média, devem ficar entre 40 km/h e 60 km/h, mas em pontos isolados do Sul e do Leste do Rio Grande do Sul as rajadas em alguns momentos devem ficar entre 60 km/h e 70 km/h. São rajadas esporádicas e que ocorrem com mais força nas áreas das lagoas e entorno assim como nas praias.

O Serviço Nacional de Meteorologia chegou a emitir um aviso por vento forte com rajadas de 50 km/h para hoje no Norte da província de Buenos Aires e na província de Entre Rios. À tarde, as rajadas do quadrante Leste alcançaram 60 km/h na região da capital argentina.

As características climáticas desta época do ano explicam os dias mais ventosos. Com o fim do inverno, as massas de ar frio seguem avançando para as latitudes médias do continente, mas, diferentemente da estação fria em que as incursões de ar polar são de trajetória continental, logo pelo interior do continente, as trajetórias das massas de ar frio são marítimas.

Ao mesmo tempo que ar frio avança pelo Atlântico Sul, ar mais quente se instala no continente com áreas de baixa pressão que costumam atuar no Norte da Argentina e no Paraguai, centros de baixa pressão, diga-se aliás, de natureza térmica. Por isso, o calor é mais intenso nas médias climatológicas em cidades mais a Oeste do Sul do Brasil.

É o caso de agora com uma área de baixa pressão com temperatura mais alta na Argentina ao passo que sobre o Atlântico, a Leste do Rio da Prata, atua um centro de alta pressão potente de até 1.035 hPa associado a uma massa de ar frio de trajetória marítima.

Com efeito, estabelece-se um contraste de temperatura e pressão entre o Oceano Atlântico e o continente. Sobre o mar, ar mais frio e de maior pressão atmosférica. Sobre o continente, ar mais quente e de menor pressão atmosférica. Aí entra a Física para explicar o vento.

Sabe-se que a temperatura se eleva durante o dia mais rapidamente sobre terra do que sobre água. E que à noite ocorre o contrário com resfriamento maior sobre terra do que sobre água. À medida que a temperatura se eleva com o sol durante o dia, a diferença de temperatura entre o mar e o continente aumenta.

Áreas sobre terra ficam com temperatura muito maior que sobre o oceano. Na sequência, o ar de menor temperatura (mais denso) começa a se deslocar para o ambiente em que a o ar está mais quente (e mais leve). Esse deslocamento de ar, do mar para terra, traz o vento.

Por isso, o vento sopra do quadrante Leste. É vento que vem do mar para terra, o que os surfistas denominam de vento maral. À noite, com tempo seco e aberto, o resfriamento é muito mais acentuado sobre terra. O ar no continente passa a ser mais denso que sobre o mar, então às vezes se opera o movimento contrário e áreas costeiras e do oceano passam a receber o vento vindo de Oeste, o terral.

Toda esta dinâmica que envolve a climatologia, características e trajetórias de massa de ar e processos físicos de deslocamento do ar explica o porquê desta época do ano ser comumente mais ventosa, o que rendeu a expressão popular de “Vento de Finados”.

Quando o vento Leste atua no Rio Grande do Sul ele costuma inibir chuva nas áreas que estão com as rajadas, o que leva muitos agricultores a descreverem o vento como “come chuva”. Por outro lado, em áreas costeiras que têm grandes elevações do terreno a Oeste, no caso da parte dos litorais do Sul e do Sudeste do Brasil, a Serra do Mar, o vento Leste acaba trazendo nebulosidade e chuva.