Uma fotografia, de Alexandre Pinto, feita a partir de Novo Hamburgo na tarde de ontem, e que a MetSul Meteorologia publicou em suas redes sociais, gerou muita repercussão e dúvidas entre os nossos seguidores. Muitos se espantaram, em especial, com uma formação parecida com um disco no meio da nuvem.

ALEXANDRE PINTO

“Que estrutura incrível e aterrorizante”, escreveu Josita Dahiana. “Como pode ter se criado um disco quase perfeito no topo”, indagou Fabrício Castro. “Tem uma nave ali no meio”, brincou Amanda Araújo. “Isso é a foto mesmo ou vocês pegaram um trecho do filme Independence Day”, perguntou outro seguidor.

Então, não, não pegamos nenhuma cena do filme de invasão alienígena nem tampouco o que apareceu sobre a Grande Porto Alegre na tarde do domingo foi um disco voador. Foi apenas uma nuvem e com algumas curiosidades.

Primeiro ponto a saber. Formou-se entre Novo Hamburgo e Campo Bom uma nuvem com um grande desenvolvimento vertical com aspecto de torre que se chama tecnicamente de Torre Cumulus (TCu). A abundante umidade e a temperatura alta, que passou de 29ºC, colaborou para a geração da nuvem.

Calor e umidade são os ingredientes do que se denomina de convecção, o movimento ascendente do ar na atmosfera. Quando está muito quente e úmido, formam-se estas nuvens de maior desenvolvimento para cima como Cumulonimbus ou Torre Cumulus.

Estas nuvens podem trazer chuva forte e temporais isolados. Foi o que ocorreu ontem. O radar mostrava uma minúscula, porém intensa, área de instabilidade sobre o Vale do Sinos. Que em Campo Bom e alguns bairros de Novo Hamburgo causou chuva forte e queda de granizo.

Mas e o disco? Óbvio que o melhor ficaria para o final. A nuvem em forma de disco associada à nuvem maior (Torre Cumulus) tem nome: chama-se Pileus. É bastante conhecida de nós meteorologistas, embora não muito do público.

O Atlas Internacional de Nuvens da Organização Meteorológica Mundial assim define uma nuvem Pileus: “nuvem acessória de pequena extensão horizontal, em forma de gorro ou capuz acima do topo ou presa à parte superior de uma nuvem cumuliforme que frequentemente a penetra. Vários píleos podem frequentemente ser observados em superposição”.

Um pileus, que tem aspecto lenticular, geralmente têm vida curta, com a nuvem principal abaixo delas subindo por convecção para absorvê-las. São formados por fortes correntes ascendentes em altitudes mais baixas, agindo sobre o ar úmido acima, fazendo com que o ar esfrie até seu ponto de orvalho.

Em regra, são indicadores de tempo severo, e um Pileus encontrado no topo de uma nuvem Cumulus muitas vezes prenuncia a transformação dela Cumulonimbus, pois indica forte corrente ascendente dentro da nuvem.

Este tipo de nuvem pode se formar acima de montanhas, nuvens de cinzas vulcânicas e mesmo em acima de algumas nuvens em forma de cogumelo de detonações nucleares potentes, como se viu nos testes antes de serem banidos por acordos internacionais.

Talvez a mais famosa imagem de Pileus seja uma feita do espaço. Uma órbita fortuita da Estação Espacial Internacional permitiu aos astronautas uma visão impressionante do Vulcão Sarychev (Ilhas Kuril, Nordeste do Japão) em um estágio inicial de erupção em 12 de junho de 2009. As cinzas da erupção de vários dias podiam ser vistas do espaço.

NASA

A fotografia detalhada do astronauta é emocionante para os vulcanologistas porque captura vários fenômenos que ocorrem durante os primeiros estágios de uma erupção vulcânica explosiva. A coluna principal é uma de uma série de plumas que se ergueram sobre a Ilha de Matua. Em contraste, a suave nuvem branca no topo é condensação de água que resultou da rápida ascensão e resfriamento da massa de ar acima da coluna de cinzas. Essa é a nuvem Pileus.

No ano passado, outra nuvem Pileus, na China, chamou atenção do mundo e foi iridescente (colorida). O resultado final de uma série de fatores na China foi um exuberante Pileus vestindo a nuvem vizinha como se fosse um boné colorido.

A espetacular tonalidade do arco-íris que pintou o Pileus sobre a cidade chinesa de Haikou se deu por um fenômeno óptico chamado iridescência, que não tem nada de incomum em se tratando de nuvens. A luz do sol difrata através de gotículas de água e cristais de gelo nas nuvens, espalhando a luz em seus comprimentos de onda individuais.