Grandes incêndios atingiram nos últimos dias as áreas de pântanos nas ilhas do delta do rio Paraná, destruindo o meio ambiente e colocando em risco a saúde devido à forte fumaça, alertaram as autoridades locais. A fumaça dos incêndios tomou conta da região e chegou mesmo à cidade de Buenos Aires, onde o odor de queimado era perceptível no ar por vários dias. Mais de 130 mil hectares já arderam na região neste ano.

Queimadas de grandes proporções assolaram nos últimos dias o delta do Rio Paraná com muita fumaça no Centro da Argentina e que chegou à região de Buenos Aires e até partes do Uruguai | STR/AFP/METSUL METEOROLOGIA

Trata-se de um problema bastante antigo na região com causas humanas e naturais. A origem do fogo é deliberada, mas o clima seco com a La Niña desde 2020 agrava o alastramento das chamas. “É inevitável que incendiar nessas condições climáticas adversas, com uma seca que já dura quatro anos e uma forte baixa do rio Paraná, seja criminoso”, disse o vice-ministro do Meio Ambiente, Sergio Federovisky.

Queimadas para limpar campos para futuros plantios é uma prática regular na Argentina que se repete todos os anos, mas, segundo Federovisky, os incêndios também são usados ​​para “transformar áreas úmidas em futuros empreendimentos imobiliários”, o que tem gerado uma forte mobilização popular e protestos de rua.

Nas estradas que atravessam as províncias de Santa Fé e Entre Ríos, os campos em chamas podem ser vistos nos últimos dias. Já a fumaça das chamas, que por mais de uma semana cobriu a cidade de Rosário, cerca de 310 quilômetros ao Norte da capital, também foi sentida e vista em Buenos Aires.

A Argentina ordenou que suas forças armadas ajudem a combater os incêndios florestais que queimam no Delta do Paraná há mais de duas semanas. “Não podemos tolerar que os incêndios continuem no Delta, afetando o meio ambiente e a saúde de milhões de argentinos. Portanto, ordenei às Forças Armadas que tomem medidas imediatas para deter os incêndios”, escreveu o presidente Alberto Fernandez no Twitter.

Observando que helicópteros e militares foram mobilizados, Fernandez disse que as medidas necessárias foram tomadas para encontrar os responsáveis pelos incêndios que se acredita terem sido iniciados deliberadamente. O governador do estado de Santa Fé, Omar Perotti, havia solicitado que Fernandez destacasse os militares para responder a incêndios no Delta do Paraná.

Três pessoas acabaram presas quando foram descobertas incendiando vegetação seca em áreas úmidas perto da cidade de Victoria, província de Entre Ríos, e foram levadas à justiça, disse uma fonte policial à agência AFP. Devido à intensa fumaça, as autoridades de segurança da província de Santa Fé decidiram interromper temporariamente o tráfego na ponte que liga as cidades de Rosario e Victoria, em Entre Ríos.

Segundo o Observatório Ambiental da Universidade Nacional de Rosário, mais de 10 mil hectares foram consumidos por incêndios florestais nas ilhas do rio Paraná no último mês. O governo argentino exigiu maior celeridade do sistema de justiça, dizendo que as autoridades ambientais entregaram a um juiz em Victoria “a geolocalização exata do início de cada um dos incêndios fornecida pelas câmeras de detecção de calor instaladas na área pelo Ministério do Meio Ambiente”.

Uma denúncia aberta há dois anos contra empresários por queimar pastagens na região não produziu nenhum progresso no sistema judiciário. Em Rosário, que tem uma população de 1,5 milhão, manifestações em massa foram realizadas nos últimos dias para exigir o “fim das queimadas intencionais” e um projeto de lei urgente para criar uma Ley de Humedales (“Lei das Zonas Úmidas”).

Delta do Rio Paraná arde no que a Casa Rosada descreveu como um “desastre ecológico” que afeta o ambiente e as vidas de milhões de argentinos | STR/AFP/METSUL METEOROLOGIA

Foto aérea mostra os incêndios em áreas úmidas em ilhas do Delta do Paraná, perto de Victoria, na província argentina de Entre Rios, em frente à cidade de Rosário, na província de Santa Fé, em 16 de agosto de 2022. | JUAN MABROMATA/AFP/METSUL METEOROLOGIA

Helicópteros e pequenos aviões foram mobilizados para combater as queimadas fora de controle na área do delta do Paraná junto à cidade de Rosário | JUAN MABROMATA/AFP/METSUL METEOROLOGIA

Pequena aeronave atua no combate às queimadas | JUAN MABROMATA/AFP/METSUL METEOROLOGIA

Fumaça das queimadas cobriu grande parte da região e foi transportada pelo vento até a cidade de Buenos Aires e vários departamentos do Uruguai nos últimos dias | JUAN MABROMATA/AFP/METSUL METEOROLOGIA

Queimadas trazem grave prejuízo para o rico ecossistema do delta do Rio Paraná com as mortes de muitos animais no campo e nas ilhas que ardem | JUAN MABROMATA/AFP/METSUL METEOROLOGIA

Assolado pela seca, o Delta do Paraná, na Argentina, um dos maiores e mais biodiversos do mundo, queima como nunca desde 2020. O delta é uma planície de inundação composta por várias ilhas onde o Rio Paraná deságua no Rio da Prata. O fogo devasta a rica biodiversidade de um território que abriga 700 espécies de plantas e animais, segundo as universidades Nacional de Rosário e Litoral.

“Os incêndios geram impactos imediatos e outros que se fazem sentir a médio e longo prazo: a morte de animais, a perda do habitat natural de muitas espécies, o empobrecimento do solo, a contaminação da água e do ar, emissões que geram alterações climáticas”, disse Graciela Klekailo, da Universidade de Rosário, à agência AFP.

Dependendo da direção do vento, as maiores cidades próximas como Rosário, San Lorenzo e Villa Constitución, são engolidas por densa nuvem de fumaça que causa problemas respiratórios e alergias. Pesquisadores da Universidade de Rosario descobriram que o ar da cidade tinha cinco vezes o nível permitido de poluição.

Embora a criação de gado seja a principal atividade na área do Delta, também atrai caçadores furtivos, pescadores e especuladores imobiliários. Um grupo de universidades e organizações ambientais clama para que o Congresso aprove com urgência o projeto de lei destinado a proteger o pântano.

Eles dizem que a nova lei criaria maiores regulamentações sobre o uso da terra e protegeria o Delta. “É o sistema pantanoso mais importante da Argentina. Aqui nós o chamamos de nossa pequena Amazônia”, disse Laura Prol, da Oficina Ecologista, que exige ação das autoridades.