Temperatura excepcionalmente elevada e fora dos padrões climatológicos do outono em outubro levou muitos franceses a desfrutar as praias do país | GAIZKA IROZ/AFP/METSUL METEOROLOGIA

A Europa experimentou o mês de outubro mais quente já registrado no continente, anunciou o consórcio europeu de monitoramento climático e ambiental Copernicus, que já tinha apontado um verão de temperatura recorde no continente europeu. As temperaturas médias ficaram “quase 2ºC acima do período de referência 1991-2020”, informou o Sistema Copernicus em nota. A primavera muito quente ocorre na sequência do verão mais quente dos seus registros, com temperaturas 1,34ºC acima do normal.

“As graves consequências das mudanças climáticas estão agora manifestas e precisamos de ações climáticas ambiciosas durante a COP27 para garantir reduções de emissões para estabilizar as temperaturas em um nível próximo à meta de 1,5°C estabelecida pelo Acordo de Paris”, disse Samantha Burgess, vice-diretora do Copernicus Climate Change Service (C3S).

Com base em dados que remontam a 1979, foram observadas temperaturas médias recordes em muitas partes da Áustria, França, Alemanha, Itália, Espanha e Suíça em outubro de 2022. Em particular, na Europa Ocidental, as temperaturas diárias subiram para novos recordes, com valores superiores a 30°C na França e Espanha

Isso resultou no outubro mais quente de todos os tempos na França desde o início dos registros; a média em toda a França foi de 17,2°C. A Áustria e a Suíça também tiveram seus outubros mais quentes já registrados, e a Áustria também anotou sua noite de outubro mais quente nacionalmente de 20,4°C. Esta é agora registrada como a mais tardia no ano noite tropical na história da Áustria, sendo que uma noite tropical é definida como as que as temperaturas mínimas não caem abaixo de 20°C.

SISTEMA COPERNICUS

O continente europeu é o de aquecimento mais acelerado em todo o planeta. Nos últimos 30 anos, a Europa viu as temperaturas subirem mais que o dobro da média global, com um aumento de meio grau a cada década, de acordo com um relatório da Organização Meteorológica Mundial e do C3S publicado em 2 de novembro.

De acordo com relatório divulgado pela Organização Meteorológica Mundial (OMM) e o serviço europeu sobre mudança climática Copernicus, as temperaturas na Europa experimentaram um aumento considerável no período 1991-2021, com um incremento de pelo menos 0,5°C por década.

“Este é o aquecimento mais rápido entre as seis regiões definidas pela OMM”, disse o secretário-geral desta organização, o finlandês Petteri Taalas, no prólogo do relatório sobre o clima no Velho Continente. O Ártico, que, em seu conjunto, está esquentando mais rápido do que a Europa, não é considerado como uma região pela OMM, explicou a porta-voz Clare Nullis à AFP.

Como consequência do rápido aquecimento da Europa, as geleiras dos Alpes perderam 30 metros de espessura entre 1997 e 2021. Além disso, a camada de gelo da Groenlândia está derretendo, o que contribui para acelerar o aumento do nível do mar. No verão de 2021, a Groenlândia registrou chuvas, pela primeira vez, em seu ponto mais alto, na estação Summit.

A Europa “oferece uma imagem viva de um planeta que esquenta e nos lembra que mesmo as sociedades bem preparadas não estão a salvo dos fenômenos meteorológicos extremos”, advertiu Taalas. Em 2021, houve uma série de fenômenos meteorológicos e climáticos extremos em várias partes da Europa”, lembrou Taalas.

“As inundações excepcionalmente graves que causaram um número sem precedentes de mortes e de danos em partes da Europa Ocidental e Central em julho, e os incêndios destrutivos que devastaram o Sudeste da Europa neste verão permanecerão na memória das nações afetadas e no registro climático internacional”, afirmou.

Esses fenômenos meteorológicos e climáticos de forte impacto deixaram centenas de mortos na Europa, afetaram mais de meio milhão de pessoas e causaram danos econômicos de mais de US$ 50 bilhões, de acordo com a OMM. Em torno de 84% dos casos foram inundações, ou tempestades.

O relatório foi divulgado alguns dias antes da COP27, a conferência climática da ONU que está sendo realizada de 6 a 18 de novembro no Egito. Firmado em 2015, o Acordo de Paris sobre o Clima estabelece como objetivo conter o aumento da temperatura média do planeta abaixo de 2°C – e, se possível, abaixo de 1,5°C – em relação à era pré-industrial.

O planeta caminha, no entanto, para um aquecimento de 2,6°C até o final do século, alertou a ONU em outubro. Qualquer que seja o ritmo do aquecimento global, as temperaturas em todas as zonas da Europa subirão mais do que a média mundial, como se observou até agora, ressaltou a OMM, o que pode provocar ondas de calor, incêndios florestais e inundações.

A organização indica, no entanto, que nem todas as notícias são ruins. Vários países europeus estão bem encaminhados para uma redução de suas emissões de gases de efeito estufa. Essas emissões já caíram 31% entre 1990 e 2020 na União Europeia. E, até 2030, a ambição é atingir uma redução líquida de 55%.

“A Europa pode desempenhar um papel decisivo no surgimento de uma sociedade neutra em carbono até meados do século, para cumprir o Acordo de Paris”, disse Taalas. A Europa é, também, uma das regiões mais avançadas em termos de cooperação transfronteiriça para a adaptação à mudança climática. Além disso, cerca de 75% de sua população está protegida das catástrofes naturais e meteorológicas, graças a sistemas eficazes de alerta precoce.