Cenas dramáticas comoveram ontem produtores rurais de Uruguaiana, no Oeste do Rio Grande do Sul. Na região do Garupá, onde predominam solos rasos e de origem basáltica, a vegetação é tão rara que alguns criadores registraram o desmaio de animais por fraqueza. O fato é narrado na edição de hoje do Correio do Povo pelo correspondente em Uruguaiana do jornal Fred Marcovici.
Os animais tombaram de fome e sede. “Os 18 animais foram transportados de caminhonete para se alimentarem no entorno da sede, no que denominam de piquete de enfermarias, onde pelo menos água é servida ao lote debilitado”, assinalou o extensionista da Emater Emanoel Torres Nunes.
A Defesa Civil de Uruguaiana, com a ausência de chuvas significativas e altas temperaturas, mantém o fornecimento de água potável a três localidades da zona rural, trabalho iniciado na segunda quinzena de dezembro.
Até o momento, foram destinados 290 mil litros d’água em caminhão-pipa às comunidades do Aferidor, Vila das Chácaras e Charqueada. Nesta terça-feira, um núcleo familiar da Queimada também será abastecido. Ao todo são 20 famílias atendidas.
Segundo a Emater, choveu 15 mm na última quinta-feira em pontos isolados e, no sábado, outros 5 mm também em locais específicos, volume considerado inexpressivo. A região ainda sofre com sucessivos dias de calor extremo.
Na rede oficial do Instituto Nacional de Meteorologia foram cinco dias com mais de 40ºC neste mês no Oeste do estado: 1º/1 com 40,9ºC em Quaraí; 17/1 com 40,4ºC em Quaraí, 20/1 com 40,5ºC em Quaraí e 40,1ºC em Uruguaiana; 24/1 com 40,7ºC em Uruguaiana e 40,3ºC em Quaraí; 25/1 com 40,5ºC em Quaraí. Houve dias em que estações particulares anotaram mais de 40ºC, embora não tenha havido registro nas estações oficiais.
Barra Funda e Santana da Boa Vista foram, ontem, os municípios gaúchos que protocolaram declarações de situação de emergência no Sistema Integrado de Ações sobre Desastres, do Sistema Nacional e Proteção e Defesa Civil, somando 219 cidades, ou 44% do total estadual, com protocolos feitos em razão da crescente estiagem.
O número não para de aumentar, o que gera preocupação por parte de autoridades e organizações atuantes no Estado, como a Federação das Associações de Municípios do RS (Famurs). Ontem, a área técnica de Agricultura da entidade atualizou os índices dos prejuízos em 123 cidades afetadas, que somam mais de dois milhões de habitantes e R$ 5,6 bilhões em perdas.
Destes, são R$ 1,3 bilhão na pecuária e quase R$ 4,3 bilhões na agricultura. Chama a atenção também os gastos com transporte de água, que alcançaram, até o momento, R$ 10,6 milhões no Rio Grande do Sul. Estes recursos são para a alocação de abastecimento de caminhões-pipa e aquisição de reservatórios.
Somente ontem, o órgão nacional reconheceu os decretos de Candiota, Canguçu, Capão do Cipó, Cerro Largo, Dezesseis de Novembro, Dilermando de Aguiar, Esperança do Sul, Fortaleza dos Valos, Nova Ramada, Passa Sete, Rolador, Santa Margarida do Sul, São Pedro do Butiá, Segredo, Sobradinho, Tenente Portela e Ubiretama, publicando a portaria no Diário Oficial da União (DOU). Com o reconhecimento, os municípios podem solicitar recursos do Ministério do Desenvolvimento Regional para atendimento à população afetada.
A escassez hídrica faz com que cidades precisem agilizar junto ao estado, por meio da entidade, a concretização dos convênios do Programa Avançar para a construção de cisternas, perfuração de poços e abertura de microaçudes. Esta tem sido uma pauta recorrente da Famurs, que pleiteia um processo menos burocrático e mais ágil.