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O município de Ibarama, no Centro-Serra, foi atingido por uma tempestade severa pouco antes das 21h da quinta-feira (3). A conclusão da MetSul é de um tornado atingiu a localidade. O vento destrutivo acompanhado de intenso granizo destelhou casas, galpões e lojas da cidade. Levantamento da AES Sul indica a queda de mais de 110 postes da rede de energia, principalmente na área urbana. Fios da rede elétrica foram arrebentados. Ibarama ficou às escuras. O vento intenso derrubou até os ciprestes no centro da cidade, com mais de 80 anos e considerados símbolo de Ibarama, cujas mudas vieram da Itália.


Também a estrutura do posto de combustíveis São Bernardo da cidade foi retorcida e arrancada, caindo sobre dois automóveis. Uma das principais marcenarias da cidade teve a metade da estrutura derrubada com enormes danos em equipamentos, máquinas e esquadrias já prontas para a entrega. O motorista de um automóvel perdeu o controle e capotou na ERS-347, em Morro Alto. Vários pinheiros próximos a Escola Estadual Catarina Bridi foram arrancados. Mais de 80% das casas e estabelecimentos comerciais da cidade foram atingidos. Já no interior de Ibarama os prejuízos foram bem menores.


A análise das imagens aéreas e depoimentos de moradores, incluindo da prefeita Lenise Mariani, confirmam que a trajetória do tornado foi errática na área urbana do município, o que em está em linha com os testemunhos de que o “vento serpenteou” na cidade. Fica evidente ainda nas imagens que o cone do tornado não era largo, possivelmente algumas dezenas de metros, e que o rastro de danos mais severos se deu em faixas bem estreitas do terreno. Nos parece, até pela topografia do município que está em área de Serra, que o cone do tornado não permaneceu o tempo todo no solo, aliás condição que se observa neste tipo de fenômeno até em áreas planas, o que explica intervalos (traços no terreno) sem quaisquer danos.

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Diante disso, a intensidade dos danos observados também é bastante variável, como é comum ocorrer com este tipo de fenômeno. A estimativa da MetSul é de que os danos variem entre os consistentes com um tornado F0 (até 117 km/h) a F1 (117 a 180 km/h) na maior parte da área urbana. Veja na foto aérea abaixo como uma casa, no rastro do tornado, experimentou danos importantes com as árvores decepadas ao seu redor, e outra só a 50 metros de distância nada sofreu.


Chamam atenção os depoimentos do proprietário do posto de combustíveis e do repórter da Rádio Sobradinho Jorge Augusto Folleto, que cobriu o desastre ainda na noite de quinta, que a carreta que estava no local foi levantada no ar e foi parar virada no chão a cinco metros de distância de onde estava. O veículo pesa 11 toneladas. No outro lado da rua do posto arrasado e onde estava a carreta funcionam creche e o ginásio da cidade. Nenhum dos dois prédios teve qualquer prejuízo.   


Frente quente estava em processo de formação no Rio Grande do Sul na noite do tornado em Ibarama com nuvens muito carregadas presentes do Centro para o Leste do Estado. O Norte do Estado tinha tempo aberto à medida que recebia ar mais seco e quente de Norte. No Sul gaúcho, atuava ar mais frio. Justamente na faixa central do Estado explodiu a instabilidade mais intensa com muitos núcleos de chuva forte a intensa com raios e ocorrência de granizo em alguns pontos. No caso de Ibarama, a imagem de radar do Decea das 20h40m da quinta (3) revela que na hora do tornado nitidamente havia supercélula de tempestade sobre a cidade e capaz de provocar um tornado. A refletividade excedeu a escala do radar, o que se explica também pela intensa precipitação de granizo na tempestade e que chegou até a provocar um acúmulo de gelo significativo.


Componente presente na maioria dos tornados que ocorrem no Rio Grande do Sul e quase todos que se dão nos meses de inverno é a chamada corrente de jato em baixos níveis da atmosfera (JBN). Trata-se de uma espécie de “corredor de vento” mais forte a intenso ao redor de 1500 metros de altitude, que em regra tem origem na Bolívia e avança até o Sul.  Costuma se fazer presente principalmente na atuação de ciclone extratropicais. Com vento via de regra Noroeste, o jato traz ar mais quente de Norte para o Estado. O JBN propicia uma condição ideal para a formação dos tornados que é o padrão divergente de vento (cisalhamento). No caso do tornado da noite de quinta em Ibarama, uma corrente de jato em baixos níveis atuava exatamente do Centro para o Noroeste do Rio Grande do Sul, inclusive sobre a área afetada. Sondagem de Santa Maria das 21h, apenas minutos depois da ocorrência do tornado, mostrou que na região o vento em superfície era de direção Sudeste a Leste com ingresso de umidade enquanto a 1500 metros de altitude soprava com mais de 30 nós e de direção Noroeste.  


Recentes tornados como o de Canguçu no ano passado (leia mais) e Erebango (leia mais) no último mês de abril foram eventos que tiveram influência de correntes de jato em baixos níveis da atmosfera. O mesmo com o conhecido tornado de Gramado e Canela de 2010. A diferença é que o tornado da Região das Hortênsias, de quatro anos atrás, como a maioria dos anotados no inverno gaúcho, se deu com o avanço de frente fria interagindo com uma corrente de jato em baixos níveis enquanto agora em Ibarama o fenômeno ocorreu no ambiente de frente quente, o que torna este registro de agora mais raro.