A MetSul Meteorologia alerta para um cenário novamente favorável a temporais fortes a severos no Rio Grande do Sul entre esta quarta e a quinta-feira com potencial para o registro de tempo severo ainda maior que no fim de semana, quando foram registradas tempestades com granizo e vento acima de 100 km/h que deixaram estragos e mais de cem mil pessoas sem energia no Estado com queda de postes, árvores e destelhamentos. Se o risco maior no último fim de semana era vento, desta vez o risco principal no Rio Grande do Sul é granizo, apesar da possibilidade de vento forte a intenso localizado.
Ar muito quente, da enorme massa de ar quente tropical que traz extraordinária onda de calor no Brasil Central e que vai se intensificar ainda mais, ingressa no Estado e será o responsável por formar uma frente quente sobre o território gaúcho nesta quarta-feira ao encontrar o ar frio que hoje trouxe temperatura negativa nos Aparados da Serra. Este ar muito quente será trazido por uma corrente de jato em baixos níveis da atmosfera que se origina na Bolívia e vem até o Estado. Trata-se de uma espécie de corredor de vento a cerca de 1.500 metros de altitude que vai transportar ar muito quente, seco e fumaça de queimadas.
Fortes áreas de instabilidade vão se formar do Centro para o Norte do Rio Grande do Sul a partir da madrugada e no decorrer do dia progridem para o Sul e o Leste do Estado com o tempo abrindo na maior parte do Oeste e da Metade Norte com sol, nuvens e forte aquecimento que poderá elevar a temperatura nesta quarta a 36ºC ou 37ºC em Santa Rosa.
Ocorre que no fim da tarde e à noite novas áreas de instabilidade devem se formar devido ao intenso aquecimento, porém serão muito isolados. Alguns destes núcleos localizados podem adquirir características de supercélulas de tempestade. Por isso, Porto Alegre deve ter instabilidade entre a madrugada e de manhã seguida de melhora do tempo em algum momento da tarde, não se descartando o retorno da instabilidade à noite. Em cidades mais ao Sul do Estado, a instabilidade mais forte ocorre na segunda metade do dia.
Na quinta-feira, o ar muito quente toma conta da Metade Norte e Oeste do Estado com calor intenso a até extremo em algumas localidades. As máximas podem ficar entre 38ºC e 40ºC em Santa Rosa, entre 36ºC e 38ºC em Cruz Alta em Ijuí, entre 34ºC e 36ºC em Passo Fundo, entre 33ºC e 35ºC em Santa Maria e entre 35ºC e 37ºC na cidade de Uruguaiana.
A previsão de máxima para Porto Alegre e região é muito difícil, afinal a área da Capital estará no limite das regiões com instabilidade e sem instabilidade. As projeções dos modelos variam de 29ºC a 35ºC de máxima para Capital, mas estamos projetando a possibilidade de 30ºC a 32ºC de máxima e até 32ºC a 34ºC na área da Grande Porto Alegre, mas a advertência que não se afasta que possa subir mais conforme a presença de nebulosidade. Fato é que no Vale do Sinos, em áreas mais ao Norte da região metropolitana, por menor nebulosidade e efeito do vento Norte, deve aquecer mais que em cidades mais ao Sul da Grande Porto Alegre como Guaíba ou Viamão.
Com o ar muito quente tomando conta das Metade Oeste e Norte, a instabilidade durante a quinta-feira deve ser mais forte sobre o Uruguai, o Sul e parte do Leste do Rio Grande do Sul no decorrer do dia, mas devido ao forte aquecimento há possibilidade de chuva localmente forte e temporais isolados da tarde para a noite das demais regiões do Estado. Justamente devido ao quadro de instabilidade, a temperatura não subirá muito no Sul gaúcho que não sofrerá os efeitos desta extraordinária onda de calor no Brasil.
A MetSul alerta que tanto nesta quarta como na quinta-feira as condições serão de alto risco de temporais isoladamente fortes a severos, alguns com potencial de estragos. Por que o cenário preocupa muito nesta quarta e na quinta? Ar por demais quente vai atuar no Rio Grande do Sul e ar quente é combustível para intensa instabilidade.
Valores de temperatura ao redor ou acima de 20ºC a 1.500 metros de altitude (nível de pressão de 850 hPa) são muito favoráveis a tempestades fortes. Quanto mais quente, maior risco de temporais. Para o Sul gaúcho, região que menos deve ser afetada pelo ar quente, porém de altíssimo risco de temporais pelo ar tropical imediatamente ao Norte, os modelos de previsão estão a indicar 20ºC em 850 hPa. Para o Norte e o Noroeste gaúcho, modelos apontam 25ºC a 27ºC em 850 hPa, muitíssimo acima do que é normal.
São valores absurdamente altos e absolutamente incomuns de se observar no Rio Grande do Sul, mesmo no verão. Disponibilidade de umidade sob uma atmosfera com 25ºC a 27ºC em 850 hPa cria um ambiente explosivo para tempestades e, pior, temporais muito fortes e potencialmente destrutivos em alguns pontos.
Um dos parâmetros usados por meteorologistas para prever temporais são os chamados índices de instabilidade atmosférica e os dados apontam índices extremamente altos e que costumam trazer muitos e fortes temporais com tempo isoladamente muito severo. Um destes índices é o CAPE (Convection Available Potential Energy) e os valores que são projetados por modelos como o norte-americano GFS são elevadíssimos, na casa de 3.000 a 4.000 J/Kg, o que sinaliza uma condição significativamente propícia ao registro de temporais e alguns bastante fortes em pontos localizados.
A grande preocupação que temos na MetSul é com granizo. Quando a atmosfera tem tal nível de aquecimento é inevitável que ocorra granizo e não apenas em grande número de pontos como com queda de pedras de maior diâmetro em alguns locais. Por isso, a MetSul Meteorologia adverte que tanto nesta quarta como na quinta o risco de granizo no território gaúcho será atipicamente elevado, não se descartando episódios do fenômeno em pontos isolados com médio a grande tamanho capaz de gerar prejuízos em residências, prédios, automóveis e lavouras.
Não é um cenário de vendavais generalizados, comum quando do avanço de uma linha de tempestades numa atmosfera muito aquecida e de baixa pressão, mas com a pressão baixa e a atmosfera superaquecida avaliamos que devem se formar algumas supercélulas de tempestade e que pela sua natureza podem provocar episódios isolados a muito isolados de vento forte a intenso, inclusive com potencial de danos.
O risco de temporais é maior no Centro, Oeste, Sul, e o Leste do Estado nesta quarta com uma menor probabilidade em cidades mais ao Noroeste e do Norte gaúcho, mas na quinta o risco abrange quase todo o território gaúcho, especialmente pontos da Metade Norte como a Serra. Na sexta-feira, a instabilidade prossegue no Rio Grande do Sul e ainda há risco de temporais isolados, mas a probabilidade de tempo severo gradualmente diminui. Temporais não são descartados nas próximas 72 horas ainda no Leste de Santa Catarina e do Paraná.
Não apenas os temporais podem ser problema no Rio Grande do Sul. Parte do Estado pode ter chuva excessiva com alagamentos. O território gaúcho vai enfrentar uma sequência de dias de instabilidade que vai resultar em altos volumes de precipitação em algumas regiões, acima da média do mês inteiro e até o dobro da média de outubro conforme o município das áreas que terão os maiores acumulados.
O mapa acima mostra a projeção de chuva para sete dias do modelo Icon do serviço meteorológico alemão que ingressou na tarde de hoje, e que está disponível para o assinante da MetSul na seção de mapas com quatro atualizações diárias. O modelo está a indicar chuva excessiva em pontos do Centro, Sul e o Leste do Rio Grande do Sul, em particular no Centro do Estado, nos vales, em Porto Alegre e região metropolitana, parte Norte da Lagoa dos Patos, parte da Serra e no Litoral Norte. O Noroeste e o Norte do Rio Grande do Sul devem ser as áreas com menos chuva e em muitas cidades destas regiões vai chover pouco.