A MetSul Meteorologia alerta que um ciclone muito intenso para os padrões históricos desta época do ano vai se formar entre hoje (3) e amanhã (4) junto ao Sudeste do Rio Grande do Sul e o Leste do Uruguai. Este sistema trará potencial pra transtornos por chuva localmente forte a excessiva, temporais isolados com risco de vendavais e rajadas de vento ciclônico que serão fortíssimas em alto mar e fortes a muito fortes em pontos das costas do Uruguai e do Rio Grande do Sul. 

O ciclone e a frente fria derivada do sistema vão mexer com o tempo em todo o Centro-Sul do Brasil durante esta segunda metade da semana, trazendo primeiro chuva e temporais e, na sequência, queda de temperatura e um alívio na sequência de dias de muito calor.

Ciclogênese começa hoje

Nesta quarta (3), um centro de baixa pressão vai avançar do Norte da Argentina para o Rio Grande do Sul e o Uruguai, aumentando muito a instabilidade sobre o território gaúcho no decorrer do dia e iniciando um processo de ciclogênese (formação de um ciclone).

Áreas de instabilidade devem se formar e atingir todas as regiões do Estado durante o dia com chuva que será irregular e com grande variabilidade de ponto para outro em volumes, mas que, isoladamente, deve ser forte a intensa com pancadas por vezes torrenciais que podem despejar grandes acumulados de precipitação em intervalos curtos.

Ao interagir com o ar tropical, a área de baixa pressão sobre o território gaúcho vai gerar grandes nuvens de desenvolvimento vertical, típicas de tempestade, capazes de provocar temporais localizados em que há risco de granizo isolado e, especialmente, vendavais em alguns pontos. Alguns temporais podem ser de forte intensidade e causar transtornos e/ou danos à população. Todas as regiões do Rio Grande do Sul estão na área de alerta.

Ciclogênese explosiva na quinta

Amanhã (4), a baixa pressão já estará configurada sobre o Atlântico como um ciclone extratropical junto ao Sudeste do Rio Grande do Sul e o Leste do Uruguai e experimentará uma intensificação muito rápida e incomum de se observar em latitudes médias nesta época do ano em situação completamente atípica para fevereiro em nossa região. 

Os mais recentes dados, da madrugada desta quarta-feira, convergem em indicar a possibilidade de uma ciclogênese explosiva durante a quinta-feira. Até ontem, poucos modelos sinalizavam esta tendência. Agora, há um razoável consenso no pacote de modelagem numérica que o sistema adquirirá características de bomba meteorológica com uma intensificação muito rápida. 

Dados indicam a possibilidade de o sistema apresentar pressão mínima central entre 978 hPa e 980 hPa no final da quinta-feira com uma queda entre 25 hPa e 30 hPa em relação ao mesmo horário hoje. Isso preencheria o critério de ciclogênese explosiva em que há um aprofundamento da pressão atmosférica central de ao menos 24 hPa em 24 horas. 

No decorrer da quinta, o ciclone começa a progredir lentamente para Leste-Nordeste em alto mar, no Atlântico, mas ainda traz instabilidade para a maioria das regiões gaúchas, em especial na primeira metade do dia. No decorrer da quinta, algumas áreas já devem começar a apresentar gradual melhoria com aberturas de sol. 

Vento ciclônico começa amanhã

Alerta-se que na quinta-feira permanece o risco de chuva localmente forte a intensa com altos volumes localizados e uma possibilidade, menor, de temporais isolados com vento forte, mais concentrado na primeira metade do dia

A circulação do vórtice do ciclone, o que denominados informalmente na MetSul de a “rosca do ciclone” vai afetar durante a quinta-feira o Sul e o Leste do Uruguai, podendo trazer chuva muito forte e volumosa com altos acumulados, além de fortes a intensas rajadas de vento, em departamentos como Montevidéu, Canelones, Maldonado e Rocha. Em alguns pontos da costa uruguaia, as rajadas poderão passar de 100 km/h. 

Ciclones tradicionalmente têm pouca influência em termos de vento ciclônico no Oeste, Noroeste e Norte gaúcho, mas pontos do Sul e do Leste do Rio Grande do Sul, além do Sul e do Leste do Uruguai, devem ter intensificação do vento e rajadas por vezes fortes entre quinta (4) e sexta-feira (5). 

A previsão da MetSul, com base em todo o conjunto de dados, é que as rajadas devem ficar, em média, entre 60 km/h e 80 km/h na maioria dos pontos, isoladamente superiores, mas no litoral gaúcho, em particular no Litoral Sul, podem ser mais fortes e atingir marcas de 80 km/h a 100 km/h com marcas isoladamente superiores.

Modelo WRF (uma das várias ferramentas de previsão e não prognóstico final da MetSul) projeta rajadas de 100 km/h a 110 km/h para a Barra do Chuí, ao redor de 100 km/h em Mostardas e acima de 80 km/h em Capão da Canoa.

Importante ressaltar que o modelo meteorológico europeu não indica vento muito intenso no continente e sim concentra as rajadas muito intensas em alto mar, o que evidencia a acentuada divergência entre os dados quanto aos reflexos deste sistema. 

Na sexta-feira (5), o ciclone estará sobre o Oceano Atlântico distanciando-se da costa e já a centenas de quilômetros do continente, entretanto a sua circulação de umidade ainda vai trazer períodos de maior nebulosidade e de chuva intercalados com sol na parte Leste do Rio Grande do Sul com rajadas de vento por vezes fortes.

Ciclone origina frente

A frente fria associada ao ciclone vai conseguir progredir muito para Norte e, depois de passar por Santa Catarina e o Paraná entre quinta e sexta, alcançará o Centro-Oeste e o Sudeste do Brasil. Não será um sistema frontal intenso e os volumes de chuva associados na sua chegada não devem ser altos na maioria dos locais, entretanto ao interagir com o ar muito quente na região poderá provocar ocorrências isoladas de tempo severo como vendavais isolados e episódios de chuva localmente torrencial. 

Ar mais frio avançará na retaguarda da frente, trazendo queda de temperatura e um alívio para o intenso calor que vem se registrando no Centro-Sul do Brasil.

Agitação marítima e ressaca

Adverte-se ainda que em razão do ciclone see intenso e evoluir lentamente razoavelmente perto da costa, o mar deve ficar muito agitado no litoral do Uruguai (oleaje) e na costa gaúcha e do Sul do Brasil com alto risco de ressaca que pode ser forte em algumas praias, não se descartando erosão costeira. A navegação será extremamente desaconselhável na costa durante a atuação deste ciclone sob risco de naufrágio.