Afeganistão sofre com o frio em meio à miséria trazida pelo talibã | AFP/METSUL METEOROLOGIA

Ao menos 70 pessoas morreram devido à onda de temperaturas congelantes que atingiu o Afeganistão, informaram autoridades nesta quarta-feira e o clima extremo agrava a crise humanitária neste país assolado pela pobreza.

Desde 10 de janeiro, a temperatura caiu drasticamente em Cabul e em várias outras províncias. A região central de Ghor registrou a menor, -33ºC, durante o final de semana. “Este inverno é o mais frio dos últimos anos”, disse à AFP Mohamad Nasim Muradi, chefe do escritório de meteorologia do Afeganistão.

“A onda de frio deve continuar por mais uma semana ou mais”, disse Muradi. O ministério de gestão de desastres enfatizou que 70 pessoas e 70.000 cabeças de gado – um produto vital nas camadas mais pobres da sociedade afegã – morreram nos últimos oito dias.

Várias estradas nas províncias do Centro e do Norte do Afeganistão foram bloqueadas por fortes nevascas, de acordo com imagens publicadas nas redes sociais. O inverno no país da Ásia é muito rigoroso e são comuns grandes nevascas nas regiões montanhosas.

O frio ocorre sob uma situação humanitária já desastrosa após a tomada do poder pelo regime talibã. Funcionários do alto escalão das Nações Unidas chegaram a Cabul para conversar com autoridades, no momento em que o chefe da ONU expressou preocupação com a criação de um “apartheid baseado no gênero” pelo governo talibã.

Desde que retornaram ao poder, há 17 meses, os talibãs impuseram restrições severas às mulheres, impedindo-as de trabalhar no governo, acessar ao ensino e universidades e visitar parques públicos.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, denunciou “ataques sistêmicos sem precedentes contra os direitos das mulheres e meninas”, que, em sua opinião, “criam um apartheid baseado no gênero”.

Antes de chegar ao Afeganistão, a delegação teve conversas em vários países da região, no Golfo, na Ásia e Europa, para discutir os direitos das mulheres e meninas e o desenvolvimento sustentável. O porta-voz da ONU apontou “um consenso claro sobre o tema dos direitos das mulheres e meninas de trabalhar e ter acesso à educação”.